Após uma caminhonete ficar com o interior completamente derretido depois de ser atingida por um raio na BR-020, em Goiás, físicos explicam sobre o princípio da Gaiola de Faraday, que “protegeu” o motorista de ter recebido um choque, e porque os veículos são considerados locais seguros durante tempestades.
O raio atingiu o veículo na tarde de sexta-feira (20), enquanto o condutor passava pela cidade de Posse, no nordeste do estado. O mecânico que ajudou o motorista contou que o raio teria atingido primeiro a antena do veículo, depois passado para o interior, provocando um curto-circuito.
O profissional ainda contou que o motorista da caminhonete, que não quis se identificar, disse que saiu rapidamente do veículo, fechando as portas para que as chamas apagassem. Ele não sofreu nenhum ferimento.
Gaiola de Faraday
Os professores de física George Fontenelle e Welder Jorge, de Goiânia, explicam que não são os pneus do carro que blindam a descarga elétrica, mas, sim, o princípio da Gaiola de Faraday, formado pela superfície metálica completamente fechada.
“A questão X é o campo elétrico. As cargas que vêm do raio se posicionam de uma forma que toda a carga elétrica que atinge um recipiente metálico fechado será mandada para a parte externa, de tal forma que não vai eletrocutar uma pessoa”, explica Fontenelle.
“As cargas se concentram só na superfície, elas não entram no sistema [carro] mesmo que tenha matéria, como os bancos, etc. A pessoa que está dentro do carro fica isolada”, conta Welder.
Por que o interior da caminhonete derreteu?
Os físicos explicam que o interior da caminhonete ficou derretido por causa da alta temperatura dos raios, o que provocou o curto-circuito em toda a parte elétrica do veículo.
“No caso da caminhonete, as imagens mostram que o raio superaqueceu e fez derreter o interior. Isso porque a temperatura de um raio desse é altíssima, supera 2 mil graus Celsius”, pontua Fontenelle.
“Caso o raio tenha atingido direto antena, foi pelo ‘Princípio das Pontas’, que concentra e atrai as cargas elétricas das nuvens. Como a descarga de um raio é alta demais, isso provocou o curto-circuito na superfície. Os fusíveis, a estrutura não aguenta. Os fios superaquecem e provoca o incêndio”, ressalta o professor Welder.
Lugar seguro
Ainda segundo os físicos, a estrutura de um carro funciona de uma forma parecida com um para-raios, estando os passageiros seguros, caso todas as portas estejam completamente fechadas.
“Não existe nenhuma possibilidade de cair uma descarga elétrica em um carro e uma pessoa dentro do carro tomar um choque. Ou seja, em uma tempestade, o lugar seguro é um carro. Em Goiânia já aconteceu de um fio de alta tensão cair sobre um carro e ninguém se ferir”, pontua o professor Welder.
“A priori, até em pequenas aberturas do carro, como a janela aberta, por exemplo, não tem o risco de o raio entrar, apenas se essa a abertura aumentar e afetar o campo elétrico”, explica.
Gaiola de Faraday: O nome do princípio se dá a partir de um experimento de blindagem eletrostática feita pelo físico e químico britânico Michael Faraday, em 1836.
Uma cena do filme ‘O Aprendiz de Feiticeiro’, exemplifica o experimento e mostra duas pessoas em uma espécie de gaiola metálica atingida por raios, mas sem a capacidade de provocar o choque elétrico nelas.