A estratégia de tentar responsabilizar o tenente-coronel Mauro Cid pelo suposto esquema de fraudes em registros de vacinação não tem sido considerada suficiente para evitar implicações jurídicas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A defesa do ex-mandatário do Palácio do Planalto, segundo relatos feitos à CNN, pretende explorar tanto a falta de uma atuação direta do ex-presidente no escândalo das vacinas como a ausência de uma comprovação de que o esquema partiu de uma ordem de comando de Bolsonaro.
A avaliação de dirigentes do partido é que a retórica de que Cid — ex-ajudante de ordens de Bolsonaro — teria atuado à revelia do presidente é pouco convincente, sobretudo diante da relação pessoal que ambos estabeleceram nos quatro anos de mandato.
Por isso, a estratégia defendida é a de priorizar critérios técnicos em vez de construir uma narrativa política. Ou seja, focar em uma eventual ausência de provas que poderiam levar a uma eventual denúncia contra o ex-presidente, segundo apurou a CNN com o entorno de Bolsonaro.
Para isso, a defesa do ex-presidente decidiu que ele só prestará depoimento quando tiver acesso a todos os detalhes da investigação, permitindo rebater de forma técnica ponto por ponto.
A ideia é também que Bolsonaro só responda à Polícia Federal questionamentos que não possam levar a uma eventual punição.
Na esfera política, a ordem dada pelo partido é a de não submergir, mas a de enfrentar com discurso ideológico as acusações contra Bolsonaro.
Um monitoramento recebido por deputados da legenda mostra que a avaliação negativa sobre o episódio penetrou a bolha bolsonarista nas redes sociais.
As agendas de viagens tanto de Bolsonaro como de Michelle, por exemplo, devem ser mantidas.
A ideia é também a de que Bolsonaro conceda mais entrevistas à imprensa, ocupando o espaço dos veículos de comunicação, na tentativa de equilibrar a disputa de narrativas com a sua versão dos fatos.
A investigação da Polícia Federal aponta que os fatos expostos indicam que Bolsonaro tinha “plena ciência da inserção fraudulenta dos dados de vacinação”. Cid teve a prisão preventiva cumprida na quarta-feira (3).
Bolsonaro foi alvo de mandado de busca e apreensão, teve seu celular pessoal apreendido e foi intimidado a depor. A defesa dele informa que ele só prestará depoimento quando tiver acesso aos autos do inquérito.
Operação da PF
A Operação Venire, deflagrada na última quarta-feira (3), investiga a prática de crimes na inserção de dados falsos sobre vacinação contra Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde.
Além da prisão de Cid e da busca e apreensão na casa do ex-presidente em Brasília, também foram presos assessores de Bolsonaro que trabalhavam no Planalto, além do secretário municipal de Governo da cidade de Duque de Caxias (RJ).
O ex-presidente reafirmou ao longo da semana que não se imunizou contra a Covid-19 e que não tem envolvimento algum com as possíveis fraudes no cartão de vacinação.