Brasil

Sem abrigo, 135 afegãos seguem acampados em aeroporto de SP

Desde 13 de outubro, quando 54 afegãos foram encaminhados para um abrigo de Morungaba, interior de SP, não houve mais acolhimento. Voluntários têm se unido para ajudar com ações para que os imigrantes possam tomar banho, fazer exames médicos e aprender a língua portuguesa.

O número de afegãos que estão acampados no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, após fugirem do regime Talibã aumentou no mês de novembro para 135 imigrantes, conforme a prefeitura informou nesta segunda-feira (7).

Desde 13 de outubro, quando 54 afegãos foram encaminhados para um abrigo de Morungaba, interior de São Paulo, não houve mais acolhimento em Guarulhos e nem em outras cidades da região.

A prefeitura explicou que a verba federal de R$ 240 mil foi enviada mês passado e garante a abertura de mais 100 vagas. Porém, a previsão é de que elas sejam abertas nas próximas semanas. O motivo da espera é, conforme o Executivo, o processo de credenciamento e adequação do espaço.

“A Prefeitura está em processo de adequação de espaço e credenciamento da instituição para que essas vagas estejam disponíveis”, diz a nota.

Onda de apoio

Dentre os imigrantes acampados no aeroporto, há crianças e idosos que estão dormindo no chão e vivendo com as doações mobilizadas por ativistas que acompanham a situação. Por isso, com a repercussão na imprensa sobre o acampamento improvisado de afegãos, muitos grupos têm se unido para ajudar os imigrantes.

Há desde ações realizadas para que eles possam tomar banho, fazer exames médicos, cortar cabelo e aprender a língua portuguesa até proporcionar lazer.

Uma vaquinha virtual também foi criada pelo coletivo Frente Afegã. O valor arrecadado irá para a compra de itens de alimentação, mantas, aluguel de ônibus para a locomoção em ações de banho, além de contribuir com a ajuda de custo para os voluntários, como transporte e alimentação, medicamentos e emergências.

O instituto Somando Mais Ações, por exemplo, tem feito um trabalho emergencial para os afegãos com os projetos Médicos nas Ruas, Enfermeiros e Sorriso Social (dentistas) para prestar atendimento a essas pessoas.

O laboratório Hope Medicina Diagnóstica e Saúde afirma que se sensibilizou com a situação e passou a oferecer serviços, como acompanhamento para gestantes, idosos, crianças, hipertensos e diabéticos.

Foram oferecidos exames de análises clínicas, como hemograma, HIV, VDRL, glicemia, antígeno de Covid e urina.

“Essa mobilização da sociedade civil está sendo fundamental para ajudar os imigrantes em coisas que o governo não ajudou, como auxílio de saúde e até lazer. No fim, a sociedade está tapando buraco. Estamos dando coisa de qualidade e estamos trazendo para esse povo tão sofrido uma chance de recomeçar a vida no Brasil. Temos afegãos que estão trabalhando, aprendendo português e seguindo a vida”, diz a ativista Swany, que acompanha a chegada dos imigrantes.

Parte dos alimentos arrecadados na tradicional festa de Halloween da cantora Pabllo Vittar, na capital paulista, também foi encaminhada para os mais de 100 afegãos no dia 28 de outubro, segundo a assessoria da artista confirmou ao g1.

“O #halloweendapabllo foi um sucesso. Obrigada filhas pelo apoio de sempre. Estou feliz porque conseguimos arrecadar meia tonelada de alimentos para doação. Obrigada mesmo. Quero agradecer vocês do fundo do meu coração”, escreveu.

Para a ativista Swany Zenobini, que acompanha a chegada dos imigrantes desde 19 de agosto deste ano, foi gratificante receber a primeira doação de uma artista brasileira. “A Pabllo foi a primeira artista que fez uma ação direcionada para afegãos. Isso foi incrível”, afirmou.

Perfil dos imigrantes

Quase 3 mil afegãos entraram no Brasil de janeiro a setembro de 2022, de acordo com um relatório elaborado pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra) a partir dos dados da Polícia Federal e repassado com exclusividade ao g1.

Desde que o governo brasileiro publicou uma portaria estabelecendo a concessão de visto temporário a afegãos, para fins de acolhida humanitária, o Brasil passou a ser um dos principais destinos para os cidadãos

Os dados apontam que o país recebeu 2.842 imigrantes. Destes, 1846 são homens e 993 mulheres. Outros três imigrantes não houve a constatação de gênero. Além disso, a grande maioria que entrou no Brasil tem entre 25 e 40 anos. Há também 712 crianças de 0 a 15 anos.