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Policial suspeito de confundir colega de farda com criminoso e matar mulher é afastado

Letícia Marinho Sales, morta no Complexo do Alemão — Foto: Arquivo Pessoal

A Polícia Militar afastou um policial suspeito de matar Letícia Marinho Sales, durante operação no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, na semana passada. A operação no dia 21 deixou 17 mortos.

O cabo Eduardo Nunes Rodrigues Júnior, da UPP Parque Proletário, é suspeito de ser o autor dos disparos que mataram Letícia, de 50 anos. O caso, que está sob sigilo, é investigado pela Polícia Civil.

O Jornal Extra teve acesso ao depoimento do policial. Ele teria dito que reforçava o policiamento em torno do Alemão quando viu dois carros pararem lado a lado num sinal de trânsito.

Um deles era o carro onde estava Letícia. No outro carro estavam dois policiais.

Uma policial teria colocado o corpo para fora para se identificar mas, no depoimento, o cabo Eduardo Rodrigues disse não ter ouvido a identificação e que atirou doze vezes de fuzil pensando que se tratar de um bandido.

Um dos tiros atingiu o carro de Letícia, que já chegou morta na Unidade de Pronto Atendimento.

Letícia não era moradora da comunidade. Ela estava voltando para casa depois de ajudar uma amiga a organizar uma festa.

Letícia foi baleada no dia 21 logo após sair da igreja, em um sinal de trânsito em uma das ruas que dão acesso ao Complexo do Alemão. Ela tinha três filhos e três netos.

Moradora do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, Leticia visitava a comunidade toda semana para ajudar uma amiga que é pastora. Na quinta-feira, ela estava voltando para casa depois de ajudar a organizar uma festa.

Ela foi baleada dentro do carro do namorado na Estrada do Itararé. Segundo Lucilene Mendes da Silva, cunhada de Letícia, não havia tiroteio no momento. Para ela, os policiais atiraram porque acharam que o carro da cunhada poderia ser de bandidos.

“Nem todo mundo que tem carro no morro é traficante. O menino que estava no carro com ela falou que abaixou o vidro do carro e eles saíram atirando nela”, disse Lucilene durante o velório da cunhada.

Na opinião de Neilson Sales, sobrinho de Letícia, a polícia precisa respeitar os moradores da comunidade.

“Essa desigualdade tem que acabar, de truculência, de maldade, de só chegar e tomar porrada da polícia, tomar porrada do estado. Eu respeito o poder deles, mas nós cidadãos de bem queremos respeito”, disse Neilson.

Ocupante do carro foi ferido por estilhaços
Além de Letícia e o namorado, o primo dele também estava carro. Jaime Eduardo da Silva ficou ferido por estilhaços provocados pelos disparos.

“Fomos alvejados por policiais despreparados, desqualificados. Não tinha bandido. Não estava tendo tiroteio. Foi dado para matar. Porque o policial atravessou na frente do nosso carro e deu o tiro”, disse Jaime.