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Justiça arquiva investigação de advogado baleado e morto pela própria arma durante ressonância magnética

Pedido do Ministério Público à Justiça afirmou que Leandro Mathias 'foi incauto ao ingressar na sala de exame com a arma de fogo'. Ele morreu no hospital depois de ser atingido na barriga pela pistola que carregava enquanto acompanhava mãe em exame.

Advogado Leandro Mathias e foto da arma no máquina de ressonância — Foto: Reprodução

A Justiça arquivou, nessa quarta-feira (3), o inquérito que investigava a morte do advogado Leandro Mathias, que foi atingido por um disparo da própria pistola enquanto acompanhava a mãe em uma ressonância magnética em São Paulo em janeiro. O paciente não resistiu ao ferimento e morreu em 6 de fevereiro.

O pedido para que o caso fosse arquivado foi feito pelo Ministério Público em 28 de abril. O promotor Luis Felipe Tegon Cerqueira Leite detalhou que Leandro, de 40 anos, tinha registro e autorização de porte de arma de fogo e não teve cautela quando entrou na sala de exame com a arma, mesmo tendo assinado um documento do laboratório sobre os cuidados para entrar na sala.

Ele foi atingido em 16 de janeiro, quando acompanhava a mãe no laboratório Cura, na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, nos Jardins, região central da capital paulista.

“A conduta de disparo da arma de fogo poderia ser atribuída a título de culpa, mas não há forma culposa do crime de disparo de arma de fogo. E, quanto à eventual lesão por ele sofrida, tratando-se de autolesão, não há que se cogitar de crime”, escreveu o MP.

A juíza Giovanna Christina Colares aceitou o pedido. Bens apreendidos devem ser devolvidos, e a delegacia que investiga o caso, comunicada.

Relembre o caso

A perícia do Instituto de Criminalística feita em 17 de janeiro analisou a sala da clínica, que não estava preservada. Todo o procedimento foi acompanhado pelos funcionários. Dentro do tubo de campo magnético foram encontrados um carregador de pistola e a arma.

A pistola da marca Taurus estava com o ferrolho deslocado para a frente e com outro carregador. Dentro do armamento, no cano, havia um estojo vazio e uma munição íntegra. Já no carregador dela havia 11 cartuchos.

O laudo do IC apontou que houve negligência da vítima.

O laudo considerou, com informações de segurança sinalizadas e de orientações da equipe da clínica, que, ao ficar com a pistola e entrar na sala de ressonância, o advogado colocou a “integridade física e demais pessoas em risco”.

Favorável a políticas armamentistas, Leandro costumava usar seu perfil no TikTok com mais de 7 mil seguidores para tirar dúvidas de internautas sobre armas e também registro de colecionador, atirador desportivo e caçador (CAC).

Avisado antes

Leandro assinou o questionário ao qual teve que apontar à clínica informações para entrar no exame com a mãe. Todos os pontos foram assinalados como “não”.

Ele negou ter marca-passo, clipe cirúrgico, passado por cirurgia craniana, ter implante de válvula cardíaca, aparelho de audição, filtros de vasos sanguíneos, aparelho eletrônico implantável e/ou que já tinha sido atingido por projétil de arma de fogo anteriormente.

No formulário, há também um aviso: “Para maior segurança, solicitamos a retirada de todos objetos metálicos, inclusive relógio, adornos, piercings e utilizar roupa privativa”.

Ao final, ele assinou e concordou com o seguinte: “Comprometo-me a responder o questionário pesquisa de contra indicações de campo magnético aos acompanhantes em ressonância magnética com informações corretas”.

O que diz a clínica

Em nota, anteriormente, o laboratório lamentou o que chamou de “incidente” e informou que não sabia que o acompanhante estava armado.

Ressaltou também que todos os protocolos de prevenção de acidentes foram seguidos e informou que a paciente e o acompanhante foram devidamente orientados quanto aos procedimentos da ressonância.

Morte do paciente

A morte do advogado causou comoção entre os conhecidos e advogados, que publicaram mensagens de apoio à família.

“É com profundo pesar que a OAB Cotia comunica a todos os colegas advogados a perda inesperada do nosso querido amigo e advogado. Lamentamos a perda e nos solidarizamos com a família neste momento de dor”, escreveu a Ordem da cidade nas redes sociais.

Leandro possuía autorização para portar a arma.