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Justiça manda YouTube apagar vídeos de canais de radical religioso que atacou judeus na internet

Tupirani da Hora Lores cumpre prisão preventiva na Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza, no Complexo de Gericinó, em Bangu. Durante culto on-oline, ele disse que judeus "deveriam ser envergonhados".

A 29ª Vara Federal do Rio de Janeiro determinou que o YouTube promova a exclusão de quatro canais e todos os vídeos postados pela Igreja Geração Jesus Cristo, do radical religioso Tupirani da Hora Lores, que está preso.

Reprodução/TV Globo

Tupirani da Hora Lores é preso pela PF

A Justiça atendeu a um pedido do Ministério Público Federal (MPF), que apurou “a propagação de discurso discriminatório e intolerância religiosa”. A decisão fixou o prazo de cinco dias para o cumprimento, sob pena de multa diária a ser definida.

Segundo o MPF, conteúdo ilícito foi identificado nos canais Geração Jesus CristoGeração ao VivoGeração de Mártires e Geração de Mártires ao Vivo, todos relacionados à mesma instituição religiosa.

“Mesmo após a intervenção do Judiciário —, tanto na esfera cível quanto criminal —, a Igreja Geração Jesus Cristo, liderada por Tupirani da Hora Lores, criou novos perfis na plataforma YouTube para continuar a propagar discurso de ódio, em manifesto abuso do direito à liberdade de expressão”, detalha a ação.

A Justiça Federal acolheu o pedido de urgência na exclusão dos vídeos.

“Nota-se que a Constituição garante que todos têm direito a ter uma religião, a qual deve ser respeitada independentemente da crença do outro. Se houver desrespeito, agressão ou qualquer espécie de violência ao direito tutelado constitucionalmente, necessária se faz a intervenção estatal. Daí que, em um Estado laico como o Brasil, devem ser reprimidas as condutas que tendem à intolerância religiosa”, afirma a decisão proferida pela juíza federal Sandra Meirim Chalu Barbosa de Campos.

A Polícia Federal (PF) prendeu o pastor Tupirani da Hora Lores, chefe da Igreja Pentecostal Geração Jesus Cristo, por crimes de racismo, dentro da Operação Rófesh. — Foto: Reprodução/ TV Globo

Crime de ódio

Tupirani da Hora Lores, líder radical da igreja Pentecostal Geração Jesus Cristo, foi preso pela Polícia Federal no dia 24 de fevereiro por crimes de racismo e ódio contra judeus, dentro da Operação Rófesh. Ele foi preso em casa, na sede da igreja, no Morro do Pinto, no Santo Cristo, na região central do Rio de Janeiro.

Em um culto gravado e difundido em junho de 2020, ele afirmou que os judeus “deveriam ser envergonhados como foram na 2ª Guerra Mundial”. Tupirani também atacava outras religiões, como as de origem afro.

Em março do ano passado, a PF já tinha ido lá para cumprir mandados de busca e apreensão.

Além dos crimes de racismo e ameaça, Tupirani responderá por incitação e apologia de crime. Caso seja condenado, poderá cumprir pena de até 26 anos de reclusão.

O radical religioso atualmente encontra-se na Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza, no Complexo de Gericinó, em Bangu.

Tupirani foi o primeiro condenado no Brasil por intolerância religiosa. Em junho de 2009, ele e um discípulo chegaram a ser presos pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática da Polícia Civil do RJ.

De acordo com a sentença da condenação, Tupirani pregava em blogs o fim da Igreja Assembleia de Deus e praticava intolerância contra outras religiões, caracterizando-as como “seguidoras do diabo” e “adoradoras do demônio”. Eles também associavam a figura de pais de santo a homossexuais, de forma pejorativa, ainda segundo a ação.

Em abril de 2018, uma discussão entre guardas municipais e um grupo de 40 seguidores de Tupirani terminou com 12 pessoas da congregação feridas, uma delas em estado grave. Os fiéis teriam pichado inscrições no asfalto, avisando da suposta volta do Redentor em 2070.

Pichação no Parque Garota de Ipanema — Foto: Bruno Albernaz/G1