Em entrevista ao Encontro com Fátima Bernardes, o jornalista disse que não tinha ideia da gravidade do ataque, mas está aliviado
Em sua participação no programa Encontro com Fátima Bernardes, transmitido pela TV Globo, nesta segunda-feira (9), o repórter e editor Gabriel Luiz, de 29 anos, que foi brutalmente esfaqueado por assaltantes, em 14 de abril, relatou os momentos de pânico vividos durante a ação dos criminosos e mencionou a alegria pela recuperação, sobretudo após receber alta hospitalar na última sexta-feira (6).
Na entrevista, que durou cerca de 17 minutos, o jornalista afirmou que é uma dádiva estar vivo e demonstrou alívio. Gabriel disse ter visto recentemente, pela primeira vez, as imagens do ataque e, até então, não sabia dimensionar a gravidade da agressão.
“Na hora, não percebi que era um assalto, achei que era alguém brincando comigo. Foi tudo muito rápido, as imagens ficam passando pela minha cabeça. Teve uma hora que eu pedi: ‘Pelo amor de Deus, me deixem em paz. Levem tudo e vão embora’. Mesmo ferido, alguma coisa dentro de mim dizia que eu não ia morrer”, relembra Gabriel.
Ele contou que está bem e recupera-se na casa da família, mas confessa receio de retornar à antiga residência. “Às vezes, fico assustado. Não quero voltar ao lugar onde estava. Algumas pessoas sabiam onde eu morava e me enviavam dossiês”, narra. “Um dia, cheguei a receber uma marmita sem identificação nenhuma. Meu pai, como é policial, me alertou para não comer, pois poderia estar envenenada. Tudo me leva a não voltar mais lá”, detalhou.
O jornalista destacou também que, apesar de ter sido treinado pelo pai para se proteger em situações como essa, não percebeu a aproximação dos criminosos no momento do assalto, mesmo que sua intuição indicasse que algo estava errado.
Recuperação
“Eu senti que havia quatro pessoas se aproximando por outro lado da rua. Depois que elas passaram, fiquei tranquilo. Mas minha intuição era que tinha algo estranho. Dito e feito. Naquele dia, eu estava querendo ficar sozinho. Tinha saído para comemorar a promoção no trabalho de um amigo. Eu quero muito virar a página logo, quero viver muito mais”, ressaltou o repórter.
Durante o programa, ele recebeu homenagens de colegas de profissão e relembrou os momentos da internação. “Estou redescobrindo algumas cicatrizes. Tinha que falar comigo mesmo para aguentar o tranco, o médico falou: ‘Eu fiz a minha parte e você tem que fazer a sua’. Era um processo de recuperação com o meu eu. Era preciso ficar com a cabeça no lugar”, detalhou.
Gabriel entrou na TV Globo Brasília como estagiário em 2014. Ele trabalha atualmente na primeira edição do telejornal DFTV. “Meu sonho era trabalhar na Globo. Minha vida inteira foi planejando isso e deu tudo certo”, revelou.
O crime
A PCDF deteve os dois suspeitos de terem atacado o editor com pelo menos 10 facadas. Os criminosos foram levados à delegacia no dia 15, menos de 24h após o crime. A corporação confirmou que o caso se trata de uma tentativa de latrocínio.
Em entrevista coletiva, o delegado Petter Fischer Ranquetat, da 3ª DP (Cruzeiro), disse que José Felipe Leite Tunholi, 19 anos, e o comparsa, de 17, viram no jornalista uma potencial vítima e decidiram assaltá-lo. José Felipe foi acusado de tentativa de homicídio e corrupção de menores.
Quando se aproximaram de Gabriel, o adolescente lhe aplicou um mata-leão – golpe que consiste em apertar o pescoço da vítima com os braços –, enquanto José Felipe desferiu as facadas. A dupla fugiu levando o celular e a carteira da vítima, com R$ 250. Eles retiraram o dinheiro e, depois, descartaram os objetos na rua.
“Eles não conheciam o Gabriel. Só depois viram quem era a vítima e a repercussão do caso. O maior fez planos de fugir para Paracatu (MG), mas conseguimos evitar e detê-lo”, ressaltou Petter. Para fugir, José teria furtado 550 euros da mãe.