Influenciador e aluno de ciências sociais da Universidade de São Paulo, Thiago Torres só ficou sabendo do caso porque, coincidentemente, um amigo advogado encontrou o retrato enquanto analisava um processo
O influenciador e palestrante de política Thiago Torres, que é estudante de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP), teve sua foto incluída em uma lista de reconhecimento de suspeitos em um inquérito policial que investiga um caso de sequestro na cidade de São Paulo. Ele recebeu com espanto a informação.
“Fiquei muito surpreso e sem entender o que que a gente está fazendo num lugar daqueles, de pessoas que são suspeitas”, contou ele ao g1.
A foto consta no inquérito ao menos desde outubro deste ano, mas Torres só ficou sabendo do caso porque, coincidentemente, um amigo advogado estava analisando o processo e reconheceu sua foto.
Em seguida, ele compartilhou o ocorrido em seu perfil no Instagram. “Era só o que me faltava mesmo”, lamentou ele em postagem na segunda-feira (19).
Conhecido como Chavoso da USP, Thiago faz sucesso nas redes por produzir conteúdos relacionados a questões sociais, raciais e de gênero.
Funkeiro, da periferia e gay: como fui parar na USP
“Fui estudar o caso, como é de praxe na rotina de um advogado. Estava lendo os autos para poder identificar a conduta do meu cliente quando vi uma das páginas com seis fotografias, e uma delas era do Thiago”, explicou ao g1 o advogado criminalista Bruno Santana, amigo de Thiago.
“Poderia até ser minha foto lá, porque eles colocam imagens de pessoas que, esteticamente, se assemelham a pessoas da periferia, da quebrada, tem toda essa estigmatização. Por isso, o reconhecimento é falho”, disse.
“Você coloca uma pessoa como um chavoso, cheio de corrente, com a camisa do Flamengo, de boné, um padrão que qualquer acusado de um crime pode ter. E se a vítima fala que foi ele?”, questionou Santana.
O advogado citou dois exemplos recentes sobre casos semelhantes:
Racismo estrutural
Thiago Torres disse que duas coisas podem explicar por que sua foto foi parar em um álbum de reconhecimento de suspeitos: o racismo estrutural e a militância política exercida por ele.
“Como essas instituições olham para a gente e tratam a gente como suspeito naturalmente. Isso é uma coisa que eu sempre passei nos enquadros da vida, quando a polícia me vê na rua e me para. Agora, isso se manifestou de uma outra forma”, relatou.
“É mais uma face desse racismo institucionalizado, desse racismo estrutural, do preconceito com moradores de periferia e de favela de um modo geral, com o preconceito com a nossa forma de se vestir e com os estereótipos que a gente carrega para esse sistema construídos pela mídia”, completou.
Torres disse que pensa na possibilidade de a polícia ter incluído a foto de forma proposital, “por maldade”, como uma forma de incriminá-lo.
O que diz a Secretaria da Segurança Pública
O g1 questionou a Secretaria da Segurança Pública (SSP) sobre o caso, mas não obteve respostas até a última atualização desta reportagem.