Medida do governo prevê redução no preço em até 10,96% de veículos que custam até R$ 120 mil. Impacto não deve ser suficiente para fabricantes aumentarem produção.
O governo federal anunciou ontem medidas para reduzir o preço dos carros populares. O objetivo é provocar uma queda de até 10,96% o preço dos carros populares. Atualmente, os dez carros mais baratos do Brasil custam entre R$ 68.990 e R$ 88.690, de acordo com levantamento do site Autoesporte feito este mês.
Quando e como esses preços vão baixar? Tire suas principais dúvidas a seguir.
Que veículos 0Km serão desonerados pelo governo para que o preço caia? Qual o valor máximo?
A medida valerá para automóveis de modelos que são considerados de entrada, que hoje têm preços de até R$ 120 mil. Hoje, o carro mais barato do país custa pouco menos de R$ 70 mil.
De quanto serão os descontos nos carros a partir do corte de impostos?
Segundo o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Geraldo Alckmin, o objetivo é que haja descontos entre 1,5%, no mínimo, e 10,96%, no máximo, a partir da redução de impostos federais, como IPI e PIS/Cofins, para as montadoras.
Haverá faixas diferentes, dependendo das propriedades do veículo. Carros com preços mais baixos terão desconto maior, assim como os mais econômicos e com menor emissão de poluentes. Veículos com mais de uma dessas propriedades terão desoneração maior. Também será menos tributado o carro com mais componentes fabricados no Brasil.
— Vamos ter uma metodologia combinando preço mais barato (dos carros mais populares), eficiência energética e densidade industrial, para colocar esse desconto no preço do veículo — disse Alckmin: — Acima de R$ 120 mil não tem nenhuma mudança.
A redução no preço poderá ser ainda maior que a redução dos impostos, porque o pacote vai prever a possibilidade de venda direta da indústria para o consumidor, eliminando a intermediação da concessionária.
Quando os descontos começarão a valer?
Isso não está definido. As regras serão oficializadas por meio de decreto e medida provisória, mas o Ministério da Fazenda pediu 15 dias para estruturar o programa, bem como definir fontes de receitas para compensar as desonerações.
Segundo Alckmin, o alívio nos impostos virá de uma redução no PIS/Cofins, a ser feita via medida provisória, e com uma diminuição no IPI, que deverá entrar em vigor por meio de um decreto.
A redução dos preços será permanente?
Não. O governo afirmou que a desoneração será temporária, mas não especificou por quanto tempo ela deve ser mantida.
Tenho planos de comprar um carro, devo esperar?
Se o seu objetivo é comprar um modelo de entrada, com valor de até R$ 120 mil, vale a pena esperar um pouco. Se o governo conseguir editar as medidas em duas semanas, o desconto poderá chegar a quase R$ 10 mil nessa faixa de preço.
Poderei comprar um carro diretamente da fábrica em vez de ir numa concessionária?
Uma das ideias do governo para reduzir o preço dos automóveis é autorizar as montadoras a vender carros diretamente para pessoas físicas, saltando a intermediação das concessionárias. Martins diz que isso pode resultar em redução de preço, dependendo das margens de lucro que hoje são praticadas por elas.
No entanto, Antônio Jorge Martins, coordenador de cursos automotivos na Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que isso implica em modificar legislação:
— Você tira a concessionária e a sua comissão nesse processo de venda. Hoje, por lei, um carro só pode ser vendido por meio de uma concessionária. Isso é importante, pois vamos ver quais são as margens das concessionárias.
A medida vai impulsionar a produção das montadoras e gerar empregos?
Para Antônio Jorge Martins, da FGV, a medida pode se reverter em uma alta nas vendas de algo entre 100 mil e 150 mil unidades por ano, números que ele considera baixos frente ao total hoje do mercado, na casa dos dois milhões de veículos por ano.
A Anfavea, que reúne as montadoras, estimou um incremento de até 300 mil carros vendidos por ano. Para Martins, o impulso da desoneração será insuficiente para cobrir alta nos custos das fabricantes e estimular investimentos e abertura de novos turnos nas fábricas.
— Desde 2020, a alta nos custos dos carros subiu cerca de 50% por conta do avanço do dólar e das matérias-primas. Essa redução no preço agora, via corte de impostos, não vai levar as montadoras a aumentar a produção dos modelos — explica Martins, lembrando que o Brasil já chegou a produzir quatro milhões de unidades no ano.
O especialista ressalta ainda que as montadoras foram afetadas com a falta de chips nos últimos anos, pressionando ainda mais seus custos. Ao mesmo tempo, a inflação global e a recessão provocada pela pandemia reduziram a demanda. As fabricantes então passaram a focar sua produção em modelos mais rentáveis, que são os mais caros.
— Por isso, vamos ver pouca mudança na concessionária. Ou seja, nem todas terão para pronta-entrega dos modelos mais baratos — explicou: — O ideal para estimular a demanda da população é investir no aumento da renda através do investimento em educação e melhoria do ambiente e econômico. Só a redução de imposto é algo paliativo.