Futebol

Quem foi Josef Bican, lenda que perdeu o posto de maior artilheiro da história para Cristiano Ronaldo

Arquivo/FIFA

Arquivo/FIFA

Neste sábado (12), Cristiano Ronaldo fez um hat-trick na vitória por 3 a 2 do Manchester United sobre o Tottenham, pela Premier League, e se tornou o maior artilheiro da história em jogos oficiais, segundo as contas da Fifa.

De acordo com a entidade máxima do futebol, o português soma agora 807 tentos em partidas oficiais, superando o austríaco Josef Bican, lenda do futebol dos anos 30, 40 e 50, que anotou 805 vezes, segundo os números da Fifa.

Mas, afinal, quem foi Bican, que raramente é citado em discussões sobre os maiores jogadores da história?

Nascido em 1913 e falecido em 2001, o lendário centroavante é lembrado como uma lenda tanto na Áustria, onde defendeu Austria Vienna e Admira Vienna, quanto na República Tcheca.

Seu túmulo possui uma bola como destaque e é constantemente homenageado com ramos de rosas vermelhas e brancas, cores do Slavia Praga, clube pelo qual marcou mais de 500 gols.

Nascido em 1913, em Viena, Bican conseguiu fazer parte da história também fora dos gramados. Durante sua carreira no futebol, peitou o nazismo, quando a Áustria foi anexada pelo regime, e o comunismo, quando implementado na Tchecoslováquia, país que rumou após deixar sua terra natal.

Em 1938, depois da anexação da Áustria por parte da Alemanha nazista, Bican se negou a jogar por sua seleção e decidiu marchar à Tchecoslováquia para jogar pelo Slavia, onde sua capacidade goleadora veio à tona ao ponto de conseguir 395 gols em 217 partidas oficiais com o clube.

Sua excepcional carreira esportiva, no entanto, não evitou com que voltasse a ter problemas com os nazistas, que já tinham ocupado a Tchecoslováquia e desmembrado também a seleção.

Em maio de 1945, Josef não hesitou em fazer parte do movimento da população de Praga contra os nazistas, junto a muitos outros esportistas, entre os quais se encontrava o futuro jogador do Barcelona, Jiri Hanke.

Ao acabar a II Guerra Mundial, a Tchecoslováquia pareceu recuperar a calma, até que em 1948 chegou ao poder o Partido Comunista, que viu com maus olhos o Slavia, clube considerado da burguesia de Praga. O regime fundou o Dukla e deu maior consideração ao Sparta. O Governo aconselhou Bican a afiliar-se ao Partido Comunista. Ele se negou, e pagou por isso.

Acusado de apoiar a burguesia, foi obrigado a abandonar o Slavia em 1949 e ir ao modesto Banik Ostrava, no qual permaneceu por três temporadas, jogando outra pelo Hradec Kralove. Ele não teve permitida sua volta ao Slavia – rebatizado como Dynamo Praga – até 1953, já com 40 anos, pelo qual se aposentou ao final de três temporadas.

Despossuído de todas as honras que corresponderam ao maior goleador da história do país e acusado sempre de desafeto ao regime, Bican, o herói da bola, sobreviveu como motorista de ônibus ou empregado do zoológico.

Sua figura foi absolutamente ignorada e afastada dos holofotes até que a Revolução de Veludom em 1989, acabou com o regime comunista e devolveu a ele o reconhecimento de todo o país.

Após a morte de Bican, em dezembro de 2001, o Slavia, em 2013, tendo em vista o centenário do nascimento dele, resolveu catapultar sua figura com uma homenagem póstuma na qual envolveu uma partida amistosa em que o clube enfrentou seu grande rival da capital, o Sparta.

Hoje, qualquer torcedor de esporte na República Tcheca conhece a lenda de Josef Pepi Bican, o maior goleador da história do futebol e cujo túmulo, no cemitério da capital, se destaca uma bola… E sempre um ramo de rosas vermelhas e brancas.