Polícia

Grávida morta: companheiro preso suspeito de ser mandante tentou apagar histórico do celular, diz polícia

O professor Diogo Viola de Nadai, preso nesta terça-feira suspeito de ser o mandante e autor intelectual da engenheira Letycia Peixoto Fonseca — grávida de oito meses alvo de tiros em Campos dos Goytacazes — tentou apagar o histórico do seu celular no dia do crime, que também vitimou o bebê da mulher. Segundo a investigação da Polícia Civil, ele realizou no dia 2 de março buscas de “como resetar um Iphone” e “como limpar o icloud “. A descoberta foi um dos motivos pelos quais a 134ª DP (Campos) pediu a prisão temporária do professor.

Desde 2015 até hoje, Diogo está com as duas mulheres. Até que Letycia/vítima engravidou. A gestação foi evoluindo até que ela chegou aos oito meses. Aproximava-se o momento da decisão. O filho estava próximo de nascer. Chegou um momento crucial de Diogo decidir o que fazer da vida dele, até que decidiu matar uma das duas e optou por matar a Letycia, eliminando seu grande problema. Não havendo mais uma das duas mulheres, o relacionamento com a outra estava solucionado. Diogo tentou apagar todo seu Iphone e Icloud, conforme histórico de pesquisa. Se ele não fosse o mandante do crime não haveria nenhum motivo para fazer isso logo após a execução”, escreveu a delegada Natália Brito Patrão ao pedir a prisão temporária do professor.

Pedido de empréstimo horas antes do crime

Diogo Viola teria pedido à companheira, horas antes do crime, fazer um empréstimo de R$ 16 mil para pagar dívidas de sua loja. A informação foi dada por Cintia Pessanha Peixoto Fonseca, mãe de Letycia Peixoto Fonseca, na delegacia e foi uma das informações usadas pelo Tribunal de Justiça para decretar a prisão temporária do professor. Diogo é apontado pelo inquérito da Polícia Civil como autor intelectual e mandante do homicídio da companheira.

“A declarante (mãe de Letycia) se recorda que no dia do crime, ou seja, dia 02/03/2023, na hora do almoço, a LETYCIA comentou que o DIOGO pediu para que ela fizesse um empréstimo no valor de R$ 16.000,00 em nome dela, para que ele pudesse pagar as dívidas, mas ela negou, então ele disse que iria conseguir com um amigo. (…) Que a declarante sempre achou que o DIOGO agia com falsidade nas atitudes relacionas à gravidez”, diz trecho da decisão do juíz Adones Henrique Silva Ambrosio Vieira.

No ano passado, Diogo participou do campeonato brasileiro de pôquer (o BSOP), em São Paulo. Na ocasião, a página de notícias do site oficial do evento destacou a participação de Diogo, já que, na categoria em que disputou, “ninguém juntou mais fichas” do que ele. A matéria, de novembro de 2022, destaca que, de 160 inscritos, apenas 15 sobreviveram àquela etapa do torneio, inclusive o professor. Na mesa final, ele figurou na sexta colocação.

Boletos em aberto

Ao decretar a prisão do professor Diogo Viola, o magistrado entendeu que o crime investigado tem características de ser passional. Ele também teria tentado apagar o histórico dele no celular e na nuvem no dia do crime. O juiz Adones Henrique Silva Ambrosio Vieira ainda determinou que o professor seja novamente ouvido e a quebra do sigilo telefônico dele.

“Sendo, supostamente, o autor intelectual e mandante do homicídio, DIOGO demonstra elevado grau de periculosidade, além de ostentar poder de interferência direta nas investigações, inclusive por seu poder aquisitivo e posição como empresário nesta Comarca (Campos)”, escreveu Ambrosio.

No depoimento, Cintia contou à polícia que Diogo deixava em cima da mesa de casa boletos atrasados de sua loja e ia dormir. O fato incomodaria a filha Letycia que, nas palavras da mãe, “achava aquilo um absurdo”. A mãe, que também foi vítima dos atiradores na noite do crime, revelou sempre achar que o professor “agia com falsidade nas atitudes relacionas à gravidez” e ele não teria comprado nenhum item para o bebê.

‘Já morreu?’

Cintia Pessanha ainda relatou aos policiais que enquanto esteve internada, vítima de um tiro na noite do crime, “achou muito estranho” Diogo Viola não ter ido visita-la ou ter procurado saber de Letycia ou do bebê, que também morreu.

“Então durante o atendimento do tiro que levou, ouviu de uma acompanhante de outra paciente, que um homem grande (deu as mesmas características do DIOGO) chegou na frente do Hospital e perguntou: “JÁ MORREU? JÁ MORREU?” (…) Que na Sexta, dia 03/03/2023, enquanto a família estava na rua agindo as documentações, o DIOGO ficou em casa dormindo, mostrando total indiferença”, disse em depoimento.

A mãe de Letycia narrou ainda que a filha já tinha ficado grávida de Diogo, mas, com um problema durante a gestação, precisou fazer uma curetagem. O relacionamento dos dois então terminou após o fato e, após voltarem, a filha contou que o companheiro chegou a apertar o braço dela durante uma discussão, pois queria ter acesso ao telefone celular dela. Ela também reclamava que o professor nunca tinha apresentado Letycia à família.

Diogo ficou em silêncio

O professor Diogo Viola de Nadai, preso nesta terça-feira suspeito de envolvimento na morte da engenheira Letycia Peixoto Fonseca — grávida de oito meses alvo de tiros em Campos dos Goytacazes — se manteve em silêncio ao ser encaminhado à 134ª DP (Campos) na última noite. Sua prisão temporária foi solicitada pela delegada titular da unidade, Natália Patrão, que também aguarda dados de operadoras de telefone e de aplicativos para continuar as investigações.

Diogo era companheiro da vítima e apontado pela família de Letycia como pai do filho esperado por ela. Ele chegou a prestar depoimento após o crime, mas, nesta terça-feira, manteve-se em silêncio na delegacia.

A informação foi confirmada pelo seu advogado, Reynaldo Peixoto, que irá se pronunciar à imprensa após reunião com a família do suspeito. A audiência de custódia do suspeito deve acontecer nesta quarta-feira.

Ao todo, cinco suspeitos estão presos pela “participação no covarde crime que executou uma mulher grávida de 8 meses”, conforme publicação da 134ª DP (Campos) pelas redes sociais na última noite. Os cinco seriam, segundo a delegada: mandante, interlocutor, proprietário da moto, condutor e atirador.

A delegada Natália Patrão informou, nesta manhã, que aguarda novos elementos na investigação.

— Deve estar chegando a resposta já solicitada de todas as operadoras e aplicativos que tiveram interlocutores no fato — afirmou a titular da 134ª DP (Campos), em discurso na porta da delegacia, durante evento do Dia Internacional da mulher.

Natália acrescentou que manterá uma equipe dedicada a uma “análise concreta e mais célere possível” do caso.

Cintia Pessanha Fonseca, mãe da vítima e testemunha do crime, esteve presente no evento nesta manhã. Ao GLOBO, disse que só se manifestará sobre Diogo após a conclusão do crime, por parte da Polícia Civil:

— Eu não tenho nenhum sentimento a expressar sobre a prisão do Diogo, só terei quando a sentença dele sair. Acho que minha filha não acreditaria ao vê-lo preso. De onde ela está, a dor maior dela não deve ser a morte, mas ver através de que (modo) e de quem.

A mãe de Letycia é testemunha do caso e presenciou, da calçada, o momento em que a filha foi alvejada. Cintia reagiu e, ao tentar correr atrás do atirador, levou um tiro na coxa esquerda, mas passa bem.

Relembre o caso

Grávida de oito meses, Letycia Peixoto Fonseca foi morta com cinco tiros, na Rua Simeão Schremeth, no bairro Parque Aurora, em Campos dos Goytacazes. A vítima foi socorrida pela família, mas morreu na chegada ao hospital. Já o bebê que esperava, Hugo, nasceu com vida, mas morreu na manhã seguinte.

Os dois foram sepultados na noite da última sexta-feira.

Também ocupante do veículo, a tia de Letycia, Simone Peixoto, de 50 anos, viajava no banco do carona. Mesmo sem ser atingida, ficou coberta pelo sangue da sobrinha e agora convive com o trauma. Segundo Célio Peixoto, irmão de Simone, ela tem síndrome de Down e, se antes falava pouco, agora se mantém calada e chora com frequência, lembrando do crime.

Companheiro de Letycia, o professor e empresário Diogo Viola de Nadai é considerado por pessoas próximas à vítima como alguém de poucas palavras e que não gosta de aparecer em fotos. Considerado suspeito pela Polícia Civil, dormiu na casa da mãe de Letycia no dia do crime e carregou o caixão do bebê durante o sepultamento.

Gerente de uma distribuidora de Campos, Letycia era formada em Engenharia de Produção. As instituições em que ela estudou emitiram notas de pesar. A Universidade Candido Mendes, onde fez a graduação, definiu Letycia como uma “excelente aluna”. Já a direção-geral do campus Guarus (Campos dos Goytacazes) do Instituto Federal Fluminense, local em que fez curso técnico em Eletrônica, manifestou sua solidariedade aos familiares e amigos da ex-aluna.