Polícia Federal descobriu que funcionários do aeroporto de Guarulhos trocavam etiquetas de malas para enviar droga para o exterior. Jeanne e Kátyna iam passear, mas estão detidas há mais de um mês.
O sonho de viajar 20 dias pela Europa acabou em prisão por tráfico internacional de drogas em 5 de março desse ano, horas antes de desembarcar em Berlim, na capital da Alemanha, o primeiro país que as goianas Jeanne Paolline e Kátyna Baía queriam conhecer.
A prisão do casal em Frankfurt, a última conexão que faria antes de Berlim, motivou uma operação da Polícia Federal de Goiás para descobrir o que aconteceu com as malas que foram despachadas em Goiânia e nunca chegaram ao país europeu.
Em Frankfurt, a polícia apreendeu no bagageiro do avião duas malas com 20kg de cocaína cada, etiquetadas com os nomes de Jeanne e Kátyna. A prisão aconteceu na fila de embarque da escala, sem que elas pudessem ter visto as malas.
O que se sabe até agora sobre a troca de malas, a prisão e o onde elas estão detidas em Frankurt?
Jeanne e Kátyna foram presas no aeroporto de Frankfurt, em 5 de março desse ano. Após a prisão, a polícia alemã mostrou as malas lotadas de cocaína e interrogou as duas. Elas negaram serem donas das bagagens.
O casal estava na fila de embarque esperando a troca de aeronave quando foram abordadas pela polícia, segundo a advogada delas. De Frankfurt para a Berlim são aproximadamente 550 km. Horas depois da conexão, elas chegariam ao destino final.
Após a detenção no aeroporto de Frankfurt e com os indícios de tráfico internacional apurados pela polícia alemã, elas foram levadas para um presídio feminino da cidade.
Troca de malas
A Polícia Federal em Goiás começou a investigar o caso após a prisão das goianas. As imagens das câmeras de seguranças do Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, mostram o desembarque de duas malas, uma branca e uma preta.
Essas malas foram despachadas no aeroporto goiano, mas no meio do caminho, no Aeroporto Internacional de Guarlhos, em São Paulo, o maior do Brasil, elas foram trocadas por funcionários terceirizados que cuidavam das bagagens.
As malas que chegaram a Frankfurt com os nomes das goianas são marrom claro e escuro.
Segundo a Polícia Federal, nas escalas internacionais, o passageiro despacha a mala no aeroporto de origem e só pega de volta no destino final, ou seja, Jeanne e Kátyna nem viram a troca das bagagens e das etiquetas.
Em 4 de abril desse ano, a investigação identificou seis funcionários que trocavam as etiquetas das malas, de forma aleatória, para enviar cocaína para o exterior. Eles foram presos em São Paulo.
Audiência
As brasileiras passaram por uma audiência de custódia com o Judiciário de Frankfurt em 5 de abril, um mês depois da prisão. O juiz disse que há indícios de que Jeanne e Kátyna sejam inocentes, mas que recebeu parte do inquérito aberto pela Polícia Federal, que trata somente das goianas.
Assim, o magistrado solicitou que fosse enviado todo o inquérito, os vídeos obtidos pela Polícia Federal e informações sobre as prisões dos suspeitos para avaliar melhor o caso e soltá-las.
A documentação foi enviada em 7 de abril para o gabinete do magistrado.
Rotina no presídio
A rotina das brasileiras Jeanne Paollini e Kátyna Baía tem sido de frio e solidão nas celas “minúsculas” e individuais da penitenciária de Frankfurt, onde estão detidas há mais de um mês, segundo a advogada delas.
“Elas estão angustiadas porque estão presas há mais de 1 mês e perguntam muito pelos familiares. Elas estão morrendo de saudade. A Kátyna, por exemplo, não conseguiu falar com a mãe nesse tempo todo e elas são muito apegadas”, contou a advogada Luna Provázio.
O contato das goianas com o Brasil foi feito até agora basicamente com a advogada, e somente por telefone fixo porque o presídio não permite videochamadas.
“Elas estão em celas separadas e me relataram que são minúsculas. Elas disseram que passam frio porque o presídio não fornece roupa de frio adequada e elas tiveram todos os bens pessoais apreendidos”, relatou a advogada.
Compra antecipada da viagem
Jeanne é veterinária e Kátyna é personal trainer, em Goiânia. Elas estão juntas há mais de 17 anos e já viajaram para o exterior antes.
A advogada delas explicou que o pacote de viagem foi comprado com antecedência, junto com seguro viagem, o que seria prova de que elas não levariam drogas para a Alemanha.
O delegado da Polícia Federal Rodrigo Teixeira disse que esses indícios reforçam a tese de que as malas com cocaína não eram delas.
“Não há o perfil de mulas para essas passageiras, através da compra da passagem com bastante antecedência, seguro viagem. Houve todo uma programação para essa viagem ao exterior. Não é o perfil de quem trafica dessa maneira”, destacou o delegado.
Rede de apoio
Uma irmã da brasileira Kátyna Baía contou que uma rede de apoio a brasileiros residentes e não residentes na Alemanha tenta levar agasalhos e alimentos para elas no presídio de Frankfurt.
“Se for possível, vão levar comida e agasalho e quando elas saírem de dar uma hospedagem também até conseguirem voo de volta”, explicou Déborah Teodoro.