Política

Após derrota nas prévias, ala de Aécio Neves põe em xeque candidatura Doria

Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Marcelo Camargo/ Agência Brasil

A ala do PSDB coordenada pelo deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), que saiu derrotada nas prévias do partido pretende impor um prazo para que o governador de São Paulo, João Doria, se viabilize sob pena de começar uma articulação para que o PSDB reveja sua candidatura.

Nas prévias, Doria teve 53,99% dos votos e seu principal adversário, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ficou com 44,66%. Durante a campanha, os aliados dos dois sinalizaram que apoiariam o vencedor na disputa eleitoral, mas, menos de um mês depois do resultado, já foi iniciada uma articulação para inviabilizar Doria.

Um jantar na noite desta quarta-feira (16) na residência do deputado federal Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) debateu esse caminho. Eduardo Leite participou dele, assim como Aécio, adversário interno de Doria e um dos que mais operaram para que Leite vencesse.

“Ele [Doria] venceu e agora ele tem legitimidade para construir a candidatura. Nós vamos aguardar. Mas isso não significa que esta candidatura vai existir em qualquer circunstância se ela não se viabilizar lá adiante, tá? Nós temos que aguardar e dar a ele as condições para que ele possa fazer isso, mas continuamos achando que não será simples. O que nós vamos começar a dizer talvez seja o primeiro momento dessa inflexão é de que o Doria ganha condição de viabilizar sua candidatura, não vamos criar dificuldade para isso. Mas nós vamos aí a partir de final de fevereiro e março, quando é o prazo para desincompatibilizações, até para que não haja uma fuga grande de potenciais candidatos do PSDB, nós vamos rediscutir essa candidatura. Se até lá ele demonstrar fôlego, viabilidade, diminuir a rejeição, aumentar a intenção de voto, partidos sinalizarem que podem ficar com ele, isso vai ser obviamente respeitado. Mas se isso não ocorrer o partido tem na convenção a sua instância máxima decisória. É ali que as candidaturas são homologadas. Na prévia passa um indicativo”, disse Aécio à CNN Brasil.

De acordo com ele, o partido poderá rever a candidatura se ela não se viabilizar. “O PSDB pode rever essa posição, pode ir buscar uma outra candidatura. O Eduardo [Leite] ainda está vivo aí. Pode caminhar para alianças, mas agora não seria correto, tá? Eu peço até que registre isso, Caio”, complementou. Antes das prévias Eduardo leite aparecia nas pesquisas com pontuações menores que as de João Doria.

Integrantes da cúpula do partido disseram sob reserva a CNN Brasil que de fato Doria precisa melhorar sua pontuação nas pesquisas para evitar que esse fantasma das pesquisas fique ameaçando sua candidatura, mas dizem considerar natural que isso possa ocorrer apenas após junho, quando ocorrerá a convenção do partido para oficializar a candidatura. O maior receio do comando partidário é que Dória não seja competitivo e tenha menos do que 5% dos votos, votação que o PSDB teve em 2018 com Geraldo Alckmin e que foi a pior de sua história.

A avaliação é a de que um governador de São Paulo, maior colégio eleitoral do país, tem potencial para ampliar esse índice, ainda que não chegue a vencer as eleições. Um dado nesta semana assustou o partido: a pesquisa Ipec deu a Doria 2% das intenções de voto, mesmo índice do deputado federal André Janones, do Avante.

Apoiadores de Doria tem dito que o governador tem feito sinalizações ao grupo que o contesta internamente justamente para evitar que esse movimento cresça. O sinal mais claro nesta semana foi o de que ele apoia que o deputado federal Adolfo Viana, presidente do PSDB-BA, seja o próximo líder da bancada. Viana foi um entusiasta da candidatura de Eduardo Leite e participou do jantar na residência de Abi-Ackel.