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Operação de Anitta joga luz sobre a endometriose, que afeta mais de 8 milhões de mulheres; entenda a doença, os sinais e como tratar

O anúncio feito pela cantora Anitta, de que fará uma cirurgia por conta de um problema de endometriose, joga luz sobre um problema que aflige mais de oito milhões de mulheres no país, como é o caso das moradoras de São Vicente, Flávia Marcelino e Romilda Gadí. Ao g1, o médico ginecologista Fábio Ramajo contou que a condição merece atenção e que dores intensas servem de termômetro à gravidade da doença.

“A mulher com endometriose apresenta, de modo geral, o que chamamos de 6Ds: dores pélvicas, dores menstruais (dismenorreia), nas relações sexuais (dispareunia), na micção, na evacuação e a dificuldade para engravidar”. O médico informa que a maior incidência de endometriose se dá em mulheres ente 15 e 45 anos.

O médico explica que a endometriose é uma doença inflamatória pélvica. Segundo ele, fora do útero existe um tecido semelhante ao endométrio [tipo de tecido do corpo humano que está localizado no interior do útero], que, por uma reação crônica e inflamatória, ocasiona as dores.

“É algo que compromete, severamente, o bem-estar da mulher. Essas inflamações são de grau variado. Não está relacionada apenas com a dor, mas esse é um sinal importante a ser considerado, oferecendo uma certeza maior [de que pode ser um caso de endometriose]”, explica.

Diagnóstico

Ramajo afirma que o diagnóstico passa, inicialmente, passa pelo relato da paciente. Ele ressalta que é preciso estar atento às informações. Na sequência, um exame clínico verifica as regiões afetadas pela endometriose. Uma avaliação mais detalhada, com ultrassom e ressonância pélvica, ajuda na detecção da endometriose.

O médico cita, ainda, que, nos casos de infertilidade, quase a metade das mulheres tem endometriose e não sabe. A doença chega a afetar de 10% a 15% as mulheres em idade reprodutiva

“É preciso ver a repercussão que endometriose teve nos órgãos. Para que as pacientes possam engravidar, a questão pode ser trabalhada por meio de técnica de fertilização assistida”.

Apoio e testemunhos

A Associação EndoMulheres Baixada Santista tem oferecido apoio e acolhimento às mulheres da região que sofrem com a endometriose. Flávia Marcelino, presidente da entidade, é um exemplo, e teve a vida afetada pela doença por 31 anos. “Descobri depois dos 40. Ouvi muitos médicos dizendo que não era nada, que era frescura. Sentia cólicas fortes, vomitava, perdia dias de trabalho. e perdi um pedaço do intestino em função da doença, por ter descoberto tão tarde”.

Em 2016, ela conheceu Romilda Gadí, outra mulher que sofria com a endometriose. Ambas resolveram fazer da doença uma bandeira capaz de levar conforto e acolhimento. “Criamos um grupo para ajudar outras mulheres com as mesmas dores. Com toda essa luta, só em 2018 que fomos ouvidas. Não havia atendimento pelo SUS, e as pessoas que estavam na fila esperavam por anos. Em alguns planos, nem tinha especialista [no caso]”.

Em 2019, com o apoio da vereadora Audrey Kleys (PP), foi criado o Centro de Referência em Endometriose, no Complexo Hospitalar dos Estivadores, em Santos.

“[O espaço atende] 60% de mulheres de Santos, e 40%, dos demais municípios da Baixada Santista. A alegação de que as dores da endometriose são apenas ‘mimimi’ não correspondem com a verdade”, explicou Audrey. “Existem cerca de 50 mil mulheres na região com a doença. Muitas deixam de trabalhar, de estudar e se afastam do convívio social”.

No local, as pessoas que dependem do SUS fazem suas cirurgias, e são assistidas por uma equipe multidisciplinar, com cirurgião, ginecologista, gastroenterologista e urologista, por exemplo. “É uma equipe completa para fazer essa cirurgia […]. A gente conseguiu isso. Tem muita coisa para fazer, mas estamos caminhando”, diz Flávia.

Romilda, por sua vez, conta que ainda não fez a cirurgia e teve que lidar com “falsos especialistas” durante anos. “Eles pediam apenas exames de laparoscopia, mas não eram especialistas em endometriose. Sofri muito na adolescência com dores incapacitantes. Apenas quando fui a São Paulo, que comecei a ter tratamento digno, qualidade de vida. O tratamento multidisciplinar me transformou”, explica.

Quem quiser saber mais sobre a Associação EndoMulheres Baixada Santista, pode acessar os perfis do grupo no Instagram, no @endomulheresbs e no Facebook, no perfil Associação EndoMulheres Baixada Santista.