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Visita a City e United, tecnologia de NBA e plano ambicioso: os bastidores de como SAF no Atlético-MG virou ‘caminho sem volta’

ESPN

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Atlético-MG e América-MG estarão em lados oposto em campo na Conmebol Libertadores nesta terça (3), às 21h30 (de Brasília). Fora de campo, porém, os rivais de Belo Horizonte parecem ter um caminho em comum para o futuro: o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

O Coelho já chegou, inclusive, a ficar perto de fechar negócio com um investidor, a Kapital Football Partners, dos Estados Unidos, mas o acordo não foi concluído. O Atlético, por sua vez, não chegou a tal ponto, mas enxerga a SAF como um “caminho sem volta” no Brasil.

A definição é de Rubens Menin, um dos nomes mais fortes dos bastidores atleticanos. Investidor que auxiliou o clube na montagem do atual elenco e um dos membros do grupo dos chamados “4 R’s”, ele concedeu entrevista exclusiva ao ESPN.com.br.

“Da mesma forma que a Liga é um caminho sem volta, a SAF é a mesma coisa. A SAF é complexa, tem que fazer com muita sabedoria. É uma parceria que começa com um prazo muito longo. Os interesses precisam ser muito bem convergidos. O próprio clube precisa entender o que é a SAF”, afirmou Menin, revelando que os movimentos dentro do Atlético-MG por essa estrutura devem ter desdobramentos em breve.

“Ela é extremamente positiva. A tendência natural é que os clubes migrem para isso, cada um no seu tempo. Tenho certeza que, neste ano, algo dentro do Atlético-MG será definido pró-SAF”.

Mesmo com uma posição pública a favor da Sociedade Anônima, o empresário defende uma evolução gradativa no clube para que os estudos possam satisfazer às diferentes correntes que compõe o Conselho Deliberativo. Para isso, a ordem é estruturar um modelo que atenda ao Atlético-MG naquilo que é definido por Menin como um projeto esportivo estruturado e de longo prazo.

Sem a urgência que foi vista no rival Cruzeiro, por exemplo, conselheiros atleticanos têm viajado para observar formas e modelos de clube-empresa adotados em outros países.

Uma das viagens foi à Inglaterra, onde os mineiros estiveram em Londres com representantes do Grupo City, que demonstra interesse na compra de um clube brasileiro. Segundo apuração da ESPN, o Bahia tem um acerto verbal com o conglomerado e aguarda a chegada da proposta formal.

Além da estrutura do “City Football Group Limited”, empresa que é acionista majoritária de Manchester City (Inglaterra), New York City (Estados Unidos) e outros vários times, os conselheiros do Atlético ainda conheceram as instalações dos Citizens, assim como do rival Manchester United.

Segundo Menin, emissários do City também vieram ao Brasil para conhecer a estrutura que o Atlético construiu e que vem rendendo frutos dentro de campo.

“Estivemos em Londres com o Grupo City. Nós fomos ao Manchester United, ao Manchester City, que é um clube modelo. Eles têm uma estrutura fantástica. Eles estão ligados no Atlético-MG, que está sendo muito bem visto no futebol mundial. Eles vieram para cá conhecer as instalações também”, afirmou Menin, que esfriou os rumores sobre um acerto com o Grupo City pela SAF atleticana.

Ao menos por enquanto.

“Por enquanto é só isso, mas é uma situação que pode evoluir. Mas ainda não tem nada muito avançado. Nós fomos procurados por diversos players, mas sem algo definido”, disse Menin.

“Nós levamos de maneira superficial na reunião do Conselho, mas vamos levar de maneira mais profunda nas próximas reuniões. Assim, o Conselho pode tomar a melhor decisão, que acho que será pró-SAF. Eu sou otimista que as coisas caminhem e que possam estar definidas daqui para frente”.

Segundo apurou a ESPN com fontes de bastidores no Atlético-MG, o processo de construção de modelo de SAF tem sido conduzido pelos chamados 4’Rs, grupo de conselheiros formado por Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador, que têm investido pesado no futebol do clube nos últimos anos.

Mesmo que as conversas ainda sejam tratadas com cautela nos corredores da sede social e administrativa do clube, no bairro de Lourdes, há otimismo para que o projeto de constituição de uma Sociedade Anônima do Futebol avance sem grande objeção. Isso deverá acontecer em grande parte pela confiança nas pessoas que conduzem o modelo de negócio que será apresentado aos conselheiros.

“Nossos estudos estão sendo feitos. Existe uma série de possibilidades. O Atlético-MG tem um patrimônio muito grande. A nossa Arena valerá R$ 1 bilhão, no mínimo, temos 50% do shopping (Diamond Mall) que vale entre R$ 300 e R$ 350 milhões. Temos o centro de treinamento que vale R$ 300 milhões. Nenhum clube tem isso. Temos um plantel muito valorizado, que, na nossa avaliação, vale entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão”.

A cautela adotada na elaboração do projeto da SAF baseia-se, principalmente, no resguardo do patrimônio que é hoje da associação. É exatamente essa transferência de bens que tem sido recusada dentro do Atlético-MG.

“Existe um modelo no qual você transfere tudo para SAF. Eu, pessoalmente, estudo um caminho de vender apenas o elenco, a marca e deixar fora da SAF o patrimônio, que seria Arena e CT. Claro que a SAF valeria menos, mas teríamos o nosso patrimônio. O Atlético-MG não quer vender a maioria das ações. Queremos preservar o nosso direito de gestão. Isso ainda está sendo modelado”, detalhou Menin à ESPN.

“Eu prefiro um modelo híbrido. Vender, por exemplo, só o esporte e preservar o patrimônio. Tudo isso varia. Posso vender 100% e seria uma grana danada, mas quem resolverá é o Conselho. Eu não venderia tudo. Venderia por um valor que interesse”.

Essa busca pelo formato ideal é o que tem feito os conselheiros do Atlético rodarem o mundo e se debruçarem em estudos de projetos. Além da Inglaterra, os mineiros estiveram também nos Estados Unidos, conhecido como epicentro do modelo de produção do esporte aliado com o entretenimento.

“Nós fizemos um trabalho muito grande de pesquisa nos Estados Unidos, mas não só no futebol. Em outros esportes também. O que nós vemos é que essas associações estão muito longe da gente. Vou dar um exemplo: o que você tem de mais valioso é o atleta. Lá fora, o centro de preparação é feito para que o atleta fique o mínimo fora de campo. Aqui tem atleta que fica dois meses fora e com um tratamento totalmente ultrapassado.”

“A NBA, por exemplo, tem jogo dia e dia não. Os atletas quase não perdem jogos. Tem uma tecnologia muito grande. Visitei centros de treinamento e fiquei impressionado em termos de tecnologia. Nós temos que trazer tecnologia. O CT do Atlético é o mais avançado do Brasil e está muito longe dos melhores de outros lugares do mundo. A estrutura do Manchester City é maluca. Centro médico, médicos. A gente quer que as pessoas tragam isso ao Atlético.”

Essa expertise é tratada por Rubens Menin como o pilar daquilo que o Atlético procura para avançar nas conversas com algum investidor interessado no futuro. É por isso que o empresário de 66 anos, dono de uma fortuna avaliada em R$5,5 bilhões, segundo a revista Forbes, não pensa em adquirir uma eventual SAF atleticana.

Fundador da construtora MRV, empresa na qual ocupa o posto de presidente do conselho, Menin entende que a Sociedade Anônima do Futebol que pode ser criada pelo Galo deve ser vendida a um grupo que tenha um histórico importante no esporte e que possa entregar ao clube um projeto de longo prazo.

“A SAF precisa ser de um player que traga vantagem competitiva ao Atlético. Se eu compro o clube, que vantagem competitiva eu entrego? Ajudo no que eu posso, mas não acrescentaria mais nada. O Atlético-MG precisa trazer alguém que faça a diferença”, disse o empresário.

“O clube está em boa condição, a situação equacionada. Mas é preciso fazer as coisas com inteligência. É o caso do Ronaldo no Cruzeiro. Ele é um cara que conhece futebol. Já mudou o Cruzeiro. É necessário ter muito mais do que dinheiro na SAF.”

Enquanto não avança no projeto de virar Sociedade Anônima, o Atlético entra em campo nesta terça como vice-líder do grupo D, com os mesmos cinco pontos do Independiente Del Valle, do Equador. Já o América é lanterna da chave, com um ponto, atrás também do Tolima, da Colômbia, que tem quatro.