Dois meses depois do atentado a duas escolas em Aracruz, no Norte do Espírito Santo, que matou quatro pessoas e feriu outras doze, a aluna Thaís Pessotti da Silva, de 14, é a única vítima do ataque que segue internada. A estudante foi baleada na cabeça e, devido à complexidade do ferimento, segue com o projétil alojado no corpo.
Às vésperas de completar 60 dias da tragédia, o pai de Thaís conversou com exclusividade com o g1 na noite desta terça-feira (24).
“Nossa pequena grande guerreira é um milagre que Deus nos deu a oportunidade de vivenciar. Ela luta pela vida e surpreende a medicina e a todos com sua força e evolução”, falou o pai.
O técnico de pesquisa Almir Rogério da Silva contou que, em meados de dezembro, a filha foi transferida do Hospital Infantil de Vitória e segue o tratamento em um hospital particular da Grande Vitória, sem previsão de alta.
“Nossa pequena grande guerreira reage bem ao tratamento. Thais foi atingida com um tiro na cabeça e o projétil ainda está alojado”, explicou.
Para acompanhar a estudante no hospital, a família inteira se mobiliza e se reveza para dar mais atenção e suporte à jovem.
Thais está sempre acompanhada do pai, da madrasta, da irmã mais velha e da mãe.
De acordo com o pai, Thais tem recebido cuidados para reabilitar a fala e os movimentos, que vêm voltando aos poucos.
“Desde o atentado, Thais vem apresentando vitórias diárias, nos fortalecendo e mantendo nossos corações cada dia mais quentinhos e nos enchendo de esperança. O tratamento tem focado na parte fonoaudiológica e fisioterapêutica, com conquistas diárias altamente comemoradas. Na parte motora, o movimento do lado esquerdo voltou primeiro, ainda em evolução em sua coordenação, o lado direito começou a acordar os movimentos há duas semanas e vem evoluindo diariamente”, comemorou.
Segundo o pai, a filha realiza as atividades que são propostas com entusiasmo e a cada novo comando realizado, a alegria dela contagia todos a sua volta.
“Thais mantém interação com todos ao seu lado, contagiou toda a equipe com suas caras e bocas. Está desenvolvendo bem em relação a fonoaudiologia, começando a imitar o som proposto mesmo sabendo que há um longo caminho a ser vivido em prol da sua restauração completa”, disse Almir.
O pai agradeceu as orações que a filha tem recebido de familiares, amigos, amigos dos amigos e de todos os desconhecidos que mandam boas energias para Thais, torcendo por sua recuperação.
“Quero agradecer também a empresa onde trabalho, a Suzano, por todo suporte a Thaís e à nossa família. Aproveito para manter o pedido de orações a todos para a recuperação plena de Thais. Sabemos que o caminho é longo, mas minha filha nunca estará sozinha”, agradeceu Almir.
No atentado, em 25 de novembro de 2022, 13 pessoas foram baleadas, 10 delas professores. Três professoras morreram.
Dos três alunos que foram baleados, uma menina morreu e Thais segue internada. A família de um menino que também foi baleado no abdome não deu detalhes sobre o estado de saúde do garoto.
Além deles, outras três pessoas ficaram feridas no ataque em decorrência da confusão para fugir do assassino, dentre elas uma aluna que quebrou a perna.
O ataque
O ataque a duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, deixou quatro mortos e 12 feridos.
O assassino, de 16 anos, estudou até junho no colégio estadual atacado. A investigação apontou que o ataque foi planejado por dois anos e que o criminoso usou duas armas do pai, um policial militar.
Os disparos aconteceram por volta das 9h30 na Escola Estadual Primo Bitti e em uma escola particular que fica na mesma via, em Praia de Coqueiral, a 22 km do centro do município. Aracruz, onde o ataque aconteceu, fica a 85 km ao norte da capital.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o assassino arrombou dois portões e invadiu, pelos fundos, a escola estadual. Com uma pistola, ele foi até a sala dos professores e atirou contra os educadores. Duas professoras morreram no local. Nenhum aluno foi baleado na primeira escola.
Na sequência, o atirador deixou a escola estadual em um carro e seguiu para a escola particular Centro Educacional Praia de Coqueiral. Na unidade, uma aluna foi morta. Após o segundo ataque, o assassino fugiu em um carro. Ele foi apreendido ainda na tarde após o ataque.
Um dia após o atentado, a Polícia Civil informou que o criminoso vai responder por ato infracional análogo a três homicídios e a 10 tentativas de homicídio qualificadas. Também no dia seguinte ao ataque, uma professora baleada na primeira escola, que estava internada, morreu.
No dia 4 de dezembro, o assassino foi sentenciado a cumprir até três anos de internação. O tempo é o limite máximo estabelecido como de medida socioeducativa para adolescentes pela lei.