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Pesquisador do Datafolha é agredido ao fazer entrevistas

Ele levou chutes e socos, teve lesões na boca e foi encaminhado para o pronto-socorro. O caso foi registrado como lesão corporal e será investigado pela Polícia Civil. Ninguém foi preso.

Fachada da Delegacia de Ariranha, em São Paulo — Foto: Reprodução

Um pesquisador do Datafolha foi agredido enquanto fazia entrevistas para o instituto na tarde de terça-feira (20), em Ariranha (SP). Ele teve lesões na boca, apresentou dor no corpo, e foi encaminhado para o pronto-socorro da cidade, onde foi atendido e liberado.

O entrevistador contou que dois homens, que são pai e filho, se aproximaram dele e o ofenderam enquanto ele trabalhava. Quando virou de costas, eles o agrediram com chutes e socos.

“Era minha última entrevista do dia. Um senhor se aproximou e começou a me hostilizar, dizendo que queria responder a qualquer custo, dizendo que o pessoal estava pegando de um candidato específico, no caso citou o Lula. Pedi respeito e educação. Ele me provocou, começou a me chamar de vagabundo e disse que ia me esperar”, conta o pesquisador.

“Fui conversar com o senhor, dizendo que as abordagens eram aleatórias, que é uma prática nossa, que tem método para fazer a pesquisa, que quem se oferece não pode. Virei as costas para ir embora. Ele começou uma série de agressões, com chutes e socos. Virei para revidar, e o filho dele também veio para cima. Os vizinhos separaram. Eles vieram para cima de novo. Ele foi para dentro de casa e voltou com uma faca grande. Um vizinho me mandou ir embora. Um outro vizinho me levou de carro para ir ao pronto-socorro e fazer o boletim de ocorrência.”

O caso foi registrado como lesão corporal e será investigado pela Polícia Civil. Ninguém foi preso.

Outros casos
O Datafolha informou que se tornaram frequentes os relatos de pessoas que passam gritando ou tentando filmar os entrevistadores como forma de intimidação. Segundo o instituto, a maioria dos agressores se identifica como eleitor do presidente Jair Bolsonaro (PL).

De acordo com o instituto, apenas no último dia 13, houve dez casos de agressões verbais e tentativas de intimidação em municípios de diferentes regiões do país, em um grupo de 470 pesquisadores. Foram registradas ocorrências em São Paulo, Minas Gerais, Alagoas, Maranhão, Goiás, Pará, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Outros casos recentes ocorreram em Belo Horizonte, quando quatro homens perseguiram uma entrevistadora, que caiu no chão e machucou o joelho, e em Goiânia, onde um pesquisador foi empurrado por um homem.

No Rio Grande do Sul, um pesquisador chegou a ser levado por um policial que se identificou como eleitor de Bolsonaro. Ele foi liberado após responder perguntas antes de chegarem à delegacia.

Segundo Luciana Chong, diretora do Datafolha, o caso de Ariranha foi o primeiro com esse nível de agressão física.

Agressão física
“Esse foi o primeiro caso de agressão física e isso é muito grave”, afirma Luciana Chong, diretora do Datafolha. “Os pesquisadores que estão fazendo o seu trabalho, que é um trabalho fundamental, e estão sendo desrespeitados.”

“São casos pontuais. Agora está ficando mais frequente. A gente está vendo uma piora até chegar nesse caso mais grave de agressão física.”

Fundado em 1983, o Datafolha é um instituto de pesquisa independente que pertence ao Grupo Folha e atua com pesquisa eleitoral e levantamentos estatísticos para o mercado. O instituto não faz pesquisas eleitorais para governos ou políticos.

De acordo com Chong, a maioria das pessoas que hostilizam os pesquisadores pede para ser entrevistada e se irrita após a negativa, porque não entende que isso não é permitido pela metodologia do instituto.

“A gente tem visto que as pessoas querem ser entrevistadas e quando o pesquisador diz que não pode, que é uma questão de metodologia do instituto, elas ficam irritadas”, afirma Chong.

“Os pesquisadores fazem um treinamento padronizado e as pessoas que se oferecem não podem ser entrevistadas. A abordagem tem que ser aleatória. Quando o pesquisador vai para campo, ele já sabe quantos homens e mulheres ele tem que entrevistar. Ele fica nos pontos de fluxo, que não necessariamente são de grande fluxo. E ele vai entrevistando aleatoriamente. Se começa a aceitar que as pessoas se ofereçam isso pode causar um viés. Pode permitir que um terceiro influencie. E tem que ter uma padronização. É um campo grande, em todo o país. Todo mundo tem que fazer da mesma forma. E isso é feito assim desde o início do Datafolha.”

Pesquisadores não podem aceitar pedidos de entrevista
O Datafolha trabalha faz as pesquisas presenciais em pontos de fluxo, locais em que as pessoas circulam. Esses pontos são definidos previamente por sorteio. Primeiro sorteiam os municípios, depois os bairros e em seguida os pontos.

Além disso, são definidas cotas proporcionais de homens e mulheres e de faixas etárias, de acordo com os dados do IBGE e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Os pesquisadores são orientados a não aceitar pedidos de entrevista, a não darem permissão para serem filmados e não usar crachá durante o deslocamento, apenas quando estiver fazendo as entrevistas.

Todos os entrevistados recebem o mesmo treinamento para trabalhar em qualquer lugar do Brasil.