Após confirmar que uma ossada analisada por exame de DNA supersensível corresponde com o material genético de Leandro Bossi, a Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR) informou que a amostra é a mesma que teve resultado negativo na década de 90.
A afirmação foi dada, em entrevista à RPC, pelo secretário da pasta, Wagner Mesquita, neste sábado (11). Na sexta-feira (10), a Sesp-PR informou que foi comprovada 99,9% de compatibilidade da ossada com o material coletado da mãe de Leandro.
Leandro Bossi tinha sete anos quando desapareceu em Guaratuba, no litoral do Paraná, em 15 de fevereiro de 1992.
No ano seguinte, em fevereiro de 1993, uma ossada encontrada por crianças em um matagal foi submetida a um exame de DNA que, à época, apontou que o material não era do garoto, mas sim, de uma menina.
“30 anos atrás, foi feito em exame de DNA com a tecnologia disponível da época, por um instituto privado em Minas Gerais, e esse exame teria indicado que não se tratava do Leandro Bossi e que seria uma ossada de menina. E, agora, nós estamos contradizendo esse exame com um exame muito mais moderno, muito mais tecnológico, que é uma tecnologia que só está disponível agora”, afirmou Mesquita.
O desaparecimento de Leandro aconteceu dois meses antes de Evandro Ramos Caetano, na época com seis anos, sumir. No caso de Bossi, o inquérito policial nunca foi concluído. A ossada de Bossi foi localizada no mesmo matagal onde estava o corpo de Evandro.
Em março de 1993, os exames de DNA feitos em laboratório privado de Minas gerais, com a tecnologia que era disponível até então, constam no inquérito da época.
Ainda conforme o secretário, no ano passado, oito fragmentos, que a Sesp-PR esclareceu serem da mesma amostra do exame de 93, foram novamente confrontados, desta vez com material genético de um grupo de mães de crianças desaparecidas, entre elas, a mãe de Leandro, Paulina Bossi.
Com as conclusões do novo exame, mais avançado, chamado de DNA mitocondrial, que deu certeza científica de que a ossada, encontrada em 1993 pelo grupo de crianças era, sim, a de Leandro e não de uma menina, o nome do menino foi retirado da lista de crianças desaparecidas no estado.
Na coletiva de sexta-feira, o secretário não havia detalhado que ossada foi usada no processo, quando foi analisada, nem quando houve a confirmação do material genético.
O secretário reforçou que as conclusões do novo exame permitem afirmar que os restos mortais são de Leandro mas que ainda não respondem a perguntas consideradas fundamentais no caso: qual teria sido a motivação do crime e de quem seria a responsabilidade pela morte do menino.
“As circunstâncias da morte do Leandro Bossi, autoria, materialidade e demais circunstâncias do crime, elas são objeto de investigação de um inquérito policial que está arquivado há décadas pelo MP de Guaratuba. Nos próximos momentos, a Polícia Civil poderá solicitar cópia desse inquérito policial e aí verificar de que forma essas novas provas podem impactar em novas linhas de investigação em relação à morte de Leandro Bossi. Porém, em uma outra apuração”, disse.
O Governo do Paraná disse que os fragmentos analisados estavam no Instituto Médico-Legal (IML), que foram encaminhados ao laboratório de genética da Polícia Federal em Brasília, assim como material genético de familiares de crianças desaparecidas no estado.
A decisão, de acordo com a secretaria, atendeu a diretrizes de um programa do Governo Federal que tem como objetivo formar um banco de dados capaz de auxiliar na identificação de pessoas desaparecidas em todo o país.
No caso do Paraná, a secretaria enviou oito amostras ósseas dos arquivos da Polícia Científica e que pertenceriam a casos não solucionados.
“A metodologia que submetemos não obteve DNA viável, perfil genético viável, das amostras que foram pesquisadas. A seguir foram encaminhadas para a análise de DNA mitocondrial, uma técnica muito mais sensível, que permite a detecção mesmo em amostras muito limitantes e degradadas, como se trata do caso em questão”, explicou o coordenador do Laboratório de Genética Molecular Forense da Polícia Científica, Marcelo Malaghini.
Ainda de acordo com Mesquita, as equipes devem receber em breve o laudo pericial pela Polícia Federal, em Brasília. Com base neste documento, o Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride) será possível fazer o relatório final da investigação do desaparecimento da criança.
A chefe do Sicride, delegada Patrícia Nobre, disse que, com a confirmação da identidade de Leandro, o número de crianças desaparecidas no Paraná desceu para 26, que continuam sob investigação.
Leandro Bossi desapareceu duas semanas antes de completar oito anos. Foi visto pela última vez em um show do cantor Moraes Moreira, na praia de Guaratuba.
Na época do desaparecimento, a mãe trabalhava em um hotel da cidade e o pai, João Bossi, era pescador. Os dois estavam trabalhando no momento do desaparecimento.
Quando percebeu o sumiço da criança, a família informou à polícia local, mas não foram achados vestígios. Quatro anos depois, o pai de Leandro reconheceu um menino encontrado em Manaus e afirmou se tratar de do menino.
Cartaz divulgado pela Polícia Civil à época do desaparecimento de Leandro Bossi — Foto: Polícia Civil/ divulgação
A criança chegou a ficar mais de duas semanas morando com a família, em Guaratuba, mas um exame de DNA deu negativo. Depois disso, os pais de Leandro nunca mais tiveram notícias do paradeiro do filho.
Em 2020, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) afirmou que o processo sobre Leandro “foi arquivado devido à prescrição, pois o fato ocorreu em 1992 – há mais de 20 anos, portanto, prazo máximo prescricional previsto pela lei. Ou seja, mesmo que surgissem novas provas incriminadoras, o caso não pode ser mais reaberto”.
A declaração consta em áudios divulgados pelo podcast Projeto Humanos, onde o jornalista Ivan Mizanzuk detalhou uma longa investigação sobre o caso de Evandro Caetano, que se misturou ao caso de Leandro.