Juliette diz que trata na terapia culpa por ter dinheiro: ‘Não posso me fingir de louca’

São 10h30 de sexta-feira, 9 de dezembro. Juliette Freire surge de pijama, óculos de grau e sem um pingo de maquiagem para a videochamada com o EXTRA. Está à vontade, sentada em sua cama, na mansão em que vive no Rio. Ela conversa pausadamente e tem o olhar sereno, temperando as respostas com os mesmos bom humor e carisma que encantaram todo um Brasil e a fizeram campeã do “Big Brother Brasil 21”. Pouco mais de um ano e meio depois da final do reality, passado o turbilhão do assédio desenfreado e com a carreira na música em ascensão, a paraibana está numa nova fase: Ju vai estrear à frente de uma banda na temporada de verão do “Saia justa”, do GNT, programa em que sempre sonhou trabalhar. Nesta entrevista, ela faz um balanço dos últimos meses, na profissão e na vida pessoal, e dá um panorama do que ainda está por vir.

É a primeira vez que o programa terá uma banda. Na temporada de verão, o elenco do “Saia” se unirá ao do “Papo de segunda”. Aí eu tenho um lugarzinho no palco, onde eu canto, interajo e participo dos assuntos. Faço dois musicais, tem caraoquê… As músicas têm a ver com a pauta do dia. É bem legal… São quatro músicos comigo, que vieram da Paraíba. O cenário foi uma casa em São Paulo, com piscina, sem plateia. Já está tudo gravado. Serão cinco programas, um por semana no ar (a partir de 4 de janeiro, sempre às quartas-feiras, às 22h45).

De que forma surgiu esse convite?

Eu sou apaixonada pelo “Saia”! Quando saí do “BBB”, me perguntaram qual era o programa que eu mais queria fazer, e eu disse que era esse. Acho as pautas muito legais, a energia feminina… Aí fui como convidada uma vez e sempre deixei claro o meu interesse em estar com elas. Quando surgiu essa ideia da banda, o pessoal entrou em contato, e eu aceitei na mesma hora. Modifiquei toda a minha agenda pra estar lá.

Você disse que vai debater os temas do programa, que é feminino e feminista. Estudou para se sentir mais segura ao se posicionar?

Eu leio o tempo inteiro sobre feminismo. É algo que me alimenta. Olha aqui o meu livro de cabeceira (mostra “Mulheres que correm com os lobos”). Minha formação foi humanista, na minha família e depois na minha faculdade. Eu cursei Direito, as pautas eram muito sociais. Então, eu fui muito bem alimentada com esses assuntos e sigo me interessando por eles, independentemente de ser uma influência para os outros. Já era algo que eu vivia.

Como está a sua rotina um ano e meio após a sua vitória no “BBB 21”? O assédio acalmou?

Inicialmente, havia a questão emocional. Eu estava muito assustada, me adaptando a tudo. O reality é uma experiência psicologicamente muito forte, mexe com todas as suas feridas e a sua vulnerabilidade. Eu não saí bem de lá. Hoje, estou bem melhor. Não vou dizer que estou 100%, mas 80%. Afinal, foram 31 anos levando uma vida anônima e com outros propósitos. Agora, estou num universo grandioso. Não é fácil, mas é prazeroso, é algo que eu quero. Fiz algumas adaptações, porque era impossível levar a rotina trabalhando 24 horas, e estou mais tranquila. Com relação ao assédio, como eu não saía muito antes, as pessoas agora me veem e querem interagir. E eu estou conseguindo aproveitar, porque antes ficava muito nervosa, assustada. Agora abraço, converso e me divirto com isso, sabe?

Você postou fotos do seu aniversário com a legenda: “Nova idade, velhos amigos”. A badalada sagitariana completou 33 anos, no último dia 3, cercada por anônimos…

Sagitariana, alegre, mas eu tenho umas coisas de Capricórnio e de Peixes. Peixes me deixa meio poeta, artista, meio hippiezona viajante. E, por influência de Capricórnio, eu sou uma máquina de trabalho, exigência e organização. Eu sou muito 8 ou 80, loucona. Mas quanto à comemoração do aniversário com amigos antigos, eu tenho muita gratidão por ter vivido tanta coisa antes desse furacão e construído laços tão verdadeiros na simplicidade, quando eu nada tinha. Valorizo muito isso. Eu podia fazer um evento midiático, com convidados famosos, ou celebrar com os meus, de pé no chão, literalmente. Fiquei de biquíni, bem de boa, num churrasco, perto das pessoas que me conhecem de verdade e me amam como sou. Não teve nem celular na festa. E eles me agradeceram tanto… Quando existe o celular, o comportamento das pessoas se direciona para criar situações, nada acontece naturalmente. Ali, estava todo mundo leve.

Além desses de sempre, você fez amigos de verdade no meio artístico?

Tenho poucas pessoas que são muito próximas. Anitta é uma. Nos falamos por telefone uma vez por semana, sem cobranças. Quando ela descobriu a doença e me contou, a gente passou uns dias meditando, na natureza (a cantora carioca recentemente passou por internações e chegou a contar que foi diagnosticada com o vírus Epstein-Barr, que causa a “doença do beijo”, mas não deu detalhes sobre seu quadro). Antes de fazer amizade com ela, fiquei amiga da vida dela. Da família, dos amigos e da equipe. Então, é como se eu já fosse uma pessoa de casa. Além dela, tem Rafa Kalimann, Pocah, Camila Coutinho, Gil do Vigor… Duas pessoas com quem eu me surpreendi com a simplicidade: Angélica e Luciano Huck. Angélica é muito eu! Pensava que ela era dondoquinha, que nada! É de boa, conversa sobre tudo. Luciano também. Eu me senti muito à vontade na casa deles, com os filhos.

Você continua morando sob o mesmo teto que a sua equipe?

Não… Morei por muito tempo. Agora dois deles moram no apartamento da frente e meus sócios moram numa casa no condomínio ao lado. Porque eles têm dois filhos adolescentes, mãe, cachorro, gato, papagaio… Moro com uma amiga, meu irmão e minha mãe. Mas a galera fica sempre por aqui.

A Juliette famosa ainda encara os afazeres domésticos?

Nunca fui uma pessoa muito muito prendada. Fazia por necessidade, porque eu morava só. Hoje, faço pouco, não vou mentir. Preparo um lanchinho gostoso, sou organizada com as coisas. Quando acordo, faço a ronda, sabe? Vejo se as plantas foram aguadas, se a piscina está limpa, o que está faltando. Dou uma geral. Mas não boto a mão na massa, não vou mentir, porque não dá. Trabalho tanto, que quando estou em casa só quero descansar.

Mantém grupo de WhatsApp com os amigos? Vocês trocam memes?

Mulher, eu sou péssima com isso! Eu não respondo. Desde sempre. Os amigos tiram onda comigo, dizem que sou a monossilábica do WhatsApp. Prefiro ligar ou, que seja, mandar áudio. Mas não fico de conversinha. Se for pra tratar comigo, tem que telefonar. Mas eu tenho os grupos da faculdade, do trabalho, das mídias, de música… Falo o necessário, e se ficarem batendo papo eu não olho mais (risos). Se vejo aquele monte de mensagem, peço um resumo e sigo a vida.

Foi convidada para a Farofa da Gkay (em Fortaleza, no Ceará)?

Fui… Recebi o saco de lixo (o convite). Acho ela genial, maravilhosa! Só não fui porque estava viajando por muitos dias. Quando voltei (ao Rio), levei meus irmãos e meu pai pra minha casa. E minha mãe ficou com muito ciúme, me ligava chorando. Mainha é uma criança, um bebê de birra. E aí fiquei angustiada de deixá-la. Quando minha mãe diz pra eu não ir pra farra, não adianta. Pode ser um Grammy Latino, que eu não vou. E teve o negócio de Anitta. Eu fiquei desconfortável de ir pra festa, se ela estava no hospital. Queria ter ido, descer a bunda até o chão. Ano passado, quando teve a Farofa, eu estava no olho do furacão, não deu também.

Em algum momento desses últimos meses, você se percebeu se deslumbrando com a nova realidade?

Eu sempre segui a filosofia que diz que a gente tem um lobo bom e um ruim dentro da gente, mas o alimentado é que cresce. Agora, eu tenho mais medo, porque sei que tem muito alimento, muitas oportunidades de crescer. Eu observo muito esse mundo, alimentado pelo ego, pela vaidade. Isso me incomoda. Se esse for o preço que eu preciso pagar para me manter no auge, não quero, não vale a pena. Seguro muito a minha onda e tento valorizar cada vez mais o que realmente tem valor. Se você deixar, fica uma pessoa fútil, superficial e vazia. Na performance de palco, eu acho que você tem que ter um pouco de vaidade, de glamour. Mas eu tenho até vergonha, fico rindo de mim mesma. Não sou eu, é engraçado.

Deu muitos “nãos” a propostas que para muitos seriam irrecusáveis?

O tempo inteiro. Eu sigo muito o que eu sinto. Já fiz algumas coisas que eu não queria, como ir a um programa que eu não achava legal. Chegou lá, eu me senti angustiada e me prometi que nunca mais iria me contrariar. Quando o meu coração diz “não vá, não faça”, eu aceito os ônus dessa escolha. Todos os “nãos” que dei na minha vida me orgulham. Porque senão eu não vou ser eu, e sim um robô. Recusei muita coisa que qualquer pessoa consciente e ambiciosa não recusaria. Marcas que passavam mensagens que não combinavam comigo, que eu não acho que acrescentam à vida das pessoas. Normalmente, são essas marcas que botam mais dinheiro, né? Se hoje eu não trabalhasse mais, estaria satisfeita. Não porque ganhei em excesso, mas porque eu me contento com o suficiente para ser feliz e continuar sendo digna. Não vendo minha dignidade por nenhum dinheiro no mundo.

Você saiu de uma situação extrema a outra: não tinha dinheiro para comprar o básico e agora tem mais do que precisa. Como lida com o fato de hoje ser milionária?

Minha cabeça segue da mesma forma. Não tenho como mudar uma mentalidade de 30 anos de uma hora pra outra. Ainda acho caras algumas coisas. Tenho quatro irmãos, um pai e uma mãe, seis sobrinhos. Agora sete, um está na barriga. E alguns amigos que eu considero como irmãos e entram nesse grupo de pessoas que ajudo. Esse núcleo ainda não está 100%. Dei moradia e plano de saúde para eles, educação para todos os meus sobrinhos… Não ia gastar milhares de reais num bem de luxo se eu tinha um tio que morava na rua. Dei uma casa pra ele. Não penso só em mim. As minhas necessidades estão mais do que satisfeitas, as dos meus parentes ainda não. Eu tenho muito, mas também enxergo a realidade de 90% dos brasileiros. Não posso me fingir de louca e achar que eu estou num conto de fadas. Eu sei de onde vim. Não tenho como me deslumbrar, não. Recebi um áudio da minha tia me pedindo uma passagem de ônibus pra ir ver a filha. Entende? Vivo uma vida muito confortável, mas sem exagero, sem ostentação. Mas o público vive aconselhando: “Ficou rica, vai gastar esse dinheiro!”. Só que eu sei como é a vida real.

O que o seu dinheiro ainda não conseguiu comprar?

Caramba! O que eu queria muito, ele já comprou: direitos básicos, dignidade humana. Sim, ele compra saúde, educação, moradia. Mas, da perspectiva da pessoa que tem dinheiro, ele não compra liberdade nem felicidade. Não sei explicar isso.

Quando a gente conversou para outra reportagem da Canal, no ano passado, você falou da importância da terapia na sua vida naquele momento conturbado. Atualmente, quais assuntos tem trabalhado nas sessões?

Faço terapia uma vez por semana e sessões extras quando estou muito estressada. Minha terapeuta costuma dizer que, pelas circunstâncias da vida, criei uma rigidez muito forte. É como se eu, para sobreviver, me mantivesse dentro de um gesso metódico, preocupado, controlador. Preciso ser mais solta. Outra questão é a culpa pelo sucesso, por ter dinheiro. Preciso encontrar um equilíbrio para me manter onde estou, que é muito bom, mas não me machucar. E tratar o medo, ganhar mais coragem para cantar. Ainda fico nervosa.

Tem lidado bem com as críticas?

Sou muito crítica comigo mesma. Quando a crítica alheia bate com a minha, dói. Porque é algo em que acredito. Na maioria das vezes, isso não acontece e eu fico rindo, pensando: “Esse povo não sabe nada”. Mas acho bom que doa, de vez em quando. Conheço gente que faz um trabalho de merda e diz: “O que importa é a minha opinião”. Uma pessoa dessas não evolui. Quero evoluir, não vim ao mundo para ser a melhor, a maior. Senão não tem nem por que estar aqui, não é?

Aprendeu a lidar com gente interesseira e invejosa?

Tem mais invejoso do que interesseiro, eu acho. Sinto essa energia e me protejo. Tenho muita fé em Deus, rezo, entrego a Ele. Não quero me fechar, mas não sou boba. Reconheço que esse mundo artístico é pesado. Quando a gente não faz parte dele, tem a ilusão de que todo mundo é bom, maravilhoso e faz tudo por amor. E não é.

Você se decepcionou com muita gente a quem admirava?

Não muito. Teve uma pessoa que fez uma comigo… Assim que eu entrei no evento, ela me lançou um olhar muito maldoso. Na hora, levei um susto, recuei, saí de perto. Avisei a Renan, irmão de Anitta, que estava com medo. Dito e feito. Em seguida, essa mesma pessoa aprontou algo ruim comigo. Eu tenho essa sensibilidade aguçada.

Leia também: Em ‘era fitness’, Juliette reclama do tempo no Rio e é ‘trolada’ por perfil da Prefeitura: ‘Você resolveu malhar, né?’

Como está a saúde?

Ótima. Só preciso fazer mais exercícios físicos pra segurar a onda de shows. Tenho condromalácia patelar nos dois joelhos (desgaste da cartilagem do osso da rótula) e uma lesão de esforço repetitivo nas costas, por conta dos anos trabalhando em salão de beleza. Sinto muita dor. Então, a ideia é ficar saradinha, mas também aguentar o pique no palco.

E a vida amorosa?

Sigo solteira, paquerando e pegando gente em off, enquanto a fofoca rola. Eu sou sonsa (risos). Assumir uma relação agora seria uma preocupação a mais. Sou muito responsável, até nas minhas decisões amorosas. Estou feliz assim.

Liste três metas para 2023.

Quero seguir fazendo o que me faz bem, o que é de verdade e não me machuca. Quero muito que esse EP ou álbum que vou lançar tenha sucesso e que as pessoas me reconheçam como cantora. Me deem o mérito que eu mereço, de fato, não o que eu quero. Vou fazer tudo para merecer. E quero que minha família esteja feliz, com saúde e plena. Também queria comprar uma casa na Paraíba, mas eu não sei se vai ser possível. Não para morar, porque com essa vida que levo eu viveria dentro de avião, e eu odeio. Se eu desistir de tudo, vou morar em Pipa (risos).

Fonte: Extra

Veja Mais

Deixe um comentário