A mente e as emoções sempre geram muitas dúvidas por descortinarem um universo muito sensível e particular do ser humano.
Em contrapartida, a velocidade no avanço da nova era da Inteligência Artificial, apresenta a necessidade de uma reflexão sobre essa relação complexa entre humanos e inteligências artificiais, e destaca a importância de considerar cuidadosamente os benefícios e riscos potenciais da tecnologia em nossas vidas.
A tecnologia está em todos os lados e assume lacunas de maneira avassaladora e, porque não dizer, assustadoramente.
O contato físico, os encontros, as interações humanas e as relações interpessoais possuem uma nova configuração. O que faz sentido agora é se destacar nas redes, se tornar um ser instagramável e admirável dentro da realidade virtual.
Os jogos virtuais invadiram os lares e roubaram a comunicação, o olhar atento para os detalhes, as carícias entre pais e filhos, a socialização com os amigos. As revistas físicas se tornaram obsoletas e as digitais ocuparam o espaço. O WhatsApp é nosso fiel escudeiro.
As compras em lojas ganharam ares virtuais cada vez mais avançados. Tudo resolvido na palma da mão, sem olho no olho, em questão de segundos. Um futuro tecnológico que já é realidade, e que agora avança mais com as novidades da inteligência virtual.
Ganhamos muitos benefícios na velocidade da luz. Principalmente, na medicina com a inserção de robôs e novas tecnologias de ponta para auxiliar a cura e a qualidade de vida do ser humano.
Em contrapartida, perdemos na convivência, na decadência do diálogo, dos afetos, da empatia e do amor.
Abrimos espaço para doenças psíquicas e físicas, consequência do uso excessivo dessa realidade virtual, como: doenças posturais e ergonômicos; Gaming Disorder (transtorno de games); Nomofobia (vício por conexão); entre outros.
Além disso, podemos destacar o agravamento de transtornos mentais, como: a elevação de casos de depresssão, do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH); do Transtorno Generalizado de Ansiedade (TGA); da Bipolaridade.
Porém, o objetivo aqui não é ser negacionista em relação aos benefícios e contribuições da evolução tecnológica. Pelo contrário, tudo o que pode favorecer e facilitar a vida dos indivíduos, sem dúvida, é super válido.
Só não podemos nos tornar deficientes de amor, criatividade, imaginação, essência, empatia, carinho, paciência, tempo, sensibilidade. A escrita feita através do ChatGPT, por exemplo, tem seus benefícios.
Mas onde entra a originalidade criativa do ser humano? Notícias recentes, dão conta de um triste episódio de um rapaz que se matou após receber recomendações de um sistema de Inteligência Artificial, como forma de proteger o planeta.
Será que estamos preparados para utilizar de forma consciente esses novos recursos oriundos da Inteligência Artificial? Uma coisa é certa, somos a maior ameaça para nós mesmos se não estivermos preparados emocionalmente para essa nova revolução tecnológica.
O ser humano, por natureza, tem necessidade de controle e pertencimento e as novas ferramentas fazem exatamente isso: controlam e dominam tudo. Será que temos maturidade e autoconhecimento suficientes para utilizar os benefícios a nosso favor, nos protegendo, evoluindo sem exageros e nos reinventando, blindando nossa saúde mental?
Enfim, a nova era da Inteligência Artificial é super bem vinda, mas traz consequências profundas e imprevisíveis.
Não podemos negligenciar a essência humana, destruir o equilíbrio físico e emocional, empobrecer os processos cognitivos, através de uma cortina de ilusões que mascara a realidade.
Um grande desafio a ser enfrentado nessa interação humano-máquinas, visto que, nosso comportamento é moldado pelo ambiente em que vivemos e corremos risco de nos tornar “dependentes emocionalmente” das máquinas, o que caracterizaria um problema ainda maior para a saúde mental.
* Psicanalista.