Divulgação de grandes nomes da música nacional levantou críticas em relação a prioridade em gasto de verbas públicas
A prefeitura de Maceió divulgou nesta semana a programação dos festejos juninos de 2022. A presença de grandes nomes da música nacional chamou a atenção e gerou críticas a respeito do valor a ser gasto com as atrações. Na web, a população ficou dividida entre elogios e cobranças a respeito de outros temas, como o impasse na negociação da reposição salarial dos servidores municipais.
Os festejos, o primeiro após a pandemia e na gestão do prefeito JHC (PSDB), foi apresentado como “o maior São João do Litoral do Brasil”. De acordo com o anúncio, mais de 70 atrações se apresentarão em três polos, instalados em lugares diferentes da cidade, entre os dias 15 e 29 de Junho, além de apresentações de quadrilhas, bumba meu boi e coco de roda.
A lista de estrelas, que inclui Gusttavo Lima, Elba Ramalho, Wesley Safadão, Luan Santana, Alok e Ludmilla, deve ter custo superior a R$ 5 milhões aos cofres públicos, levando em conta valores divulgados por um ranking publicado pelo portal Metrópoles em fevereiro de 2022. Ou seja, considerando o aumento de cachês durante o período junino, o valor pode ultrapassar essa previsão.
Gusttavo Lima, por exemplo tem cachês que variam de R$800 mil a R$ 1 milhão; Luan Santana e Wesley Safadão cobram o valor médio de R$ 400 mil, cada, mesmo preço cobrado de Zé Felipe, filho do sertanejo Leonardo. Além destes foram confirmados Bruno e Marrone, Tierry, Zé Vaqueiro, Lucy Alves, Pedro Sampaio, Dennis DJ, Cand Avião e Raí Saia Rodada.
Impasse com servidores públicos
Já a negociação com os servidores não tem contado com tanta generosidade por parte da gestão, que recentemente voltou a negar a proposta de 16% de reposição salarial pedida pela categoria e apresentou como contraproposta reposição de 4%, parcelada em duas vezes (nos meses se Julho e Outubro). As tentativas de conciliação acontecem desde janeiro.
A pauta unificada cobra estrutura e condições de trabalho em todos os setores públicos do município, e valorização de todos os servidores com o percentual calculado em cima das perdas sofridas pela inflação acumulada.
Na área da educação, segundo o Sinteal, a data base no município de Maceió é janeiro, mas ainda não há perspectiva de um acordo. Para a educação, a reivindicação salarial é a implantação do percentual do piso nacional (de 33,24%) para todos os profissionais da educação, em todos os níveis.
Em Abril a categoria realizou paralisações gerais em dias pontuais, no Dia do Trabalhador, 1º de Maio, utilizou um dos pontos instagramáveis da prefeitura para protestar e nesta semana o movimento realizou mais um ato público no Centro de Maceió. Uma assembleia geral está marcada para a próxima terça-feira (24) para discutir os próximos passos da negociação
Opiniões divididas
Na internet, ao mesmo tempo que pessoas ficaram animadas com a possibilidade de ver grandes ídolos de perto, outras tantas pontuaram a pouca assistência municipal a pessoas atingidas pela questão da mineração ou que moram em áreas de risco com o início da quadra chuvosa ou que estão sofrendo com o desemprego em tempos de crise econômica.
As críticas foram dirigidas também ao evento preparado para o lançamento da programação ocorrido na noite da última quarta-feira (18) em uma casa de eventos particular no bairro de Jaraguá, que também contou com apresentações musicais.
No Instagram, um internauta comentou: “O São João de milhões e a saúde, educação e entre outros de centavos”.
“Um que ano de eleição não faz kkkkkk até alok”, disse outro.
“E aumento para os servidores nada!!”, reclamou mais uma.
“Ele quer comprar os alagoanos, mas o meu voto não tem, nem você e nem seu pai!”, pontuou uma seguidora.
“Prefeitura tá boa de caixa hein !!!! Gostando de ver ! Só não termina nem a ciclovia da Fernandes Lima 😂😂😂😂😂😂😂😂😂. Vai aproveitar e se lançar para governador neh !?!? Só observo 👀👀👀👀👀”, escreveu mais um.
“Dinheiro pra fazer festão tem né?! Agora contratar os auxiliares de sala para os CMEI’s ninguém nunca nem viu. Fardamento, nem se fala!”, continuou outra.
Desrespeito à Lei Municipal
Outro ponto levantado pelos críticos ao tamanho do evento é em relação ao possível descumprimento de uma Lei municipal que obriga a prefeitura a destinar pelo menos 50% da verba investida com artistas locais.
Em seu portal a prefeitura informa que os músicos e grupos locais que integram a programação do São João de Maceió foram selecionados por meio dos editais ‘Toca Tudo MCZ’ e ‘Vem pra Praça’, mas não especifica quais deles se apresentarão durante este período, já que as duas chamadas públicas propunham o credenciamento de artistas e bandas, com validade de 36 meses.
Na primeira publicação, os cachês para os selecionados variam de acordo com o tamanho da apresentação: intimistas, pequenos, médios e grandes. Nas apresentações intimistas, que serão para até 200 pessoas, o cachê será de R$ 2.000. Nos eventos de pequeno porte, para até 1.000 pessoas, o cachê será de R$ 5.000, nos de médio porte, com público de até 5.000 pessoas, o cachê será R$ 10.000 e nos eventos de grande porte, para mais de 5.000 pessoas, será de R$ 20.000.
Na segunda publicação os cachês para os artistas locais variam de R$ 1 mil a R$ 3 mil, a depender do tamanho do evento.
A Lei em questão é a de Nº 7.077, aprovada em Junho e promulgada em Agosto de 2021, pela Câmara Municipal de Maceió e é de autoria do vereador Leonardo Dias. Ela indica que ao contratar artistas para apresentações e/ou manifestações culturais, deve-se obrigatoriamente utilizar metade do valor com artistas locais.
São contemplados eventos artísticos, culturais, musicais, exposições, shows e similares, em que seja empregado suporte, auxílio, apoio, financiamento, investimento financeiro ou subvenção social do Poder Público Municipal.
A proposta considera como artistas locais aqueles que nasceram, vivem ou residem no Município de Maceió.
O Alagoas24Horas tentou obter informações sobre os cachês pagos pela prefeitura de Maceió no Portal Transparência do Município de Maceió, mas não encontrou estas informações. A reportagem também entrou em contato com a assessoria da Prefeitura de Maceió e aguarda posicionamento.