Galvão Bueno, aos 72 anos, fará neste domingo sua última transmissão em um jogo de Copa do Mundo. Foram 13 edições da competição com o narrador mais famoso do país em ação, 11 delas na TV Globo. Na primeira, em 1986, narrou atuações de gala de Maradona nas oitavas de final contra o Uruguai e na semifinal contra a Bélgica. Galvão fechará seu ciclo em Copas do Mundo com outro craque argentino vestindo a camisa 10 em campo: Lionel Messi, na final contra a França, a partir das 12h.
Em sua trajetória nas transmissões de Mundiais, Galvão Bueno foi a voz de dois títulos da seleção brasileira, o tetracampeonato em 1994 e o penta em 2002. Narrou ao todo 53 partidas do Brasil no torneio, com 36 vitórias, oito empates e nove derrotas.
Galvão criou bordões que transcenderam o mundo esportivo e se integraram à cultura popular brasileira. Do “haja coração” ao “lá vem eles de novo”, foi a voz do torcedor por mais de quatro décadas. Relembre alguns de seus momentos mais marcantes em Copas do Mundo:
“É tetra!”
A transmissão do tetracampeonato em 1994 foi provavelmente a mais marcante da trajetória de Galvão Bueno em Mundiais. Nas oitavas de final contra os Estados Unidos, finalizou a narração de grande jogada de Romário com um estridente “faz, Bebeto” — que fez. Na partida seguinte, contra a Holanda, Bebeto devolveu a assistência para o Baixinho. Ao ver a bola viajando à meia-altura, Galvão Bueno torceu pela finalização do camisa 11 e emendou a mesma frase mais duas vezes, já comemorando o gol: “Vai Romário! Vai Romário! Vai Romário! Gooool!”.
Na final da competição, após empate por 0 a 0 entre Brasil e Itália, a disputa foi para os pênaltis. Roberto Baggio chutou para fora a última cobrança italiana e deu o tetracampeonato para a seleção brasileira. Poucos se lembram qual foi a reação de Taffarel, o goleiro do Brasil, ou a de qualquer outro jogador da seleção. A imagem que ficou marcada na memória de todos foi a de Galvão Bueno abraçado a Pelé aos berros de “Acabooooou! É tetraaaaa! É tetraaaaa! É tetraaaaa!”. Anos mais tarde, Galvão veio a dizer que “morre de vergonha” pela cena “ridícula” e pela voz “histérica e desafinada” daquele momento. Mas ponderou que tudo se deu por obra da “pura emoção” sentida com aquela conquista, conforme afirmou em entrevista ao Memória Globo.
A final do Mundial de 1994 foi a segunda narrada por Galvão Bueno na TV Globo. O narrador havia transmitido a anterior, vencida pela Alemanha contra a Argentina com um gol de pênalti — já naquela partida, Galvão exaltou a capacidade do goleiro Goycochea em defender as cobranças, o que se repetiu incontáveis vezes nas décadas seguintes.
“Sai que é tua, Taffarel!”
Na Copa de 1998, na França, Galvão Bueno estava no seu auge técnico, com fôlego para puxar o erre inicial de “Rrrronaldinho” e se sentindo mais à vontade para mesclar narrações com opiniões.
Transformou um bordão inicialmente ácido em uma exaltação ao goleiro Taffarel. O narrador acreditava que o arqueiro saía pouco do gol e criou o “sai que é tua, Taffarel”. Foi com esse bordão que ele narrou as duas defesas de pênalti do goleiro nas semifinais contra a Holanda.
Penta e “cala a boca, Galvão”
No pentacampeonato em 2002, Galvão teve uma coleção de erres para puxar ao longo da campanha de uma seleção que tinha Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo. O narrador foi um dos críticos ao prêmio de melhor da Copa concedido ao goleiro alemão Oliver Kahn antes da final contra o Brasil. Quando Ronaldo marcou o primeiro gol naquela decisão, Galvão disparou: “Que Oliver Kahn que nada! Bateu roupa o goleiro alemão!”.
Nos anos seguintes, cada vez mais Galvão passou a opinar (e a “cornetar”) durante suas transmissões. Até que na Copa de 2010, na África do Sul, viu surgir a campanha “cala a boca, Galvão” contra ele nas redes sociais. O narrador não ignorou as críticas e conseguiu até mesmo atrair novos admiradores ao entrar na brincadeira. Seu livro, lançado em 2014, tem o título “Fala, Galvão!”.
“Lá vem eles de novo…”
Copa do Mundo 2014 – Semi-finalCopa do Mundo 2014 – Semi-final Foto: AFP PHOTO / ADRIAN DENNIS
A Copa do Mundo de 2014 teve outro grande momento na trajetória de Galvão Bueno comandando as transmissões da competição. Nos 7 a 1, como de costume, Galvão entoou o sentimento dos brasileiros ao ver a seleção da Alemanha empilhar bolas no fundo do gol defendido por Júlio César. “Olha a bola tocada, virou passeio!”, disse no 4 a 0. Três minutos mais tarde, narrou a jogada do quinto gol como se não acreditasse no que via: “E lá vem eles de novo, olha só que absurdo”.
Galvão Bueno ainda tem contrato com a Globo para participar das transmissões da emissora pelo menos até as Olimpíadas de 2024. Na final da Copa do Catar, entre Argentina e França, o narrador admitiu que estará na torcida dos hermanos. Se a torcida der certo, Galvão verá em sua última Copa do Mundo na Globo o mesmo desfecho que viu em sua primeira: um craque com a camisa 10 argentina erguendo a taça.