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Escrivão da Polícia Civil suspeito de assédio sexual dentro de delegacia é preso em Franca, SP

Vítimas contam que foram obrigadas a fazer sexo oral no policial, que as intimidavam mostrando uma arma e dizendo que tinha informações de familiares. Agente foi levado à capital paulista.

O escrivão da Polícia Civil de Franca (SP) suspeito de cometer abuso sexual dentro de uma delegacia foi preso na cidade na tarde desta sexta-feira (2). No fim do ano passado, ao menos três mulheres relataram ter sido vítimas do agente.

De acordo com uma das mulheres, que preferiu não ser identificada, o crime aconteceu em 2020 enquanto o escrivão colhia depoimento dela. Ele teria a obrigado a receber e fazer sexo oral, enquanto a intimidava mostrando uma arma e alegando ter informações de seus familiares.

Segundo a mulher, o encorajamento para denunciar o escrivão veio após acompanhar outras vítimas relatando casos semelhantes contra o suspeito.

Após ser preso, o escrivão foi levado ao presídio da Polícia Civil, na capital paulista. A EPTV, afiliada da TV Globo, tentou contato com a defesa do suspeito neste sábado (3), mas não obteve retorno.

A corregedoria da Polícia Civil investiga o caso por meio de um procedimento administrativo.

Já a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que a arma e a carteira funcional do agente foram apreendidas e que ele está à disposição da Justiça.

Escrivão da Polícia Civil de Franca é suspeito de assédio sexual dentro de delegacia — Foto: Reprodução/EPTV

Mesma forma de ação

Segundo a terceira vítima a relatar o crime, a forma como o escrivão teria agido com ela e com as outras mulheres que procuraram a corregedoria para denunciar o agente é semelhante.

Durante procedimentos padrão de depoimento em uma sala da delegacia, a vítima relata que o homem pediu para ver o celular dela e iniciou a procura por fotos na galeria do aparelho. Ao encontrar fotos íntimas, ele então iniciou a uma série de comentários de cunho sexual.

“Ele ficou olhando meu celular um tempo, a gente ficou em silêncio e de repente ele foi na minha galeria de fotos, ele viu uma foto minha mais íntima, ele mostrou para mim, começou a rir e perguntou se era eu. Eu falei que era, mas perguntei o que tinha a ver a foto com o caso que ele estava me perguntando. E ele falou que ‘não, não é nada. Só quero saber se é você’, e rindo”, relembra.

Depois de fazer os comentários, ele trancou a porta da sala e obrigado a mulher a receber sexo oral e, e em seguida, fazer nele. Durante o abuso, o escrivão estava com uma arma em cima da mesa proferindo intimidações, segundo depoimento da mulher.

“Ele colocou as mãos nos meus ombros por trás, no dia eu estava de vestido, e ele pegou e falou ‘agora eu quero ver se é você mesma na foto’. Aí eu simplesmente entrei em choque, eu não sabia o que eu fazia […] Ele levantou meu vestido, afastou minha calcinha e fez sexo oral comigo. Eu estava tremendo muito, pedindo para ele parar com aquilo, aí ele falou que era para eu ficar normal, tranquila e sempre falando ‘eu sei onde você mora’, ‘eu sei que você tem duas filhas moças’, ‘então fica quietinha, o que está acontecendo aqui vai ficar aqui, não pode sair daqui’”, diz a vítima.

Terceira mulher denuncia escrivão da Polícia Civil pelo crime de assédio sexual em Franca (SP) — Foto: Reprodução/EPTV

Outros casos

Além do caso da mulher, outras duas vítimas também denunciaram o mesmo policial. O advogado João Humberto Alves, que atende à última denunciante, afirma que a divulgação do caso é crucial para que outras possíveis vítimas se encorajem a denunciar.

“Ele precisa ser julgado e, posteriormente, responsabilizado desde que haja as provas necessárias. Por isso é importante que as outras vítimas se unem para que tornem o embasamento de provas mais forte”, aponta.

Ainda de acordo com o advogado, a forma de atuação do suspeito, de acordo com o depoimentos das vítimas, faz com que a suspeita de que mais mulheres possam ter sofrido os mesmos abusos aumente.

“Por conta da forma como ele agiu, nós acreditamos que pode ser que haja outras vítimas além das que até agora se manifestaram. A minha cliente, ao conversar com ela, ela quer que isso não aconteça com outras pessoas, porque a princípio não se imagina que isso possa acontecer em um órgão público e, principalmente, na Polícia Civil”.

Advogado João Alves em Franca (SP) — Foto: Reprodução/EPTV