Grupo age com apoio de facção criminosa e usou nitrato de amônio em ações que começaram em junho
Resultados preliminares de um laudo técnico, feito por peritos do esquadrão antibombas da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil, revelam que um bando interestadual usou nitrato de amônio para explodir uma parte das dependências da Caixa Econômica Federal (CEF), durante uma tentativa de assalto, ocorrida no último dia 11, na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio. Na ocasião, nove bandidos foram presos, a maioria oriunda de outros estados como Bahia, São Paulo, Minas Gerais e Paraíba. A polícia já sabe que a mesma substância, com alto poder de destruição, também foi usada em outros nove ataques contra agências bancárias, que aconteceram nos últimos 11 meses, em outros pontos da Região Metropolitana do Rio.
Os casos estão sendo investigados em conjunto pelas Polícias Federal e Civil, que trabalham com a hipótese de que uma mesma quadrilha esteja envolvida em todos os crimes. Segundo as investigações, as investidas teriam ocorrido com apoio da maior facção criminosa do Rio, que em troca de logística, armas e território utilizado como esconderijo, ficaria com uma parte do produto do roubo. Nesta terça-feira, agentes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e de Inquéritos Especiais (Draco-IE) e PMs do Batalhão de Operações Especiais (Bope) realizaram uma operação no Complexo da Penha, área que tem o tráfico controlado por Edgard Alves de Andrade, o Doca, integrante da cúpula da facção. No local, foram apreendidos mais de 200 quilos de maconha em tabletes, 3 mil papelotes de cocaína, 1500 papelotes de crack, um fuzil, uma pistola e um rádio de comunicação. Uma pessoa que não teve o nome revelado também foi presa. De acordo com a polícia, a ação ocorreu para tentar capturar integrantes da quadrilha interestadual envolvidos nos ataques contra agências bancárias, além de criminosos que deram apoio à ação criminosa.
Além do Complexo da Penha, a Polícia Civil também investiga se o bando que tentou assaltar a CEF da Ilha do Governador tentou se esconder na Favela Parque União, na Maré. No dia do crime, quatro suspeitos foram presos na entrada da comunidade. O tráfico no local é controlado por Rodrigo da Silva Caetano, o Motoboy. Ele e o traficante Doca, da Penha, estão com as prisões decretadas pela Justiça, por conta da prática de outros crimes, e são considerados foragidos.
O alto poder de destruição do nitrato de amônio já provocou tragédias como a que ocorreu em um porto de Beirute, no Líbano, em agosto de 2020, quando mais de 240 pessoas morreram na explosão de um depósito que armazenava quase três toneladas da substância. Encontrado em forma de pequenas esferas, o nitrato de amônio é muito usado no Brasil na fabricação de fertilizantes, e tem livre comercialização no país. Nos Estados Unidos, no entanto, a venda é controlada pela polícia.
Investigações apontam que o bando responsável por usar nitrato de amônio em suas ações no Rio age de modo semelhante aos bandidos de grupos conhecidos como o Novo Cangaço, que, em ataques a agências bancárias no interior do país, utilizam barreiras improvisadas com veículos para tentar impedir o acesso ao local do roubo. A polícia já sabe que, em todas as ações investigadas, a quadrilha usou de dez a 15 homens armados de fuzis em cada investida criminosa.
Veja cronologia de ataques em série: