A Vara Criminal de Santa Cruz do Rio Pardo (SP) aceitou a denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) contra o padre Gustavo Trindade dos Santos. O religioso é acusado de atropelar, no dia 7 de maio, um homem suspeito de furtar a antiga casa paroquial de uma igreja na cidade.
No documento, emitido na terça-feira (21), o juiz Pedro de Castro e Sousa abre um prazo de dez dias para que a defesa do réu se manifeste por escrito sobre a ação. Com a decisão da Justiça, o frei Gustavo se torna réu e vai responder por tentativa de homicídio qualificado.
Uma câmera de segurança flagrou o atropelamento na Avenida Tiradentes. Nas imagens, é possível ver o momento em que o carro atinge Ângelo Marcos dos Santos Nogueira, que é arremessado.
No dia 17 de junho, o Ministério Público ofereceu denúncia contra o padre por tentativa de homicídio, qualificado pela “utilização de recurso que dificultou a defesa da vítima”.
A qualificadora se configura, segundo o promotor Reginaldo Garcia, porque a vítima foi atingida sem que “pudesse supor ou esperar semelhante atitude”, ou seja, de surpresa.
A Promotoria também pediu que, em caso de condenação, o padre Gustavo seja obrigado a pagar um “valor mínimo para reparação dos danos materiais, morais e psicológicos”.
Isso porque o homem atropelado sofreu afundamento craniano, perdeu massa muscular e não consegue falar, andar e usa fraudas para as necessidades básicas. No momento, ele se encontra em casa, de acordo com a sua defesa.
Por conta da sua condição, a defesa pretende entrar com uma ação frente à igreja pedindo ajuda, inclusive com a retirada da queixa de furto. Ângelo chegou a ser preso em flagrante no dia do atropelamento, mas será investigado em liberdade. Um exame de corpo de delito foi solicitado pela Promotoria para periciar a gravidade dos ferimentos.
A TV TEM teve acesso, com exclusividade, ao vídeo do interrogatório, no qual o religioso dá a sua versão sobre o caso.
O padre Gustavo Trindade dos Santos só foi ouvido no dia 9 de junho porque não compareceu à sede do Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic), na capital paulista, quando foi intimado pela primeira vez. Quatro dias depois, ele ainda participou de uma missa.
Mesmo assim, o inquérito policial foi concluído, mas o MP solicitou a oitiva do padre para poder avaliar melhor o caso. Durante o interrogatório, o padre afirmou que havia terminado de celebrar um casamento, quando, na saída, escutou o alarme da casa paroquial e avistou um homem pulando o muro e fugindo do local.
O padre disse, na oitiva, que ele e a pessoa que o acompanhava no carro chegaram a pedir para o homem parar durante a perseguição. No entanto, as imagens que flagraram o atropelamento mostram os vidros do carro fechados durante todo o trajeto.
Ainda conforme o frei, ele encontrou um caminho para fechar o homem, mas, no momento em que ele entrou com o carro na calçada para pará-lo, o suspeito do furto na igreja se jogou sobre o capô do veículo.
Além disso, o padre afirmou, no interrogatório, que foi embora após o atropelamento porque temeu a possibilidade do homem estar armado. Ele também disse que, ao perceber a presença de pessoas na rua onde ocorreu o acidente, pediu a elas que chamassem a polícia.
Após o atropelamento, o padre contou que foi até o convento onde morava, guardou o carro, que pertence à Diocese de Ourinhos (SP), e viajou para Ribeirão Preto (SP), onde iria aproveitar o Dia das Mães e o próprio aniversário no dia posterior.
Durante as investigações, a polícia descobriu que o frei Gustavo, apesar de habilitado, deveria ter renovado a carteira de habilitação em fevereiro de 2020.
A defesa do padre mostrou um documento da União Europeia que o autorizava a dirigir. O aceite, do tempo em que ele morava na Espanha, no entanto, não é válido em território nacional. Por esse delito, Gustavo deve responder apenas administrativamente junto ao Detran.
O inquérito policial indiciou o padre por tentativa de homicídio qualificado. Nas duas vezes em que a polícia fez pedidos de prisão, contudo, o Ministério Público se posicionou contra e os dois pedidos de prisão preventiva contra ele foram negados pela Justiça.
Já o homem atropelado chegou a ser preso em flagrante no dia do atropelamento, mas será investigado em liberdade. Segundo o BO, ele furtou três moletons e uma camiseta.
Por conta do estado de saúde dele, a defesa pretende entrar com uma ação frente à igreja pedindo ajuda, inclusive com a retirada da queixa de furto.