O auge do Brasil no tênis foi com Gustavo Kuerten, que não apenas foi tricampeão de Roland Garros, mas também chegou a liderar o ranking da ATP em dezembro de 2000. Entretanto, após esse período, os torcedores brasileiros ficaram órfãos e nunca mais um tenista brasileiro conseguiu disputar títulos contra os gigantes do circuito. Em conversa realizada recentemente, o ex-tenista Flávio Saretta comentou sobre esse momento, e garantiu que o país não soube aproveitar o legado de Guga.
Apesar do surgimento de alguns nomes, principalmente no feminino mais recentemente, o Brasil continua sem um tenista de elite no circuito profissional. Luisa Stefani e Bia Haddad até conseguiram alguns bons resultados, inclusive nas duplas, mas nunca desafiaram nomes como Serena Williams e Ashleigh Barty, por exemplo. No masculino, o alagoano Tiago Fernandes chegou a despontar como uma promessa, campeão juvenil do Australian Open, mas acabou aposentado sem uma vitória sequer no calendário da ATP.
A entrevista de Flávio Saretta para o blog Betway Insider consegue explicar alguns dos motivos de todo esse fracasso. O ex-tenista argumenta que problemas nos bastidores da modalidade prejudicaram o legado deixado por Guga. Alguns jogadores até tentaram enfrentar a federação, mas a ideia fracassou. “Era uma história para mudar o comando. Os tenistas não tinham força. Se você pegar qualquer país que teve um número 1 do mundo, a força do tênis é muito grande. Absolutamente nada aproveitado por aqui”, critica o tenista contemporâneo de Guga e aposentado em 2009.
Ele ainda lembra que em 2000, quando Kuerten assumiu a liderança do ranking da ATP, os brasileiros começaram a buscar sobre o tênis e deixaram de lado até mesmo a paixão por futebol. Alguns jovens, como foi o caso de Tiago Fernandes, começaram a se dedicar aos torneios. Infelizmente, todo aquele momento ficou apenas no ensaio, pois nada daquela história foi bem aproveitada. O tênis brasileiro voltou a ser de segundo escalão. Essa é a visão de Saretta quando lembra o período.
Importância do ídolo
Entretanto, o paulista tem muitas lembranças positivas da época profissional, principalmente ao lado de Guga. Saretta chegou a vencer o compatriota em uma partida oficial na Costa do Sauípe, e lembra isso de maneira orgulhosa. O auge do jogador foi em 2007, quando ficou com a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos, realizados no Rio de Janeiro. Na conversa com a equipe do site de apostas de tênis da Betway, Saretta exalta a importância de ter um ídolo ao lado.
“Nossa geração, com Meligeni, Guga, André Sá, tinha mais brasileiros competitivos no circuito e tinha um exemplo absurdo que puxou todo esse trem, que foi o Guga. Quando você vê esse cara do teu lado, dividindo quarto, jantando, almoçando contigo, você fala: pô cara, eu posso chegar também”, conta o tenista que chegou em 2003 a ser o 44º melhor do mundo da ATP. Isso mostra que apenas a presença de um ídolo nas proximidades já causa um efeito importante.
A esperança dos torcedores é que esse legado ainda possa ser recuperado, e que mais brasileiros se dediquem ao tênis. Como falamos no início, o feminino tem conseguido bons resultados e isso é um sinal positivo. Luisa Stefani, por exemplo, conseguiu entrar no top 10 do ranking mundial da ATP em duplas. Um feito histórico que ficará marcado na história do tênis brasileiro por um bom tempo.
Outra realidade
Um dos principais desafios para o tênis brasileiro é o de oferecer uma carreira de qualidade. Em uma entrevista realizada para o site UOL, o alagoano Tiago Fernandes explica que desistiu da carreira pelas dificuldades. Ele garantiu que o retorno aos atletas é baixo, o que significa um alto risco para o futuro. Ou seja, mesmo com um futuro promissor, a falta de perspectiva na carreira acabou atrapalhando o jogador.
Isso também acontece no exterior, mas aqui no Brasil é ainda mais complicado. Flávio Saretta quis dizer isso com os problemas entre jogadores e as federações. Afinal, os atletas estão sempre buscando uma carreira melhor, em quando os dirigentes estão de olho nas competições e nos patrocinadores. É um cenário complicado.
A entrevista de Saretta é positiva para entender a visão de um ex-atleta contemporâneo de Gustavo Kuerten. O legado do melhor jogador que o Brasil teve não foi aproveitado, mas isso não significa ser tarde. As mulheres estão mostrando isso, mesmo com todas as dificuldades.