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Gravações apontam pagamento de propina a policiais para não investigarem traficantes

Imagens também mostram o momento da entrega de dinheiro a agentes investigados pelo MP e Corregedoria da Polícia Civil.

“Você vai pegar os R$ 40 (mil) ou não vai pegar?”, disse o advogado Diego Ferreira de Matos, em uma gravação feita durante investigações sobre pagamento de propina a policiais civis em Minas Gerais.

Ele estava informando a um dos agentes envolvidos no esquema que um traficante já teria levantado o dinheiro exigido para que não fosse investigado.

“Ele é um cara certo, ele não vai ficar devendo nada, entendeu?”, disse o advogado.

O policial responde, “mas você acha que conseguiria inteirar os R$ 50 (mil) essa semana ainda?”.

O Ministério Público (MP) e a Corregedoria da polícia Civil investigam funcionários de pelo menos três departamentos da Polícia Civil. Eles são suspeitos de participar de um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro.

Investigações

As investigações começaram há mais de um ano. De acordo com o MP, traficantes de Belo Horizonte pagavam propina a policiais civis para que eles deixassem de combater o tráfico de drogas.

“A grande atuação deles era justamente para ver o negócio criminoso deles prosperar e evoluir sem entraves de uma investigação policial séria. Em algumas ocasiões envolvia não cumprimento de ordens de prisão, não sempre a simples omissão, mas às vezes a não execução de uma ordem de prisão”, disse o promotor Peterson Queiroz Araújo.

Imagens obtidas com exclusividade a TV Globo mostram a entrega do dinheiro. Segundo os promotores, os pacotes eram repassados em encontros rápidos, no meio da rua, pra não chamar a atenção.

Dinheiro era repassado em encontros rápidos, dizem investigações — Foto: Reprodução/TV Globo

Um dos policiais suspeitos de envolvimento no esquema é Gabriel Bacelette Gonçalves de Jesus. Ele também é sócio de uma empresa de veículos. Com base em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ele movimentou mais de R$ 44 milhões.

Segundo o MP, a movimentação bancária é absolutamente anômala e incompatível com um mercado que tem como atividade principal o comércio a varejo de veículos usados.

No fim de junho, o Ministério Público e a Corregedoria da Polícia Civil fizeram uma operação para desarticular o grupo. Foram cumpridos 39 mandados de busca e apreensão. Dez pessoas foram presas, entre elas o advogado Diego Ferreira de Matos e o policial civil Gabriel Bacelette.

Outros três policiais civis e um traficante estão foragidos. As investigações continuam e o MP apura a participação de outros policiais em crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e associação ao tráfico de drogas.

A defesa do policial Gabriel Bacelette disse que vai se manifestar assim que tiver acesso a todos os documentos da investigação.

A TV Globo procurou também a defesa do advogado Diego Ferreira de Matos, mas ainda não tivemos retorno.

Segundo a Polícia Civil, entre 2019 e 2021, 65 agentes sofreram sanções disciplinares que terminaram em demissões da corporação.