Celebridades

Harry Belafonte, ativista e cantor conhecido como ‘Rei do Calypso’, morre aos 96 anos

Artista morreu nesta terça-feira (25), em Nova York. Ele foi confidente de Martin Luther King, fez parte do governo Kennedy, criou USA for Africa e se tornou 1º negro a ganhar Emmy e Tony.

Harry Belafonte, cantor, ator e ativista que introduziu os ritmos caribenhos na música americana e defendeu os direitos dos negros, morreu aos 96 anos, nesta terça-feira (25). Segundo seu porta-voz, o artista morreu de insuficiência cardíaca em sua casa, em Nova York.

Reuters/Jessica Rinaldi/Arquivo

O cantor Harry Belafonte durante estreia de ‘Spider-Man- Turn Off The Dark’ na Broadway, em Nova York, em junho de 2011

Nascido no Harlem, filho de mãe jamaicana e pai francês da Martinica, o ator e intérprete de calipso passou a maior parte de sua infância na Jamaica antes de retornar a Nova York, uma mistura de culturas que influenciou sua música e sua luta pela igualdade racial.

O calipso de Belafonte, um gênero de música caribenha que bebia das influências da África Ocidental e da França, o levou à fama durante a prosperidade e crescimento das cidades após a Segunda Guerra Mundial. Seu terceiro álbum, com o título “Calypso”, de 1956, foi o primeiro LP a vender mais de um milhão de cópias nos Estados Unidos.

Outra faceta importante foi a dedicação ao ativismo. Belafonte foi um dos responsáveis pela criação do supergrupo USA for Africa, que lançou a música “We Are The World” e arrecadou U$ 1,985 bilhão (cerca R$ 392,3 bilhões) para as vítimas da fome na Etiópia.

À medida que o movimento pelos direitos civis ganhava força, Belafonte assumiu um papel pioneiro que foi além do simples apoio moral – tornou-se um confidente de Martin Luther King e contribuiu com seu próprio dinheiro para apoiar a causa.

“Quando as pessoas pensam em ativismo, pensam que há algum sacrifício envolvido, mas sempre considerei isso um privilégio e uma oportunidade”, disse ele em um discurso de 2004 na Universidade Emory.

Belafonte convidou Luther King e o pastor de Birmingham, Alabama, Fred Shuttlesworth, ao seu apartamento em Nova York para planejar a campanha de 1963, a fim de integrar esta cidade notoriamente racista do sul.

Quando King foi preso, Belafonte arrecadou U$ 50 mil (cerca de U$ 400 mil em valor atual, ou aproximadamente R$ 2 milhões) – para salvá-lo.

“A popularidade mundial e o compromisso de Belafonte com nossa causa é um ingrediente chave na luta global pela liberdade e uma poderosa arma tática no movimento dos direitos civis aqui nos Estados Unidos”, disse King, sobre o músico.

Apesar de suas críticas às políticas americanas, Belafonte afirmou que os Estados Unidos “oferecem um sonho que não pode ser realizado tão facilmente em nenhum outro lugar do mundo”, mas só é alcançável por meio da “luta”.

Após sua eleição para a presidência, John F. Kennedy nomeou Belafonte para o comitê de assessoria do recém-criado Corpo da Paz, com o qual o jovem presidente esperava que os Estados Unidos mostrassem seu poder por meios não militares.

Mas enquanto muitos no Corpo da Paz esperavam “mostrar como somos bonitos como povo”, Belafonte esperava expor os jovens americanos às lutas do mundo em desenvolvimento.

Artista pioneiro

Ainda no início da carreira, Belafonte não fugiu das polêmicas. Em 1957, ele protagonizou o filme “Ilha nos Trópicos”, no qual interpretou um político em uma ilha fictícia envolvido em um relacionamento inter-racial.

Ele se tornou, em 1954, a primeira pessoa negra a ganhar um prêmio Tony, por seu papel no musical da Broadway “Almanaque do John Murray Anderson”.

Seis anos depois, ele foi o primeiro negro a ganhar um prêmio Emmy por “Tonight with Belafonte”, seu programa de música na televisão. Belafonte tem ainda três Grammys e várias outras estatuetas.

O álbum já citado “Calypso” incluía a música que virou a canção emblemática de Belafonte. “Day-O (The Banana Boat Song)” era baseada em uma melodia popular jamaicana.

Para os críticos essa música era apenas para dançar e fazer as pessoas se sentirem bem. Para Belafonte, no entanto, era o incitamento à rebelião dos trabalhadores que exigiam salários justos.

O ativista passou cada vez mais tempo na África – especialmente no Quênia – e se tornou um dos artistas americanos mais importantes na luta contra o apartheid na África do Sul.

Seu álbum “Paradise in Gazankulu”, lançado em 1988, falava da opressão dos negros sul-africanos e foi parcialmente gravado em Joanesburgo com artistas locais.