A família do soldador e praticante de fisiculturismo Raphael Casanova, de 38 anos, que morreu após contrair catapora no Chile, está preocupada com o prazo de oito dias para resolver todas as pendências burocráticas, para a liberação e translado do corpo dele para o Brasil.
Segundo Juliana Casanova, irmã da vítima, caso a família não consiga providenciar e enviar todos os documentos necessários para o hospital onde o corpo de Raphael está, na cidade de Antofagasta, ele será enterrado no Chile como indigente. Hospital informou que só pode manter o corpo na unidade até a próxima terça-feira (23).
Raphael morreu na última terça-feira (9), quando a família iniciou uma vaquinha para bancar os gastos para trazer o corpo do brasileiro para o Rio de Janeiro.
“A vaquinha está dando super certo. Conseguimos o dinheiro necessário. Mas agora tem essa parte dos documentos, que não são simples. A gente já foi em quatro cartórios para fazer a procuração e mandar para lá. Só que nem todos os cartórios podem fazer”, disse Juliana.
Além de encontrar um cartório que possa fazer uma procuração juramentada e traduzida para o espanhol, a família, que mora em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, também tem dificuldades para ir ao consulado do Chile, na Zona Sul do Rio, onde precisa entregar os documentos.
“É bem distante, tem a questão de passagem e custos também. A nossa sorte é que as pessoas estão ajudando muito, uma tia me ajudou bastante. Mas ainda não conseguimos todos os documentos”.
Mãe muito abalada
Juliana contou ao g1 que a mãe dela e do Raphael ainda está muito abalado com tudo que aconteceu. Segundo ela, a possibilidade de não conseguir se despedir do filho é tem deixado ela muito nervosa.
“Ela está bem arrasada, principalmente por conta dessa parte burocrática e sabendo que o corpo ainda tá lá no hospital. Ela quer correr com tudo e as vezes fica muito nervosa quando pensa que ele pode ser enterrado como indigente”, contou Juliana.
A irmã de Raphael lembrou ainda que a saúde da mãe deles também é um ponto de alerta. Juliana contou que contar sobre a morte do irmão para a mãe foi bastante delicado.
“Ela estava trabalhando, ela é cuidadora de idosos no Rio. Quando eu soube da notícia, eu não quis falar por telefone. Eu tava muito preocupada em como ela iria receber essa notícia. Então eu chamei um dos meus irmãos e fui até o trabalho dela. O pior é que ela já tava sentindo que alguma coisa estava errada. Foi bem difícil”, completou Juliana.
Juliana segue em contato com uma amiga de Raphael no Chile. Foi essa amiga que conseguiu descobrir o que era necessário para a liberação do corpo do brasileiro no hospital chileno.
Raphael morava na cidade de Antofagasta há seis anos, quando decidiu procurar novos caminhos para melhorar de vida. No Chile, ele conseguiu trabalhar como soldador, profissão que já exercia no Brasil.
Contudo, Raphael também sempre teve a prática de atividades físicas como grande paixão. Segundo a irmã dele, o fisiculturismo ficou mais forte quando ele se mudou para o país vizinho.
Apesar de não viver do esporte, Raphael levava a sério os cuidados com o corpo e participava de concurso de fisiculturismo. Ele também dava dicas para outras pessoas de como conseguir resultados físicos na academia. Essa era uma segunda fonte de renda dele no Chile.
Cinco meses da doença
O soldador e praticante de fisiculturismo começou a perceber a catapora em seu corpo em dezembro do ano passado, quando seu comportamento com a família no Brasil também mudou.
Segundo Juliana, ele tinha o costume de sempre ligar e fazer chamadas de vídeo, mas quando teve a primeira recaída por conta da doença as ligações diminuíram.
Após um breve tratamento e algumas consultas médicas, os sintomas da catapora desapareceram e Raphael acreditou que estava recuperado por completo.
Contudo, segundo Juliana, em março, um dos exames que ele fez apontou que o vírus da catapora tinha continuado a agir no organismo de Raphael e afetou seu rim. Ele também teve lesões no cérebro provocadas pela doença.
Com a nova fase da catapora, Raphael deixou de procurar pelos parentes em São Gonçalo. Juliana contou que ele chegou a passar mal na rua, quando caiu desacordado. O soldador foi levado ao hospital, mas voltou pra casa depois de tomar alguns remédios.
Em dos poucos contatos que fez com a família, Raphael parecia se despedir. Ele contou que não se alimentava direito e não evacuava.
“Ele ainda estava muito mal. Um amigo dele lá conseguiu levar ele para o hospital. Mas ele já estava bem mal”, lembrou a irmã de Raphael.
Para Juliana, a melhor lembrança do irmão é o lado brincalhão que contagiava a todos ao redor.
“Meu irmão era um cara bom. A saudade maior que fica é da pessoa carismática que ele era, muito alegra. Apesar de fortão e grande, ele era uma criança, muito brincalhão, levava tudo na boa”, recordou.