Brasil

Vítima de golpe contratou buffet com lagosta e recebeu panela com macarrão

A analista de logística Suzane Velame conta que ficou revoltada ao contratar um buffet com lagosta, camarão, açaí, entre outros alimentos e receber apenas uma panela de macarrão no aniversário de 15 anos filha, em Salvador. A mulher é umas das 40 pessoas que denunciam a empresa MV Cerimonial por não cumprir acordos feitos em contratos.

“Frustração é o resumo do que foi a festa. A gente passou o ano inteiro se dedicando na organização desse evento, a realização de um sonho. Eu como mãe nunca tinha feito uma festa para minha filha. Então era a festa dos sonhos, os 15 anos”, disse a baiana.

“Eu fico até emocionada de lembrar aconteceu as coisas no dia. Um dano irreparável, mesmo que a gente consiga restituir o valor, esse dia não vai voltar mais”.

 

Suzane Velame afirmou que o evento teve a presença de 140 pessoas. O buffet foi contratado para 200 convidados.

“A comida do buffet foi apenas uma panela de macarrão para 140 pessoas. Ficou faltando mini hambúrgueres, açaí, emprestados, lagosta e camarão. A mesa de antepastos estava vazia, as bebidas vieram erradas, também ficou faltando funcionários, foi um caos completo”, lamentou a mãe da aniversariante.

Vítima de golpe contratou buffet com lagosta e recebeu panela com macarrão no aniversário de 15 anos da filha — Foto: Reprodução/TV Bahia

A comida da festa não foi o único problema que preocupou a família da adolescente. Suzane também tinha contratado um drone para filmar a entrada da aniversariante no evento, mas não recebeu o serviço.

“Eu tinha contratado um drone para fazer a filmagem dela entrando na festa 17h, com o pôr do sol, porque o tema era tropical. Não tinha nada arrumado do lado de fora, nem mesinhas, toalhas, flores que eram para ter na entrada, e não tinha nada pronto para fazer a filmagem”, relatou.

O coordenador de merchandaising Jeovando Ferreira também pretendia fazer a festa de aniversário de 15 anos da filha. — Foto: Reprodução/TV Bahia

O coordenador de merchandaising, Jeovando Ferreira, também pretendia fazer a festa de aniversário de 15 anos da filha. O valor pago foi R$ 15.400, mas ele afirma que a empresa propôs que o evento fosse adiado em quatro meses.

“A empresa tentou adiar a data do evento, mas eu não consigo prorrogar, porque tenho familiares com passagens compradas, vestidos comprados”, disse o pai da adolescente.

Casamento não realizado

O contador Erik Santana Mônica também denuncia a empresa por golpe. Ele e a noiva venderam a motocicleta do casal para conseguir o dinheiro e realizar um sonho: a festa de casamento.

“Escolhemos a empresa, pagamos tudo. Demos a entrada de R$ 4 mil no PIX e passamos o resto no cartão: parcelas de mil e poucos reais”, contou.

Com a data da festa marcada, mas sem conseguir falar com a empresa, o casal registrou um Boletim de Ocorrência na Polícia Civil e busca alternativas.

“Tudo marcado, certo, e agora gente vai ver o que vai fazer. Correr atrás de empréstimo, amigos que possam ajudar e aí vamos ver o que vai acontecer”, relatou, decepcionado.

Segundo o contador, a empresa MV Cerimonial não responde as mensagens.

“Buscamos a empresa, ligamos e ninguém atende celular. Só dá desligado, eles não respondem WhatsApp, não atendem ligações e aí estamos sem saber o que fazer”.

Entenda o caso

Pelo menos 11 eventos foram cancelados pela empresa em Salvador, em janeiro, com a justificativa de que o cerimonial precisa passar por reestruturação por causa da pandemia da Covid-19.

De acordo com a empresa, a devolução do dinheiro investido pelos clientes não pode ser feita de forma imediata. Em nota enviada para os clientes, o cerimonial cita a Medida Provisória 1.101/2022, que entrou em vigor durante a pandemia da Covid-19. Segundo o cerimonial, os valores serão devolvidos na forma no prazo relacionado até 31/12/2023. 

Segundo a Polícia Civil, foram registradas duas denúncias contra os proprietários do cerimonial entre os dias 8 e 16 de janeiro. Um dos clientes também registrou ocorrência de crime contra a honra e os casos são apurados pela 12ª Delegacia de Itapuã.

Em um grupo no WhastApp, 40 pessoas afirmam estarem na mesma situação e procuram soluções.

Segundo a advogada Fabiana Lemos, especialista em direito do consumidor, algumas cláusulas contratuais estão sendo usadas equivocadamente pela empresa como argumentos para os cancelamentos. Uma delas seria a Medida Provisória citada na nota, que vale apenas para eventos cancelados até o dia 31 de janeiro de 2022.

“A lei contempla os anos de 2020, 2021 e 2022, ou seja, aquelas festas não realizadas nesses anos até dezembro de 2022 tem um prazo para reembolso prorrogado. Neste caso, todos os eventos foram designados para janeiro de 2023, já sem incidência da pandemia deu Covid-19 de uma forma tão intensa. Então não há possibilidade de ter como justificativa essa medida provisória, porque não não há nenhum tipo de decreto de isolamento social”, afirmou.

Confira a nota da empresa na íntegra:

Como foi amplamente divulgado pela imprensa, o SARSCoV-2 (COVID-19) gerou desestruturação mundial. Tal desestruturação mundial ainda angaria espaço no tempo atual. O setor de eventos, dentre todos os que existem, certamente, foi o mais prejudicado. Prova disso, foi todo influxo derivado da Lei nº 14.046, de 2020, Lei n.º 14.148/21, que instituiu o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos, bem como, a Medida Provisória 1.101/2022. As leis não foram – e provavelmente não serão – suficientes.

A principal causa do cancelamento é a necessidade de reestruturação da empresa, derivada das fortes consequências do COVID-19 e posteriormente a seu fortalecimento, cremos na retomada das atividades

A MV CERIMONIAL é empresa séria, e baseada na Medida Provisória 1.101/2022, informa a todos os CONTRATANTES que os respectivos valores serão devolvidos na forma da Medida provisória, inclusive no prazo relacionado até 31/12/2023. Infelizmente, sabemos que muitos eventos – já pagos – precisarão ir para outros locais e outros ambientes e a MV CERIMONIAL não possui recursos financeiros para reembolso imediato.