O Distrito Federal tem, hoje, 16 serviços de acolhimento onde vivem provisoriamente 360 crianças e adolescentes que foram retirados de suas famílias por violação de direitos – maus tratos, negligência, abandono e abusos, por exemplo. Desses, mais de 60% têm perspectiva de longa permanência nos abrigos, com poucas chances de retornarem à família de origem ou de serem adotados.
Os dados são do Grupo Aconchego, organização da sociedade civil que trabalha pelo direito das crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária e que criou o programa de “Apadrinhamento Afetivo” no DF. Por meio dele, são buscadas pessoas que desejam se tornar adultos de referência para crianças e adolescentes que vivem nos abrigos de Brasília.
O programa não envolve ajuda financeira, mas trabalha para criar vínculos de afeto com os internos. Padrinhos e madrinhas são voluntários membros da sociedade civil.
Eles são preparados para dar afeto e cuidados individualizados aos apadrinhados. É o que explica Maria da Penha Oliveira, psicóloga e coordenadora do projeto.
Segundo ela, os voluntários são estimulados a uma convivência com o afilhado de, pelo menos, 15 em 15 dias. Eles devem ser preparados para a escuta e o compartilhamento de histórias, além de serem orientados a olharem o afilhado para além de seu abandono, percebendo o que cada um tem de melhor.
Por meio do apadrinhamento, o afilhado também terá suporte ao completar 18 anos, idade na qual deve sair do abrigo em que estiver acolhido.
“Acredita-se que, para as crianças e adolescentes que vivem a experiência do abandono e da negligência familiar, às vezes basta que encontrem uma pessoa significativa para que a esperança na vida seja retomada”, diz Maria da Penha.
A psicóloga explica ainda que, para apadrinhar, os interessados devem passar por um curso de preparação de, no mínimo, seis encontros. Os pré-requisitos são:
No próximo sábado (29), o Grupo Aconchego promove uma palestra para responder as principais dúvidas de quem tem interesse em apadrinhar uma criança ou adolescente. Serão abordados os seguintes tópicos:
“O apadrinhamento não é uma tarefa para se exercer a filantropia ou a caridade, pregar moralidade ou oferecer bens materiais”, pontua Maria da Penha. Para ela, escolher uma criança ou adolescente para apadrinhar ajuda a romper o “ciclo vicioso” da dor do abandono e da rejeição.
“É, essencialmente, incluir o afilhado ou a afilhada em seu projeto de vida, em sua rede pessoal. Possibilita a descoberta de novas respostas a experiências antigas e facilita a elaboração de novas saídas para seus conflitos existenciais”, ressalta a coordenadora do projeto.