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PM fingiu desistir de discussão após ser solto por lutador, diz polícia

Tenente Henrique Velozo foi indiciado e preso temporariamente por homicídio qualificado por dissimulação que dificultou defesa da vítima e motivo fútil. Agente ficou em silêncio quando foi interrogado pela Polícia Civil.

Reprodução/Redes Sociais

O lutador Leandro Lo e o policial militar acusado de atirar no atleta, Henrique Otávio Oliveira Velozo.

O tenente da Polícia Militar (PM) Henrique Velozo, 30 anos, fingiu desistir da discussão e briga contra Leandro Lo durante um show de pagode no Clube Sírio, na Zona Sul de São Paulo, no último sábado (6), quando foi imobilizado e solto pelo campeão mundial de jiu-jítsu, segundo a investigação da Polícia Civil.

Mas após isso, o oficial, que estava de folga e sem uniforme, sacou a arma que escondia debaixo da roupa, na cintura, e atirou na testa do atleta. Essas informações estão no inquérito policial que apura as causas e responsabilidades pelo assassinato.

“Henrique simulou ter desistido do impasse, virou-se de costas, deu alguns passos na direção contrária a Leandro e repentinamente sacou a arma de fogo escondida sob suas vestes e efetuou um único disparo na testa de Leandro, evadindo-se do local em seguida”, informa um dos trechos do documento a partir do que testemunhas disseram à polícia.
Leandro chegou a ser socorrido e levado ferido ao Hospital Saboya, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no domingo (7). Ele tinha 33 anos. Nesse mesmo dia, Henrique, que era procurado pela polícia, se entregou à Corregedoria da PM e entregou sua arma, que foi apreendida. Depois, foi levado à delegacia que investiga o caso, onde ficou em silêncio durante o seu interrogatório. Ele acabou detido e indiciado por homicídio qualificado por dissimulação que dificultou defesa da vítima e motivo fútil.

Por decisão da Justiça, Henrique está preso temporariamente por 30 dias no presídio militar Romão Gomes, na Zona Norte da capital.

Procurado nesta semana pela reportagem, o advogado dele, João Carlos Campanini, informou que ainda não poderia comentar o assunto e nem dizer o que seu cliente alega em sua defesa. “Eu não tive conversa com ele ainda, não sei nem a versão dele sobre o que aconteceu”, falou o advogado.

PM já condenado por agressão em 2017

Amigos e parentes do atleta que participaram do velório e do enterro dele na segunda-feira (8) pediram a punição do policial pelo assassinato de Leandro. Henrique já havia sido condenado pela Justiça Militar de São Paulo por agredir e desacatar outros policiais militares na boate The Week, na Zona Oeste da capital, em 2017. Naquele ano, o tenente também estava de folga e sem uniforme.

Naquela ocasião, Henrique foi acusado de dar um soco no braço de um agente da Polícia Militar e de tentar bater no rosto e de dar chutes em outros policiais militares, além de ofendê-los. O motivo: os PMs tinham sido chamados para atender uma ocorrência de confusão dentro da casa noturna.

De acordo com o Ministério Público Militar, o tenente estava com um primo no local e ambos acabaram se desentendendo com outros frequentadores.

Ainda segundo a Promotoria, um vídeo gravado no local e testemunhas confirmaram a versão dos agentes que encontraram Henrique “embriagado”, “nervoso e exaltado, dificultando o trabalho dos militares”. Em 13 de maio de 2021, o tenente foi condenado a nove meses de prisão em regime aberto.

Tenente é praticante de lutas, dizem testemunhas

Segundo testemunhas contaram à Polícia Civil e à imprensa, Henrique também é praticante de lutas. Ainda de acordo com os relatos, no último sábado ele foi tirar satisfações com Leandro, que o imobilizou no Clube Sírio, durante apresentação do grupo musical Pixote. Depois que foi solto, o policial militar sacou sua arma e disparou contra o rosto do lutador, que chegou a ser socorrido, mas não resistiu ao ferimento e morreu.

O caso foi registrado no 17º Distrito Policial (DP), Ipiranga, mas será investigado pelo 16º DP, Vila Clementino. A Polícia Civil procura mais imagens de câmeras de segurança do clube para saber se elas gravaram a confusão e o momento que o PM atira no lutador. A reportagem teve acesso a algumas imagens que mostram a correria dos frequentadores no Sírio e o resgate a Leandro após ele ser baleado. Fotos feitas por policiais mostram o local onde o atleta foi atingido.

Henrique também é investigado pela Corregedoria da PM que apura a conduta do tenente para saber se ele cometeu algum crime militar.

A delegacia também requisitou à Polícia Técnico-Científica que faça uma perícia de confronto balístico entre a bala encontrada no corpo de Leandro e a arma que Henrique apresentou à polícia. A investigação quer saber se o resultado do exame irá confirmar o que as testemunhas disseram em seus depoimentos: de que o tiro que matou o lutador saiu da pistola do PM.