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PM que atirou e cegou trabalhador durante protesto é identificado após dez meses

Daniel da Silva foi atingido no olho por bala de borracha atirada pela PM durante protesto contra Bolsonaro no Recife — Foto: Hugo Muniz

O policial militar que atirou uma bala de borracha no olho do adesivador de carros Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, durante um protesto contra Bolsonaro (PL) no centro do Recife, em 29 de maio de 2021, foi identificado. A informação foi confirmada, nesta quarta-feira (30), pela Secretaria de Defesa Social (SDS), quase dez meses depois da manifestação pacífica.

O trabalhador sequer estava na manifestação e perdeu o globo ocular esquerdo devido à lesão. O g1 questionou à SDS qual o nome do policial que atirou em Daniel Campelo e se ele foi afastado das funções, mas não recebeu resposta até a última atualização desta reportagem. A SDS também não esclareceu várias questões relacionadas ao ataque.

Além do adesivador, o arrumador de contêiners Jonas Correia de França foi atingido por um tiro e ficou cego de um dos olhos. Nesse segundo caso, o terceiro sargento da PM Reinaldo Belmiro Lins foi apontado como o atirador.

A repressão truculenta culminou na queda do então secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, e do então comandante da Polícia Militar (PM), coronel Vanildo Maranhão. A ordem para dispersar manifestantes teria sido dada pelo Comando Geral da PM, segundo documento oficial obtido pela Globo.

Desde a data do protesto, o governo é questionado sobre de quem partiu a ordem para dispersar de forma violenta, com uso de balas de borracha e gás lacrimogêneo, a manifestação pacífica. São 305 dias e, até a última atualização desta reportagem, o estado não revelou quem autorizou a repressão.

Por meio de nota enviada nesta quarta, o governo informou que o autor do disparo que atingiu Daniel foi identificado através do trabalho conjunto envolvendo o Instituto de Criminalística e Corregedoria Geral da SDS e disse que o inquérito sobre esse caso “está em fase de conclusão do relatório”.

Na época do ataque, a SDS afastou 16 policiais militares. O g1 perguntou se um deles foi o que atirou em Daniel Campelo, mas não obteve resposta.

O advogado Marcellus Ugiette, que representa o adesivador, disse que não foi informado pela polícia sobre a identificação do autor do disparo. Ele lembrou que, na época, levantou-se a hipótese de que Daniel tivesse sido atingido por um estilhaço de uma bomba e não por uma bala de borracha.

“Nunca tive uma dúvida se quer de que foi uma bala de borracha. Nem eu, nem Daniel. Um estilhaço não teria feito o estrago que fez”, declarou o defensor.

Outras investigações

A SDS também disse, nesta quarta, que outros inquéritos sobre pessoas atingidas no mesmo dia já haviam sido finalizados e encaminhados ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), mas não detalhou que investigações foram essas.

Sobre a violência policial no protesto pacífico, sete processos administrativos disciplinares (PADs) foram instaurados na Corregedoria da SDS. Desses, cinco foram concluídos e dois seguem em andamento, segundo o governo.

Duas das ações concluídas aguardam parecer técnico da Corregedoria Auxiliar Militar, já que os autores das agressões são PMs. Outras três estão em fase de análise para elaboração de parecer do Corregedor Geral.

No âmbito da Polícia Militar, o inquérito policial militar instaurado foi concluído com o indiciamento, por prática de crime militar, quatro dos policiais investigados, sendo dois oficiais e dois praças. Todos eles foram submetidos a processos disciplinares, segundo a SDS.

Os autos do inquérito foram encaminhados à Central de Inquéritos do Ministério Público, para análise e possível oferecimento da denúncia.

g1 questionou quais foram os crimes militares pelos quais os PMs foram indiciados, e quem são os acusados, além de quais foram os outros inquéritos concluídos pela Polícia Civil, mas não houve resposta.

Outro PM

Outro homem também perdeu a visão de um dos olhos ao ser atingido por uma bala de borracha no mesmo protesto. Assim como Daniel Campelo, o arrumador de contêiners Jonas Correia de França, de 29 anos, não estava na manifestação, e voltava do trabalho quando foi surpreendido pela repressão violenta.

O responsável por atirar no olho dele foi o terceiro sargento da PM Reinaldo Belmiro Lins. Ele é réu na Justiça por lesão corporal grave que “produziu debilidade permanente de sentido”, com o agravante de o crime ter sido cometido por um militar. Se condenado, pode pegar cinco anos de detenção.

Reinaldo Belmiro Lins também foi indiciado por omissão de socorro, por, momentos antes de atirar em Jonas, ter negado socorro a Daniel Campelo, primeiro atingido no olho.

Envolvidos na agressão

 

Poucos dias depois do protesto, 16 policiais militares foram afastados devido à ação violenta. São eles:

Policiais do Batalhão de Choque

  • Segundo sargento Caetano Marcelino da Silva;
  • Terceiro sargento Daniel José dos Santos;
  • Terceiro sargento Ivson Pereira da Silva;
  • Terceiro sargento Everlane Laine Tavares Silva;
  • Terceiro sargento Reinaldo Belmiro Lins;
  • Terceiro sargento Rodrigo Félix de Lima;
  • Terceiro sargento Jairton Galdino da Silva;
  • Cabo Wellington José da Silva;
  • Cabo Severino Everton Lira de Lima.

 

Oficiais

  • Tenente Tiago Carvalho da Silva, do Batalhão de Choque;
  • Capitão Élton Máximo de Macedo, do Batalhão de Choque;
  • Major Gilson Monteiro da Silva, do 13° Batalhão.

 

Policiais da Radiopatrulha

  • Sargento Ronaldo Santos de Lima;
  • Soldado Paulo Henrique Ferreira Dias;
  • Soldado Aberlryton José Mendes de Aguiar;
  • Soldado Lucas França da Silva.