Política

Rede Sustentabilidade anuncia apoio a Lula nas eleições deste ano

Integrantes do partido dizem que apoio representa 'maioria' da sigla; filiados poderão apoiar outros candidatos. Pesquisa de março mostrou Lula com 43% das intenções de voto.

O partido Rede Sustentabilidade anunciou nesta quinta-feira (28) apoio formal à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência.

Kevin Silva/g1

Ato da Rede Sustentabilidade para anunciar apoio a Lula nas eleições

Durante o evento, lideranças do partido disseram que o anúncio representa a “maioria” da sigla. Ffiliados poderão apoiar outros candidatos.

O anúncio foi feito em um ato em Brasília do qual participaram representantes da Rede, entre eles o porta-voz do partido, Wesley Diógenes, e o senador Randolfe Rodrigues (AP), e também do PT, entre os quais Lula, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e os ex-ministros Luiz Dulci e Aloizio Mercadante.

No ato, os integrantes da Rede entregaram um documento com propostas para o programa de governo de Lula.

Pesquisa Datafolha divulgada em março mostrou Lula com 43% das intenções de voto, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), com 26% dos votos.

Discurso de Lula

Durante o discurso aos integrantes da RedeLula voltou a dizer que o presidente Jair Bolsonaro não está alinhado aos preceitos católicos e evangélicos e se comporta como “fariseu”.

Na última terça (26), em entrevista a youtubers, Lula já havia dito que a vida de Bolsonaro “não é condizente” com a de um cristão e que o presidente “não acredita em Deus”.

“[Bolsonaro é] um cidadão que jamais deveria ter chegado à Presidência porque ele mente todo dia. Ele mente, inclusive, utilizando o nome de Deus em vão. Ele não é evangélico, ele não é católico. É um fariseu. É uma pessoa que se utiliza da boa-fé de milhões e milhões de brasileiros evangélicos e católicos que votaram nele”, declarou.

O ex-presidente também afirmou que Bolsonaro foi eleito presidente em 2018 com base “nas mentiras, no ódio e na provocação”.

“Ele pensa que vai se reeleger assim. Não vai se reeleger. Eles dizem aqui todo dia: ‘Bolsonaro está preparando um golpe, Bolsonaro vai dar golpe’. Vai ter um golpe nesse país: dia 2 de outubro, o povo brasileiro vai dar um golpe no fascismo e vai restabelecer a democracia nesse país”, completou Lula.

O ex-presidente também comentou a conclusão do Comitê de Direitos Humanos da ONU segundo a qual o ex-juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato violaram os direitos de Lula. “Hoje eu estou alegre. Esta decisão da ONU, para mim, foi uma lavagem de alma extraordinária”, afirmou.

Articulação

O apoio da Rede a Lula encontrou resistência em parte dos filiados. Entre os integrantes que demonstraram insatisfação com Lula estão a ex-ministra Marina Silva e a ex-senadora Heloisa Helena, ex-filiadas ao PT.

As duas não participaram do ato desta quinta-feira e, durante os discursos, Lula e Gleisi Hoffmann fizeram referências a Marina Silva.

“Minha relação com a Marina é muito antiga, muito grande. Às vezes, eu não sei por quê ela demonstra um momento de raiva”, afirmou Lula, acrescentando que gostaria que a ex-ministra estivesse presente ao ato desta quinta.

A presidente nacional do PT disse que Marina é um dos quadros mais importantes da Rede.

Segundo Wesley Diógenes, porta-voz da Rede (o equivalente a presidente na estrutura interna do partido), o evento mostrou que a maioria do partido está alinhada a Lula.

“Há contrários [ao apoio] e é importante dizer que nós respeitamos. Todo esse encontro demonstra que quase a totalidade do partido está com Lula. Enxergamos a candidatura do PT como a única capaz de superar o que estamos vivendo”, disse.

Wesley Diógenes afirmou que a Rede aprovou uma resolução que permite a filiados declarar apoio a candidatos diferentes dos definidos pela direção nacional do partido. Há também um artigo que prevê situações como essas no estatuto, documento que prevê regras de funcionamento, da federação partidária entre Rede e PSOL.

O estatuto da federação diz que os partidos “mantêm suas respectivas autonomias, de acordo com os ditames da Constituição Federal, e poderão, mediante decisão de suas direções nacionais, deliberar acerca de posicionamento público de filiado que divirja da orientação eleitoral da federação”.

“Temos esses dois dispositivos para os insatisfeitos apoiarem, por exemplo, Ciro [Gomes]. Temos respeito por eles e eles por nós”, completou.

O documento entregue a Lula

No documento entregue a Lula, a Rede sugere que um eventual governo aprove “com urgência” uma reforma tributária “sustentável e progressista”.

A proposta, segundo as lideranças da Rede, deverá ser baseada nos “princípios da simplificação do sistema, da progressividade, da transparência, do equilíbrio federativo e da sustentabilidade e transição para a economia de baixo carbono”.

O partido sugere ainda que Lula inclua no programa de governo os seguintes compromissos:

  • criação de alíquotas progressivas para um imposto federal sobre herança e doações;
  • alíquotas entre 0,5% e 1% para o imposto sobre grandes fortunas – que será cobrada em caso de fortuna superior a R$ 10 milhões;
  • acabar com a isenção total de lucros e dividendos no Imposto de Renda e dos juros sobre capital próprio.

Além disso, as lideranças pedem que Lula se comprometa comprometa a aprovar direitos para os trabalhadores de aplicativos.

Outro ponto é a defesa da promoção de um “dia do revogaço”, revogando todos os decretos e portarias anti-indígenas e antiquilombolas do governo Jair Bolsonaro, e a criação do Ministério da Causa Indígena – já defendida por Lula no início do mês.

PSOL

Lula também enfrenta resistência em parte do PSOL, que já oficializou a criação da federação partidária com a Rede.

A sigla decidirá neste sábado (30) se apoiará Lula ou lançará o deputado federal Glauber Braga (RJ) como candidato a presidente.

A direção do partido trata como certa aprovação da aliança com o PT e já anunciou que Lula e Gleisi estarão presentes em um evento após o encontro nacional da legenda.