Celebridades

Marco Pigossi diz que viveu 8 anos com antigo namorado e que se distanciou do pai

Em entrevista à revista 'Piauí', ator de 32 anos fala sobre longo processo de autoaceitação e percalços até foto publicada em novembro passado revelando namoro com cineasta italiano

Divulgação

Marco Pigossi

O ator Marco Pigossi, de 32 anos, deu um longo depoimento à revista Piauí, no qual relatou a a jornada para assumir sua orientação sexual, desde a adolescência em São Paulo até a vida adulta como galã da Globo. Hoje morando em Los Angeles, Pigossi namora o cineasta italiano Marco Calvani, com quem apareceu em uma foto de mãos dadas em uma praia no Dia de Ação de Graças americano. No testemunho ao repórter João Batista Jr., ele contou que viveu oito anos com antigo namorado e que se distanciou do pai, Oswaldo Pigossi, eleitor de Jair Bolsonaro, após as eleições presidenciais.

No depoimento, Marco contou que não tinha referências gays em sua casa e que achava que sua orientação era algo passageiro. “Eu não tinha referência alguma no meu convívio e, quando assistia à televisão, nada servia como alento. Nas novelas ou nos programas de humor, quase sempre os gays eram retratados de forma caricata, pejorativa. Então, me sentindo solitário e sem amparo, me restava torcer para que fosse apenas uma fase”, explicou ele, que entrou para o teatro aos 15 anos.

Pigossi lembrou que seu primeiro papel de destaque foi em Caras & Bocas, de Walcyr Carrasco, em 2009, vivendo um gay afeminado. “Na minha cabeça, não havia nenhuma margem de chance para eu me assumir. Se fizesse isso, todas as portas se fechariam para mim de forma automática (…) Essa possibilidade me aterrorizava”, lembrou ele, que fez terapia durante a trama três vezes por semana para lidar com os sentimentos conflitantes criados pela situação.

Marco Calvani e Marco Pigossi (Foto: Reprodução/Instagram)

O ator explicou que, por ter uma “aparência heteronormativa”, foi chamado para viver vários galãs em novelas e acabou ficando preso no papel do mocinho. “Estava infeliz por dentro. Seguia me escondendo. Na verdade, eu me fazia passar por um heterossexual por pura e simples manifestação de medo”, desabafou, lembrando um fato que cimentou ainda mais seu medo de assumir sua orientação. “Em 2010, o ano em que emendei Caras & Bocas direto para a novela Ti Ti Ti, li uma entrevista do Silvio de Abreu, autor de telenovelas e então diretor de dramaturgia da Globo, na Folha de S.Paulo.  Ele dizia que um ator assumido era um ‘bobo’, pois a revelação fatalmente prejudicaria sua carreira”, contou.

Pigossi revelou que, em seu doze anos de vida pública, manteve um relacionamento com um homem que durou oito anos, morando na mesma casa, e tentando esconder a relação a todo custo. Em 2012, ele foi vítima de fake news sobre um suposto affair com um ator da novela que fazia, Fina Estampa – alguns sites apontara que ele estaria vivendo um romance com Rodrigo Simas.

“Era mentira absoluta. A matéria não dava os nossos nomes, mas deixava claro de quem se tratava. Chegava a dizer que nós nos ‘pegávamos’ nos bastidores das gravações. Era tudo invenção, mas as pessoas acreditam no que querem acreditar (…)”, disse o ator, que leu a notícia ao chegar de viagem. “Então, tive uma crise de pânico, comecei a tremer e suar. Fui para o banheiro do aeroporto, me tranquei em uma cabine e comecei a vomitar. Liguei para meu parceiro, chorando. Eu dizia para mim mesmo que minha carreira tinha acabado. Não conseguia sair dali. Meu companheiro teve que pegar um voo de São Paulo ao Rio para me buscar”, explicou ele, que passou a tomar remédios para lidar com o pânico.

A terapia ajudou Pigossi a se autoceitar e, como ele afirmou, outras coisas começaram “a tomar outra forma na minha cabeça”. “E então vieram a candidatura e a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Meu pai (Oswaldo Pigossi) votou em Bolsonaro. Durante os oito anos do meu namoro com um homem, minha família sempre soube. Mas meu namorado e eu nunca jantamos com meu pai, que jamais perguntou sobre meu relacionamento”, desabafou.

“Minha vida amorosa era um não assunto. E, quando meu pai votou em Bolsonaro, senti uma dor profunda, uma tristeza profunda (…) Meu pai e eu ficamos sem nos falar durante o ano da eleição – e até hoje temos contatos apenas esporádicos. O abismo, que já era grande, tornou-se ainda maior”, confessou.

Marco Calvani e Marco Pigossi (Foto: Reprodução/Instagram)

Pigossi relatou ainda que a decisão de não renovar com a Globo passou também pela expectativa de que seria menos doloroso se assumir gay e trabalhar como ator morando em outro país – no exterior ele já gravou a série australiana Tidelands e espanhola Alto Mar. O ator também vai ser produtor executivo de um documentário chamado CorPolítica, que acompanhou quatro candidatos a vereador assumidamente LGBTQIAP+ nas eleições brasileiras de 2020: Erika Hilton e William De Luca, de São Paulo, e Andréa Bak e Monica Benicio, do Rio de Janeiro.

Sobre Marco, ele contou que está junto há um ano e meio e que está apaixonado. O namorado avisou que iria postar a foto dos dois juntos nop Instagram. “Eu topei, mas senti uma certa apreensão. Qual seria a reação das pessoas? (…) Postei e fiquei com um frio na barriga. (…)  Recebi mais parabéns do que no dia do meu aniversário”, lembrou.

“Foi uma libertação. Uma festa. Nada como viver às claras, ser o que se é em privado e em público. Talvez os futuros galãs não sintam o mesmo medo que eu senti de perder minha carreira. Bolsonaro trouxe uma onda de ódio inacreditável, mas o efeito colateral foi fortalecer todos nós, gays. Naquele feriado, as respostas foram um alento imenso, o acolhimento de um mundo inteiro. Marco e eu convidamos uns amigos para comemorar. Tomei um porre. E hoje me sinto invencível”, finalizou o ator.