Brasil

Em audiência, delegada diz que filhos de Flordelis estavam ‘descontentes’ com poder assumido por Anderson

São julgados dois filhos do casal, além de um PM e sua esposa. O julgamento de um dos réus foi adiado pois o advogado passou mal. Flordelis será julgada em maio. Primeira a depor foi a delegada Bárbara Lomba, que iniciou as investigações.

Reprodução

Flordelis e o marido Anderson do Carmo. Os dois tinham 55 filhos

O julgamento de dois filhos da ex-deputada federal Flordelis, de um PM e sua esposa suspeitos de participação no assassinato do pastor Anderson do Carmo começou por volta das 11h15 desta terça-feira (12).

O julgamento de André Luiz de Oliveira, filho de Flordelis, que estava previsto para esta terça, foi adiado pois o advogado passou mal.

Devido ao grande número de réus, a sessão precisou ser desmembrada e Flordelis só será julgada no dia 9 de maio.

A primeira testemunha ouvida foi a delegada Bárbara Lomba, que foi titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) e iniciou as investigações da morte de Anderson do Carmo.

Ela lembrou dos primeiros dias da investigação, focando nas figuras dos dois já condenados pelo crime: Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cézar dos Santos de Souza, condenados em novembro de 2021.

Por volta das 15h15, começou o depoimento da segunda testemunha. O delegado Allan Duarte, que também esteve à frente da DHNSGI, deu continuidade às investigações e indiciou Flordelis como mandante do crime.

Disputa por poder

A delegada Bárbara Lomba afirmou que um dos principais motivos do descontentamento de Flordelis e outros filhos com o pastor Anderson era o enorme poder adquirido por ele, que cresceu após a pastora ser eleita deputada federal em 2018.

“Embora não tenha assumido nenhuma função formal, ele era praticamente o deputado. Ele fazia a articulação política dentro do parlamento, para eleições municipais. Ele tinha objetivos: conseguir tantas prefeituras, quantos municípios. Havia mensagens dizendo: ‘Você tem que olhar para tal pessoa, sentar do lado dele’. Ele direcionava as atitudes dela”, contou Bárbara Lomba.

Ela detalhou a questão.

“O grupo que ficou descontente com o que o Anderson estava representando queria deixar claro que tudo foi construído com a imagem da Flordelis. No meio político, havia pessoas que tratavam com ele, não com ela. Há uma decisão que a ação de Anderson precisava ser interrompida, e não podia ser pela separação”, disse a delegada

Lucas foi o primeiro levado para a delegacia, segundo ela. Depois disso, ele revelou a participação de Flávio, ainda no dia do crime, 16 de junho. No dia do funeral do pastor, uma surpresa: havia um mandado de prisão contra Flávio.

“Tomo a decisão de cumprir esse mandado de prisão contra o Flávio. No próprio dia 17, estava havendo o funeral da vítima, e eu determino que a equipe vá até o cemitério e capture o Flávio. Eu não queria o risco de se perderem provas. O telefone do Flávio foi descartado na ocasião”, afirmou a delegada.

Lomba, no interrogatório, confirmou que Lucas foi indiciado pela participação no crime por ter ajudado a conseguir a arma que foi utilizada para matar o pastor Anderson do Carmo.

“Flávio vem para a delegacia nessas circunstâncias. Lucas começa a dizer para o Flávio que ele o havia consultado sobre a compra de uma arma, se achava que a arma seria boa ou não. Houve um pedido de auxílio ao Lucas para que ele comprasse uma arma. Ficou comprovado que o Lucas ajudou na compra dessa arma”, disse a delegada.

Ela contou ainda que a participação de Flávio como executor foi comprovada por provas técnicas.

“O cumprimento do primeiro mandado de busca resultou na apreensão da arma de fogo usada no crime, que estava no quarto do Flávio. O ICCE, mais à frente, confirma que aquela arma no quarto do Flávio foi utilizada na execução”, afirmou.

Julgamento

O julgamento é presidido pela juíza Nearis dos Santos Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói. Os crimes que serão julgados são:

  • homicídio triplamente qualificado
  • tentativa de homicídio
  • uso de documento falso
  • associação criminosa armada
  • falsidade ideológica

Antes do início do julgamento houve um bate-boca envolvendo Janira Rocha, advogada da Flordelis, e a acusação. Janira disse que o pastor Anderson praticou abusos sexuais, verbais e patrimoniais contra mulheres da casa, e que vai acompanhar o julgamento como estratégia da defesa de Flordelis.

Ângelo Máximo, advogado e assistente de acusação da família do Anderson do Carmo, afirmou que é uma acusação covarde, e que espera que todos que estão sendo julgados nesta terça sejam condenados.

Lucas Cézar dos Santos de Souza e Flávio dos Santos Rodrigues, filhos de Anderson, durante o julgamento em que são acusados da morte do pai. — Foto: Nicolás Satriano/g1

Já foram condenados: 

Flávio dos Santos Rodrigues, acusado de atirar no padrasto, foi condenado a 33 anos e dois meses de prisão por homicídio triplamente qualificado, porte ilegal de arma, uso de documento ilegal e associação criminosa armada.

Já Lucas Cézar dos Santos Souza, apontado por comprar a arma do crime, foi condenado a sete anos e meio por homicídio triplamente qualificado. Sua pena foi reduzida por ter colaborado com as investigações.

Filhos de Flordelis são presos por suspeita no envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo — Foto: Reprodução / TV Globo

Flordelis foi presa em agosto de 2021, 48 horas após ter tido o mandato cassado, e sempre negou participação no crime.

Antes de ser presa, ela fez um vídeo em que dizia que estava sendo presa por um crime que não cometeu:

“Olá gente, chegou o dia que ninguém desejaria chegar. Estou indo presa por algo que eu não fiz, por algo que eu não pratiquei. Eu não sei para quê, mas estou indo com força e com a força de vocês. Orem por mim. Orem, orem. Uma corrente de oração na internet. Busquem a deus, está bom? Um beijo, amo vocês”.

Adriano dos Santos Rodrigues (filho biológico)
Adriano é um dos filhos da deputada federal Flordelis — Foto: Reprodução

Responde por: uso de documento falso e associação criminosa armada.

A denúncia afirma que ele auxiliou no episódio da carta falsa em que Lucas assumia a autoria dos disparos.

André Luiz de Oliveira (filho afetivo)

O julgamento de André Luiz, inicialmente previsto para esta terça, foi adiado pois o advogado passou mal.

Ele responde por: uso de documento falso e associação criminosa armada.

Segundo a Justiça, André recebeu de Flordelis uma mensagem, em outubro de 2018, em que ela pedia ajuda para criar um plano para ajudar a matar o pastor Anderson do Carmo.

Em outra troca de mensagens, de dezembro de 2018, Flordelis conversou com o filho André Luiz de Oliveira, que escreveu: “Mãe, eu estou com a senhora. Não dá pra eu fazer muita coisa, mas estou com a senhora”.

Carlos Ubiraci Francisco da Silva (filho afetivo)

Responde por: homicídio triplamente qualificadotentativa de homicídio e associação criminosa armada.

Carlos é citado por participação no planejamento da morte.

Marcos Siqueira Costa

Responde por: uso de documento falso e associação criminosa armada.

Segundo as investigações, o ex-policial militar Marcos teria auxiliado a esposa, Andrea, no episódio da carta falsa em que Lucas teria revelado que Mizael, outro filho adotivo de Flordelis, teria oferecido a ele um emprego e um carro em troca de um “susto” na vítima, o pastor Anderson do Carmo.

Andrea Santos Maia
Conversas entre Flordelis e Andreia Santos Maia, mulher do policial Marcos Siqueira — Foto: Reprodução

Responde por: associação criminosa e uso de documento falso.

Andrea é acusada de fraudar a carta em que Lucas confessou ter matado de Anderson do Carmo.

Próxima fase

No dia 9 de maio, na segunda sessão do júri, também a partir das 9 horas, além de Flordelis, também serão julgadas sua filha biológica Simone dos Santos Rodrigues; a neta, Rayane dos Santos Oliveira; e a filha afetiva Marzy Teixeira da Silva.