Viviane Fernandes conta que estava com o bebê: ‘Veio com o fuzil apontando para a gente’. A Polícia Militar afirma que não compactua com excessos ou eventuais desvios de conduta.
Uma jornalista negra denuncia uma abordagem violenta da Polícia Militar no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Viviane Fernandes conta que um policial apontou um fuzil para o filho dela, de um 1 e 8 meses, em uma blitz na última sexta-feira (18).
“É uma coisa que, infelizmente, é uma realidade da nossa cidade. A abordagem é assim do túnel para cá e, se você tiver um tonzinho mais escuro, você é suspeita”, afirmou Viviane.
Ela expôs o episódio em uma rede social. A jornalista estava a caminho da casa dos pais, pouco antes das 11h, em um carro de aplicativo, quando o veículo foi parado por policiais.
O motorista tinha acabado de sair da Avenida Itaoca e dirigia pela Estrada do Itararé, em Bonsucesso. Viviane conta que foi tratada como se fosse suspeita de um crime.
“O rapaz no Uber, geralmente como a gente faz no Rio, abaixou o vidro do carro. Meu vidro já estava abaixado, meu filho estava amamentando, e o policial veio com o fuzil apontando para a gente e mandou encostar. Nisso, ele já pegou minha bolsa, revirou minha bolsa, tinha uma mala atrás, ele pegou a mala, ele arrebentou a minha mala. Minha mala está rasgada do lado, arrebentou o fecho e viu que não tinha nada e mandou sair”, contou Viviane.
Fuzil
A jornalista conta que, durante a abordagem, um dos policiais foi extremamente grosseiro e agressivo e chegou a apontar o fuzil para o menino. Segundo ela, o agente foi irônico quando quis saber o que ela carregava na mala.
“As únicas perguntas foram: para onde você está indo e, quando ele viu a minha bolsa, com bastante roupa, ele ironizou e falou: ‘Tá de mudança?’, e eu só falei: ‘Não’”, disse Viviane.
Segundo a jornalista, ele não pediu os documentos dela e do filho. Ela chegou a gravar um vídeo com a mala ainda cheia de roupas e com o zíper destruído durante a abordagem policial.
Sentimento de impunidade
Em uma rede social, Viviane escreveu:
“É ficar em choque e incrédula que um servidor da lei aponta o fuzil para uma criança. É ter uma crise de ansiedade e sentimento de impunidade. É ter medo de ser preta, de ter filho preto, de ter medo da polícia, mesmo que você não deva nada”.
Viviane falou sobre o caso.
“Apelo é para as pessoas não acharem que é besteira, que agora tudo é racismo. Tem pessoas que falam isso, invalida toda uma luta e descredibiliza algo que existe que é o racismo, ele é muito evidente onde a gente mora. Ver aquele fuzil apontado me passou um milhão de coisas na cabeça. De mães que já perderam seus filhos. A violência que foi totalmente desnecessária, eu não apresentei nenhum tipo de resistência, nem nada. Ele acabou de fazer um ano e oito meses e, infelizmente, ele já teve esse tipo de contato. Isso me machuca muito, de verdade”, afirmou a jornalista.
A Polícia Militar afirmou que não compactua com excessos ou eventuais desvios de conduta praticados por seus policiais. E que a população pode fazer denúncias na ouvidoria, pelo telefone (21) 2334-6045.