Política

Pacheco diz que não existe ‘dicotomia’ Petrobras x governo e sugere fundo para conter preços

Em meio a ataques de Jair Bolsonaro e aliados contra a estatal, presidente do Senado lembrou que a União é a acionista majoritária e tem meios para, se quiser, segurar a disparada dos preços dos combustíveis.

Em meio aos ataques do governo Jair Bolsonaro e aliados à Petrobras, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse nesta sexta-feira (17) que não existe a “dicotomia” entre o governo e a estatal, pois a União é a maior acionista. Pacheco afirmou ainda que, se o governo quer conter a inflação dos combustíveis, deve usar o lucro da Petrobras para criar um fundo estabilizador dos preços.

Pacheco não adotou o tom de Bolsonaro e aliados, que preferiram colocar a culpa na disparada dos preços na Petrobras. Mais cedo nesta sexta, a estatal anunciou reajuste na gasolina e no diesel, seguido as oscilações do mercado internacional.

O presidente do Senado, por meio de nota divulgada à imprensa, buscou deixar claro que o governo é responsável pela Petrobras.

“Se a situação dos preços dos combustíveis está saindo do controle, o governo deve aceitar dividir os enormes lucros da Petrobras com a população, por meio de uma conta de estabilização de preços em momentos de crise”, afirmou Pacheco.

“Afinal, é inexistente a dicotomia Petrobras e governo, pois a União é a acionista majoritária da estatal e sua diretoria indicada pelo governo”, completou o presidente do Senado.

Ataques à Petrobras

Bolsonaro tem vivido uma crise com a Petrobras nos últimos meses. Ele trocou o presidente da estatal duas vezes só este ano, na tentativa de fazer a empresa mudar sua política de preços. A Petrobras alega que, por lei, deve aplicar no mercado interno as mudanças nos preços de petróleo e derivados no mercado externo. Caso contrário, a empresa alega que pode sofrer ações na Justiça ou ainda causar escassez de combustível no Brasil (importadores não iriam querer trazer o produto para um país com preços defasados).

Bolsonaro teme que a alta dos preços prejudique sua imagem junto ao eleitorado e seus planos de reeleição. Nesta sexta, ele chamou o novo reajuste da Petrobras de “traição” e sugeriu uma CPI para investigar a estatal.

Aliados próximos partiram para atitudes parecidas. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que a diretoria da Petrobras tem “má-fé” e pratica atos “contra o povo brasileiro”. Disse ainda que vai chamar uma reunião na segunda-feira (20) para buscar alternativas de mudar a política de preços da Petrobras.

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, fez um protesto nas redes sociais.

“Basta! Chegou a hora. A Petrobras não é de seus diretores. É do Brasil. E não pode, por isso, continuar com tanta insensibilidade, ignorar sua função social e abandonar os brasileiros na maior crise do último século”, escreveu o ministro.

Fundo

A alternativa de criar um fundo com o lucro da Petrobras para estabiliza preços também vem sendo buscada por estados da federação.

Em 2021, a Petrobras registrou um lucro líquido recorde de R$ 106,6 bilhões, o maior já registrado por empresas de capital aberto no Brasil. No primeiro trimestre deste ano, com a alta do petróleo, o lucro da estatal somou R$ 44,5 bilhões.

O fundo de equalização tem por base projeto, já aprovado pelo Senado Federal, mas que ainda não passou pelo crivo da Câmara dos Deputados. Por isso, ainda não está valendo.

O Ministério da Economia se diz contra o fundo. O secretário do Tesouro Nacional, Paulo Valle, por exemplo, argumenta que a criação seria uma medida “cara e ineficiente”.

Segundo levantamento de Bolívar Moura Rocha e Fernando Hamú Alves, da Levy & Salomão Advogados, alguns países já se utilizaram esse mecanismo, entre os quais: Peru, Chile, Malawi, Marrocos, Nigéria, Tailândia e Vietnã. Os dados foram buscados junto ao Banco Mundial.

Como deve funcionar?

O projeto aprovado pelo Senado define que, se criado o fundo, haverá um piso e um teto para os preços dos combustíveis. Estabelece ainda que, se o preço superior for ultrapassado, produtores e importadores serão compensados por eventuais perdas.

Os recursos para formar o fundo, ainda segundo o projeto, terão origem em:

participações da União resultantes do regime de concessão e da comercialização do excedente em óleo no regime de partilha de produção;
excesso de arrecadação, em relação à previsão anual, dos dividendos da Petrobras;
arrecadação do setor de petróleo;
superávit financeiro do governo federal (saldo resultado das receitas menos as despesas).
De acordo com a Receita Federal, a arrecadação sobre combustíveis somou R$ 30,71 bilhões nos quatro primeiros meses deste ano. Os “royalties” e participações especiais da União sobre petróleo totalizaram R$ 13,09 bilhões de janeiro a abril.

A Petrobras, por sua vez, informou que pagará até julho R$ 32 bilhões em dividendos à União, relativos ao ano passado e primeiro trimestre de 2022. A soma de todos esses recursos é de mais R$ 75 bilhões na parcial deste ano. Entretanto, nem todos os valores seriam repassados ao fundo de estabilização.

Íntegra

Veja a nota completa divulgada por Pacheco:

“Se a situação dos preços dos combustíveis está saindo do controle, o Governo deve aceitar dividir os enormes lucros da Petrobras com a população, por meio de uma conta de estabilização de preços em momentos de crise. Afinal, é inexistente a dicotomia Petrobras e Governo, pois a União é a acionista majoritária da estatal e sua diretoria indicada pelo Governo. Além disso, medidas semelhantes estão sendo adotadas por outros países em favor de sua economia e de sua população.

O Senado aprovou inúmeras matérias legislativas que estavam ao seu alcance e agora espera medidas rápidas e efetivas por parte da Petrobras e de sua controladora, a União. Já que o governo é contra discutir a política de preços da empresa e interferir na sua governança, a conta de estabilização é uma alternativa a ser considerada.”