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Aos 61 anos, homem é aprovado em universidade após estudar com o apoio de netas

Mais de 30 anos após abandonar a sala de aula, o ferroviário aposentado Antônio Jorge Dinis Almeida viu algo inesperado acontecer: ser aprovado para uma vaga no curso de Turismo, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), aos 61 anos.

A rotina de estudos que o levou até a aprovação contou com o apoio das duas netas do maranhense, que estudavam os conteúdos junto com o avô. Na entrevista acima ao g1o aposentado conta como foi a trajetória até a aprovação no vestibular.

Esta foi a primeira vez que o maranhense havia realizado as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A vontade de retornar à sala de aula teve o apoio da família, mas em especial, das duas netas de ‘coração’ do aposentado. As gêmeas Yasmin Silva da Costa e Yngridy Silva da Costa, de 22 anos, foram responsáveis por criar uma rotina de estudos com o avô.

“Eu escutava histórias, mas nunca pensei que pudesse acontecer comigo, principalmente desse jeito. Sempre olhei gente mais jovem que tenta duas, três até cinco vezes e não passa, e para mim, que passou pela primeira vez é algo muito especial”, conta emocionado.

 

Aos 61 anos, maranhense aposentado é aprovado no Enem após estudar com o apoio das duas netas gêmeas: ‘Algo muito especial’ — Foto: Arquivo pessoal

Trajetória até a universidade

 

O caminho para aprovação começou de forma despretensiosa, com o sonho do maranhense em concluir o Ensino Médio, por meio de um curso de Educação de Jovens e Adultos (EJA), após ter se aposentado. O maranhense trabalhou por mais de 33 anos como auxiliar de maquinista.

Aos 16 anos, Antônio Jorge precisou abandonar a sala de aula para ajudar a família financeiramente, após a morte do pai. Ao g1, o aposentado maranhense conta que, inicialmente, não tinha a intenção de realizar as provas do Enem, principal porta de entrada para vagas em cursos na UFMA e que a ideia surgiu, após concluir o EJA em 2021.

“Eu ainda não tinha o ensino médio completo e através do EJA foi que eu terminei com a ajuda dos meus familiares. Depois que eu me aposentei que veio a ideia de concluir. E aí, com a ajuda delas [das netas], eu consegui o êxito. Depois que eu peguei o certificado, ficou aquele negócio. E aí, conversando com elas, em casa, perguntaram porque não fazer o Enem. E eu disse, ‘porque não? Vamos tentar'”, conta.

 

A rotina de estudos tinha o apoio das duas netas gêmeas do aposentado. — Foto: Arquivo pessoal

Apoio das netas

A preparação para a realizar a prova do Enem aconteceu simultaneamente com a finalização do curso do EJA. Antônio Jorge Dinis explica que as duas netas é que sempre tiveram um olhar diferente para a rotina de estudos, o preparando despretensiosamente, para realizar o vestibular.

“Quando eu fiz [o vestibular] mas eu não estava muito com aquela cabeça de ‘vou passar’. Elas [as netas] me deram ânimo e me disseram que minhas notas estavam boas, porque eu não achava que iria conseguir” relembra o aposentado maranhense.

Yasmin Silva da Costa, explica ao g1, que para ajudar o avô nos estudos, fazia videochamadas diariamente e até chegou a criar uma tabela com as notas de corte dos cursos na UFMA para o ajudar na escolha. Segundo a estudante, o aposentado chegava a estudar cerca de 2h por dia.

As duas jovens não são netas biológicas do aposentado, mas o amor e a gratidão de uma vida inteira dedicada a elas, foi o principal combustível para o ajudar nessa jornada. Yasmin explica, ainda, que por ser estudante de direito, dava aulas para avô de disciplinas na área de humanas e a irmã, que é estudante do curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia, na área de exatas.

“Quem encapou os nossos livros de escola foi o vovô. Apresentações escolares, ele e a nossa avó sempre iam, se tinha alguma coisa interessante relacionada à cultura, ele sempre levava a gente. Não tinha maneira melhor de retribuir, o que ele sempre fez por nós, do que ajudando ele a realizar o sonho dele”, disse Yasmin Silva.

 

O aposentado Antônio Jorge Dinis ao lado das duas netas, Yasmin e Yngridy Silva e do filho. — Foto: Arquivo pessoal

O reencontro com a sala de aula deve acontecer no segundo semestre deste ano, devido ao prazo apertado para a inscrição na UFMA. O aposentado conta que está ansioso para começar as aulas e aconselha as pessoas, que estão na mesma idade dele, a não desistirem do sonho em fazer um curso superior.

“Não desanimem, sigam em frente. E que eles possam, de um jeito ou de outro, se juntar com pessoas que queiram ajudar, como aconteceu comigo. Pessoas me ajudaram, eu consegui, a surpresa foi essa já que eu nunca pensei que pudesse acontecer assim desse jeito. Se você tiver uma mente sadia, uma mente boa, você estuda e você faz qualquer coisa”, disse o aposentado.