A Justiça do Rio de Janeiro realiza, nesta segunda-feira (13), mais um interrogatório de Jairo Souza Santos Júnior, o ex-vereador Jairinho, réu pela morte do menino Henry Borel, de 4 anos, em março do ano passado.
A audiência estava marcada para começar às 9h30, mas Jairinho começou a ser ouvido depois das 11h30 devido a um bate-boca entre os advogados de defesa e a juíza Elizabeth Machado Louro. A magistrada pediu que os advogados ficassem sentados e eles afirmaram que ela estava cerceando o direito dos advogados de se mexerem pelo plenário.
Assim que começou o depoimento, o ex-vereador negou envolvimento na morte de Henry Borel. “Eu, definitivamente, eu juro por Deus que eu nunca encostei em nenhuma criança. Eu nunca fiz isso na minha vida”, afirmou Jairinho quando começou a falar.
No interrogatório, Jairinho afirmou que o relacionamento com Monique começou apaixonado, mas que eles tinham ciúmes um do outro.
“Um determinado dia, ela colocou a localização dela no meu telefone. Eu não sei bem mexer no telefone. Mexo no Whatsapp, mexo no Instagram um pouquinho. Mas basicamente no Whatsapp. Em um determinado momento, ela colocou no meu e no dela, para sabermos onde estávamos. E tínhamos ciúmes mútuos”, afirmou.
‘Pânico de televisão’, diz Jairinho
Durante o depoimento desta segunda, Jairinho afirmou que atualmente tem pânico de assistir televisão e que não aceita a informação que Henry teve 23 lesões. O ex-vereador voltou a afirmar que nunca agrediu o enteado.
“Eu tenho pânico da televisão hoje. Eu não sei onde, até hoje. O Henry não teve 23 lesões, isso não existiu. Eu não fiz nada com o Henry. Eu não sou culpado disso que estão me acusando. Por Deus, isso não é verdade. Não aconteceu isso”, contou Jairinho.
“No período em que eu sou acusado de ter praticado duas agressões com o Henry, ele estava acompanhado de uma psicóloga infantil, especializada. E ela deu um depoimento em sede policial dizendo que ele nunca falou mal de mim. Ao contrário”, completou.
Sobre a denúncia de que ele teria praticado atos de tortura contra Henry no dia 12 de fevereiro de 2021, o ex-vereador negou a acusação e disse que ficou poucos minutos em casa naquele dia.
Jairinho afirmou também que seu relacionamento com Henry não era um relacionamento de agressão.
“No momento da conversa da Monique com a babá eu estava no banco. Eu fiquei menos de 10 minutos em casa”, contou Jairinho.
“Abri a mala azul e falei: ‘olha o que o tio comprou’. Fui ao banheiro, escovei o dente, penteei o cabelo, saí do quarto e fui embora. Fiquei menos de 10 minutos dentro de casa. É uma questão de lógica”, completou.
“Isso é característica de uma criança que é agredida?”, diz Jairinho sobre um momento em que Henry teria gritado “Tio Jairinho, Tio Jairinho”, pulado no colo dele e lhe dado um beijo.
Advogados destituídos
O ex-vereador destituiu parte de seus advogados de defesa antes do interrogatório. Em um ofício endereçado à juíza Elizabeth Machado Louro, o escritório de advocacia Dalledone informou que o acusado decidiu dispensar:
Bruno Mattos Albernaz de Medeiros
Eric de Sá Trotte
Karina Oliveira Marinho
Luis Felipe Alves e Silva
Natalia Gomes da Silva
Telmo Bernardo Batista
Uma consulta ao processo no Tribunal de Justiça indica que ainda representam Dr. Jairinho:
Claudio Dalledone Junior
Fabiano Tadeu Lopes
Flávia Pinheiro Fróes
Letícia Farah Lopes
Luís Fernando Abidu Figueiredo Santos
Renan Pacheco Canto
O advogado Cláudio Dalledone informou que o médico e ex-vereador Jairinho optou, as vésperas do depoimento, por uma defesa tecnicamente voltada as acusações de crimes contra a vida, razão pelo qual destitui alguns advogados.
Ainda segundo Dalledone, a troca não altera a estratégia da defesa que vai comprovar a inocência de Dr Jairinho.
Reinterrogatório mantido
O desembargador Joaquim Domingos de Almeida Neto, da 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro , negou, na sexta-feira (10), um pedido de liminar da defesa de Dr. Jairinho para suspender o interrogatório marcado para esta segunda.
A defesa de Jairinho alegou estar sendo impedida de agir porque a juíza Elizabeth Machado Louro rejeitou o pedido para ouvir três médicas que atenderam o menino Henry Borel num hospital particular da Barra da Tijuca, na Zona Oeste, no dia em que ele morreu.
Os advogados de defesa de Jairinho também pediram para ouvir o radiologista da unidade, os técnicos de necropsia e a perita legista que atenderam o menino.
O desembargador relatou que as três médicas e o radiologista já haviam prestado depoimento e que as demais testemunhas não foram requisitadas no momento adequado.
Relembre o caso
Henry Borel morreu no dia 8 de março de 2021, em decorrência de uma hemorragia interna por laceração hepática por ação contundente, segundo o laudo complementar de necropsia do IML. O laudo também revela que o corpo do menino tinha 23 lesões.
Jairinho e a professora Monique Medeiros, mãe de Henry, são réus pela morte do menino. De acordo com as investigações, a criança morreu por conta de agressões do padrasto e pela omissão da mãe.
Jairinho foi denunciado por:
homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e recurso que impossibilitou defesa da vítima), com aumento de pena por se tratar de menor de 14 anos;
tortura;
Monique foi denunciada por:
homicídio triplamente qualificado na forma omissiva imprópria, com aumento de pena por se tratar de menor de 14 anos;
tortura omissiva;
falsidade ideológica;
coação de testemunha.