O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encerrou seus compromissos oficiais em Portugal, na manhã desta terça-feira (25), com um discurso no parlamento do país, no qual voltou a condenar a violação territorial da Ucrânia e pedir uma reforma no Conselho de Segurança da ONU.
A fala do petista na Assembleia da República, em pleno dia do aniversário da Revolução dos Cravos, também foi marcada pelo antagonismo entre os aplausos da maioria da casa e os protestos de parlamentares do partido de extrema-direita Chega, que levaram cartazes e fizeram barulho.
“O Brasil compreende a apreensão causada pelo retorno da guerra à Europa. Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia. Acreditamos em uma ordem internacional fundada no respeito ao Direito Internacional e na preservação das soberanias nacionais”, disse Lula.
“Ao mesmo tempo, é preciso admitir que a guerra não poderá seguir indefinidamente. A cada dia que os combates prosseguem, aumenta o sofrimento humano, a perda de vidas, a destruição de lares”, acrescentou o presidente.
“As crises alimentar e energética são problemas de todo o mundo. Todos nós fomos afetados, de alguma forma, pelas consequências da guerra. É preciso falar da paz. Para chegar a esse objetivo, é indispensável trilhar o caminho pelo diálogo e pela diplomacia”, completou.
Ao tratar da governança global e alternativas do multilateralismo, o presidente brasileiro disse que o Conselho de Segurança da ONU se encontra “praticamente paralisado” e que sua composição, determinada ao fim da Segunda Guerra Mundial, “não representa a correlação de forças do mundo contemporâneo”.
Repetindo uma demanda brasileira antiga e já reiterada em outros compromissos da visita a Portugal, Lula afirmou: “Defendemos uma reforma que resulte na ampliação do Conselho, de maneira que todas as regiões estejam representadas de forma permanente, de modo a torná-lo mais representativo em seu processo deliberativo e mais eficaz na implementação de suas decisões.”
Protestos de parlamentares
Como já havia sido anunciado, parlamentares de partidos de direita e extrema-direita organizaram protestos diante da presença de Lula na Assembleia da República.
Se a bancada do partido Iniciativa Liberal (IL) optou por se retirar do plenário e deixar suas cadeiras vazias, os doze parlamentares da bancada do partido de extrema-direita Chega levaram a cartazes e fizeram barulho batendo com as mãos na bancada do parlamento enquanto Lula falava.
“Chega de corrupção”, “Lugar de ladrão é na prisão” e bandeiras da Ucrânia foram erguidas pelos parlamentares.
O presidente da Assembleia, Augusto Santos Silva, do Partido Socialista (PS), repreendeu os parlamentares do Chega.
“Peço que os senhores deputados que querem permanecer na sessão plenária têm que se portar com urbanidade, cortesia e a educação que é exigida de qualquer representante do povo português. Chega de insultos, chega de degradarem as instituições, chega de pôr em vergonha o nome de Portugal”, disse.
Ao final do discurso de Lula, Santos Silva foi novamente ao microfone “pedir desculpas formalmente em nome do parlamento pelo incidente e agradecer a coragem e compreensão”.
Relações com a Europa
A ida de Lula à Europa tem o objetivo de tentar melhorar a imagem do petista entre o Ocidente após as recentes falas polêmicas do presidente do Brasil a respeito da guerra na Ucrânia. Na semana passada, a União Europeia e os Estados Unidos rebateram as falas de Lula.
No dia 16 deste mês, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, Lula afirmou: “O presidente [Vladimir] Putin [da Rússia] não toma iniciativa de paz. O [Volodymyr] Zelensky [presidente da Ucrânia] não toma iniciativa de paz. A Europa e os Estados Unidos terminam dando contribuição para a continuidade dessa guerra.”
O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, disse que Lula “está reproduzindo propaganda russa e chinesa” e que os comentários foram “simplesmente equivocados”.
No início de maio, Lula deverá voltar à Europa para participar da coroação do rei Charles III, a Abadia de Westminster, em Londres.