Caso ocorreu em escola estadual de Eldorado (SP). A Secretaria de Educação do Estado afirmou que abrirá uma apuração preliminar para investigar o caso, e que o professor foi afastado.
A mãe da menina de 11 anos que denunciou um professor da Escola Estadual Maria Aparecida Viana Muniz em Eldorado, no interior de São Paulo, por importunação sexual recebeu diversos relatos semelhantes de ex-alunas. O g1 conversou com algumas delas que disseram que o professor age dessa forma há pelo menos oito anos. A Polícia Civil investiga a denúncia.
Em nota, a Secretaria de Educação do Estado afirmou que abrirá uma apuração preliminar para investigar a denúncia e que o professor foi afastado (veja o posicionamento completo abaixo).
Uma ex-aluna que preferiu não se identificar afirmou que também foi vítima de assédio por parte do professor. Com 18 anos, ela afirmou que na época tinha 12 e estava no 7° ano do Ensino Fundamental.
“Fiz um trabalho em grupo e tive que passar por cima das carteiras para levar a atividade para correção e, quando cheguei à mesa do professor, ele falou de um jeito malicioso ‘eu sei que você gosta de ir por cima’. Não respondi nada, apenas voltei ao meu lugar achando que tinha entendido errado”, relatou.
A jovem considera que a direção da escola sempre abafou os casos envolvendo o professor. “Comecei a detestar a matéria e o professor. Toda vez que olhava para a cara dele lembrava do que falou. Ficava me perguntando se eu tinha entendido errado. Acho que, além dele pagar pelos próprios atos, a direção deveria levar a culpa também”.
Depois de ter vivenciado essa situação na escola, a jovem passou por nova situação, segundo ela, constrangedora envolvendo o tal professor. Ela havia ido buscar um documento para a mãe em outro local em que o docente trabalha. Ao vê-la, o homem disse que ela estava “muito bonita”.
“Começou a falar que fazia tempo que não me via, que eu tinha mudado e, no final, falou que eu estava muito desejada“, ressaltou a garota.
“Ele colocou o documento no balcão, aí peguei e saí do local me sentindo uma p****. Apesar da minha roupa não estar indecente, fiquei pensando se tinha saído com o corpo muito à mostra, mas o erro não foi meu. Contei para meu marido, que foi cobrar satisfações”, disse.
Olhares maldosos
Outra mulher que afirmou ter estudado na escola até 2016 ressaltou que toda vez que levava o caderno para o professor corrigir ele ficava olhando para os seios e bumbum dela, como se o uniforme fosse transparente. “Ele dava ‘cantada’ quando encontrava as alunas fora da escola”.
A jovem disse que gostaria que o professor pagasse por tudo que fez não só para ela, mas com todas as outras meninas e mulheres nos últimos anos. “Eu e as meninas falamos na diretoria da escola que ele ficava olhando para a gente com olhares estranhos, mas ninguém fez nada“.
O relato de outra estudante também descreve a forma como o professor olhava para as alunas. “Quando eu estudava no 7° ano ele sempre foi nojento. Fazia de tudo para ver a bunda das meninas, [com] piadinhas sem graça, que só de imaginar já dá nojo”.
“Não adiantava nada falar com a diretora. Ele nunca encostou a mão em mim, mas ficava com olhares maldosos, olhares nojentos”, relembrou a ex-aluna.
‘Vai começar a latir cadela’
Outra ex-aluna disse que quando estava no 8° ano, e tinha 14 anos, um colega colocou um besouro dentro do estojo dela. Segundo ela, assim que abriu o material o grudou nela. “Foi automático. Eu gritei e ele [professor] disse ‘vai começar a latir cadela’“.
“Aquilo foi a coisa mais constrangedora que já me aconteceu. No momento fiquei sem reação de respondê-lo e eu saí da classe. Meu irmão estudava na sala ao lado e, quando soube, foi até a sala e agrediu ele”, contou.
Segundo a jovem, antes de ser chamada de ‘cadela’, o professor sempre falava que a calça legging que ela vestia para ir à escola ‘chamava muita atenção’. “Em 2014 não se falava de assédio como se fala hoje em dia. Só me sentia protegida de ir para a escola, pois sabia que meu irmão estava lá”.
“A direção da escola abafou todo o caso e falando de um jeito que nos fez entender que eu estava errada. Fiz boletim de ocorrência, mas até hoje não deu em nada. A escola me fez sentir culpada“, finalizou.
Entenda o caso
A Polícia Civil de Eldorado investiga uma denúncia de importunação sexual feita por uma criança de 11 anos contra um professor da Escola Estadual Maria aparecida Viana Muniz.
Ao g1, a mãe da aluna, que não quis se identificar, contou que a filha chegou em casa após a aula na última segunda-feira (29) contando que o professor havia ‘pegado nela’. “Questionei e ela falou: ‘ele pegou na minha cintura’. Quando perguntei se ele tinha alisado, ela disse que não, mas sentiu a mão dele forte”.
A situação ocorreu no momento em que a menina retornava à carteira após conversar com uma colega. “Quando ela voltou [para o lugar] e, pelo fato dela estar em pé, ele parou em frente dela, pegou na cintura e falou ‘vou te dar um cascudo’ e olhou com olhar malicioso“, disse a mãe da menina.
A estudante, de acordo com a mãe, permaneceu na sala e aguardou a troca de professores para pedir ajuda. Primeiro a menina relatou o que havia ocorrido para uma funcionária, mas essa teria dito que não se tratava de assédio, que era normal. “Ela insistiu, disse que não autorizou que ele pegasse nela”.
A funcionária levou a estudante para conversar com a vice-diretora. “Quando ela relatou, a única coisa que ela [vice-diretora] falou foi que iria conversar com o professor, e ficou por isso. Não fui chamada na escola. Eu como responsável não fui chamada“.
O caso foi registrado como importunação sexual na Delegacia de Eldorado. Segundo apurado pelo g1 com a Polícia Civil, o caso está sendo investigado.
O que diz o Estado
Em nota, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (Seduc) afirmou que repudia toda e qualquer forma de assédio dentro ou fora do ambiente escolar e que a Diretoria de Ensino de Registro, responsável pela unidade, abrirá uma apuração preliminar para investigar o ocorrido.
‘Durante o processo, o professor não terá contato com os estudantes’.
A pasta afirmou, ainda, que a escola coloca à disposição da aluna, se autorizado pelos responsáveis, o atendimento pelo Programa Psicólogos na Educação e que o caso será inserido na Plataforma Conviva SP – Placon, que acompanha o registro de ocorrências escolares na rede estadual de ensino.