A informação foi divulgada no início da tarde desta terça-feira (7) pela Justiça.
Adriana Maria Lima de Brito, de 54 anos, suspeita de praticar injúria racial contra uma família negra em metrô de Belo Horizonte, vai responder ao processo em liberdade. A informação foi divulgada no início da tarde desta terça-feira (7) pela Justiça.
Em audiência de custódia na manhã desta terça, no Fórum Lafayette, a mulher ganhou o direito à liberdade provisória por ser ré primária e pela pena do delito não ser superior a 4 anos de prisão.
Mas ficou definido que a mulher terá de cumprir as medidas cautelares de não manter qualquer tipo de contato com as três vítimas, “de comparecer a todos os atos do inquérito e ação penal e de não se ausentar de BH pelo prazo superior a 30 dias, sem prévia autorização judicial”.
O crime aconteceu na tarde deste domingo (5). Mãe, pai e filha foram vítimas de injúria racial, no metrô de Belo Horizonte. Os ataques racistas começaram na Estação Central e seguiram até a Estação José Cândido da Silveira, no bairro Santa Inês na Região Leste da capital mineira (veja no vídeo no início da reportagem).
De acordo com informações do boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar (PM), a suspeita, Adriana Maria Lima de Brito, de 54 anos, começou os xingamentos assim que a família, que voltava de um passeio na Feira Hippie, embarcou em um dos vagões do metrô.
Ainda, de acordo com o documento, as vítimas relataram que a mulher proferiu ofensas dizendo: “Negros fedidos, crioulos fedorentos, raça impura. Vocês não poderiam estar no mesmo ambiente que nós. Vocês deveriam ter descido do metrô, pretos fedorentos”.
Imagens filmadas por testemunhas mostram outros momentos em que a suspeita, aos gritos, falava: “Eu sou racista. Eu sou racista”.
Uma das vítimas afirmou que a mulher chegou a dizer que “o sangue que corre na minha veia não é o mesmo que corre na sua”.
A Polícia Civil de Minas Gerais informou que a mulher foi autuada pelo crime de injúria racial e encaminhada ao sistema prisional.
A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) informou, até as 12h33 desta terça-feira (7), a suspeita permanecia presa no Presídio de Vespasiano I.
Testemunha presta depoimento
Nesta terça-feira (7), a Polícia Civil ouviu mais uma testemunha no caso da mulher suspeita de injúria racial no metrô, em Belo Horizonte. Sara Microni acompanhava a Isabelle e os pais da amiga no passeio de domingo. Eles voltavam da feira de artesanato para casa, quando aconteceu o ocorrido.
Ela prestou depoimento na 3ª Delegacia de Polícia, na Região Leste da capital. Sara contou à polícia que a situação foi muito constrangedora e que ficou muito nervosa ao ver a suspeita de praticar injúria ofender a família da amiga.
“Sinceramente, eu nunca tinha presenciado uma briga por perto. Eu fiquei tremendo por dentro, fiquei calada, observando aquele tumulto. Fiquei nervosa. Foi muito constrangedor.”
Racismo x injúria racial
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Rafael Alexandre de Faria, o crime pode ser tipificado como racismo, ao invés de injúria racial. Segundo ele, a mudança depende dos rumos da investigação.
“Nós vamos fazer uma análise criteriosa das imagens, para definir com o máximo de precisão quais foram as palavras ditas por ela e, a partir de todo esse conjunto, saber se vai ser mantida a capitulação da injúria racial ou se vai ser considerado racismo. A suspeita negou os fatos. Entretanto nós temos as imagens, depoimentos de testemunhas que serão tomados e outras informações que serão coletadas no âmbito da investigação”, disse
O que diferencia os crimes é a forma que foi praticada. Na injúria racial, que tem pena prevista de um a 3 anos de prisão, a ofensa é direcionada a uma pessoa. No crime de racismo, a agressão é contra uma coletividade. Ela tem pena de até 5 anos de prisão.
O advogado Marcelo Colen, presidente da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB/MG, defende que o caso em questão se trata de racismo.
“A intenção dela ali era ofender todas as pessoas negras, e não apenas as pessoas que estavam naquele vagão. Ele também ocorre quando essa discriminação é direcionada a uma raça específica”, explica.
Segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), em Minas Gerais, foram registrados 371 casos de injúria no ano passado. Só nos três primeiros meses desse ano, foram 111 casos. Em relação aos casos de racismo, foram quase 140 registros em 2021 e 30 casos entre janeiro e março de 2022.
Família espera por justiça
“Em um país desse, em pleno ano de 2022, ainda tem gente fazendo essas coisas?”. O desabafo foi feito pela autônoma Leni Rodrigues, em entrevista à TV Globo na tarde de segunda-feira (6).
Leni estava no metrô acompanhada do marido, Alexandre Elias Rodrigues, de 55 anos, e da filha, Isabelle Cristine Rodrigues, de 25. Eles voltavam da Feira Hippie, onde fizeram compras para os preparativos do casamento da jovem, quando sofreram ataques de injúria racial.
Dentro do vagão, ainda na Região Central de Belo Horizonte, a mulher, identificada como Adriana Maria Lima de Brito, de 54 anos, começou a ofender a família.
“Ela falou que não sabia o que ‘esses crioulos’ estavam fazendo dentro do vagão. Disse que crioulo tem que morrer. Era um dia feliz. Estava todo mundo feliz, todo mundo rindo. Aí a gente se depara com uma pessoa dessa? É muito triste!”, disse Isabelle.
Indignados, os passageiros começaram a gravar e a divulgar os vídeos nas redes sociais. Em um deles, a mulher dança fazendo provocações. “Eu sou racista, eu sou racista, eu sou racista”, dizia.
Em um tom ainda mais agressivo, afirmou: “eu não sou da sua raça, eu não sou da sua raça”.
“Na hora me deu tristeza e raiva, ao mesmo tempo. Se fosse só comigo, eu não importava, mas como ela começou a ofender meu pai e minha mãe, fiquei nervosa”.
Na Estação José Cândido da Silveira, os seguranças da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), responsável pelo metrô da capital, entraram no vagão e pediram pra que a mulher saísse, mas ela se recusou. Uma viatura da Polícia Militar foi chamada.
Agora, a família espera que a agressora seja punida.
“Nós somos seres humanos iguais a todos”, disse emocionada a autônoma Leni Rodrigues.