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Alvos da PF por exploração sexual em garimpos na Terra Yanomami são violentos e suspeitos de integrar facção

Alvos da Polícia Federal na investigação que apura a exploração sexual contra mulheres e meninas em garimpos na Terra Indígena Yanomami, os integrantes do grupo são apontados como “extremamente violentos, envolvidos com tráfico de drogas, armas, exploração criminosa e, ainda,“faccionados”.

Até agora, a PF já identificou quatro pessoas envolvidas na rede que recruta mulheres para prostituição: duas irmãs, presas no último sábado (18), o marido de uma delas e uma outra mulher, ambos estão foragidos.

O pedido de prisão dos quatro suspeitos foi feito pela PF. Investigadores chegaram até a identidade deles após uma menina de 15 ter sido resgatada. Ela passou cerca de 30 dias numa área de garimpo e relatou ao Conselho Tutelar que fazia até 16 programas por noite.

Ao deferir o pedido, o juiz substituto Thiago Russi Rodrigues, da Vara de Crimes contra Vulneráveis da Justiça Estadual de Roraima, citou a periculosidade dos investigados.

“Convém assinalar, ademais, a gravidade dos delitos investigados (associação criminosa, exploração sexual, estupros e afins) e a periculosidade social dos representados, mormente em razão da vítima que não quis sequer se identificar por temer pela própria vida, ressaltando que os envolvidos são pessoas extremamente violentas, envolvidas com tráfico de drogas, armas, exploração criminosa, e, ainda, “faccionados”. Evidenciado, portanto, o periculum libertatis”, cita trecho da decisão.

Além da primeira vítima, a PF identificou e ouviu outras duas: uma adolescente, de 17 anos, e uma jovem, de 19 – estas duas últimas relataram à PF que durante o período menstrual eram obrigadas a atender os clientes e a colocar na vagina um tampão de algodão para eles não percebessem.

Além disso, as três relataram constantes ameaças e intimidações caso saíssem dos locais sem autorização do grupo criminoso.

Atraídas pelas redes sociais com promessas de falsos trabalhos e salários irreais, as vítimas são levadas ao território com dívida inicial de R$ 10 mil e lá, são obrigadas a se prostituir em cabarés à serviço da atividade ilegal, de acordo com investigação da PF.

As três vítimas identificadas até agora identificadas pela PF não ganharam nada, nem em dinheiro, nem em ouro – isso porque à medida que elas ficavam nas mãos dos criminosos, mais a dívida aumentava. O delegado do caso, Marco Bontempo, afirma que era “praticamente impossível que elas conseguissem quitar”.

“Não chegaram a receber nada no período que estavam lá. A dívida, na verdade, só aumentou porque era praticamente impagável. Elas tinham que custear a alimentação, a estadia. Então, é praticamente impossível”.

No depoimento, as duas contaram que os chefes do cabaré chegaram a ficar com alguns pertences para garantir que elas não fugiriam. No entanto, as duas receberam ajuda para conseguir chegar à uma outra região. De lá, pegaram o barco que abordado na fiscalização da PF.

Inquérito da PF

No inquérito instaurado logo após o resgate da menina de 15 anos, a PF apura a existência de organização criminosa responsável por aliciar mulheres, incluindo menores de idade, com promessa de trabalho nas regiões de garimpos com o intuito de inseri-las em uma estrutura logística de exploração sexual que atua em cabarés montados nos acampamentos clandestinos na floresta.

Em depoimento à PF, as duas novas vítimas disseram que foram chamadas pelas redes sociais para trabalhar no cabaré de um garimpo na Terra Yanomami com a promessa de que seriam bem remuneradas com ouro.

Sem dinheiro e emprego em Boa Vista, elas aceitaram. Mas, chegando lá, se depararam com uma dívida que seria o transporte até o local e descobriram que precisavam pagar por tudo: comida, estadia, internet e até preservativos. No sábado, fazia quatro dias que a adolescente tinha completado 17 anos.

Entre os detalhes sobre a exploração repassados à PF, as duas contaram que tinham hora certa para comer e, caso perdessem, ficavam sem alimentação. Além disso, havia uma ordem para que todos os dias tinham de estar prontas no início da noite para atender no cabaré e só cessariam quando não tivesse mais clientes.

“Nos cabarés tem alguns alojamentos onde elas ficam com horário fixo de alimentação, se perder o horário, não come. Inclusive, a partir das 18 horas, todas tinham que estar prontas para iniciar o trabalho nesses cabarés, e lá elas tinham que trabalhar até o último cliente sair, eram obrigadas, inclusive, no período em que estavam menstruadas”, reforçou o delegado.

A PF já identificou que a rede para atrair meninas e mulheres para exploração sexual na Terra Yanomami inicia com o recrutamento pelas redes sociais. Os aliciadores, usando perfis falsos, atraem as vítimas com falsas promessas de emprego e ganhos irreais. A partir daí, elas as levam para os cabarés, onde elas ficam submetidas às escolhas dos chefes do esquema.