Um casal de comerciantes foi vítima de racismo e acusado de furtar uma air fryer de uma loja de departamentos dentro de um shopping em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Ao g1, nesta sexta-feira (15), Ângela da Silva Soares, de 23 anos, disse que foi abordada por dois funcionários da loja e um segurança do centro de compras no estacionamento do local.
Ela e o marido chegaram ao shopping, por volta das 18h30 da última quinta-feira (8), e entraram em uma primeira loja para consultar o preço da air fryer. Em seguida, o casal entrou na Lojas Americanas e depois foi em um supermercado atacadista, onde efetuou a compra do produto.
Segundo a comerciante, após a compra, o casal saiu do atacadista com a caixa da air fryer em mãos e a nota fiscal da compra. Eles retornaram para a Lojas Americanas para olhar sanduicheiras que estavam na promoção. “Quando a gente chegou lá, a funcionária informou que a sanduicheira que a gente queria não era a mesma que estava na promoção. Então, a gente não efetuou a compra”.
Ângela disse que o mesmo policial descartou que ela havia sido vítima de racismo. “O outro [policial] veio de dentro do shopping e falou ‘Nossa, que situação chata vocês passaram. O menino errou, assumiu o erro dele’. Mas, o policial estava olhando torto como se quisesse brecar o que ele estava falando”, relembrou.
Segundo ela, o mesmo policial que descartou o racismo teria se recusado a registrar a ocorrência, que foi assumida pelo outro colega de trabalho. “Ainda bem que eu estava com minha amiga [advogada]. Não ia saber como agir nesse momento”. Na delegacia, ela contou ainda que o delegado ouviu a versão apresentada por eles e disse que não caberia como crime de racismo.
Ângela disse que nunca passou por uma situação dessa de ser acusada de algo que não fez. “O único sentimento que eu tive foi de vulnerabilidade. Me senti frágil e, ao mesmo tempo, foi um sentimento de culpa, como se eu tivesse me sentindo culpada por algo que não cometi”.
A mulher disse, ainda, que sentiu-se pior com os questionamentos feitos pelo policial. “Como se estivesse questionando a minha índole, falando que eu estava fazendo aquela situação propositalmente, como se a gente estivesse ali visando dinheiro”.
Ângela resolveu expor a situação para outras pessoas não passarem pelo o que o casal passou. Ela espera que as empresas capacitem seus funcionários e colaboradores para não fazerem isso com ninguém. “Espero que a Justiça seja feita e que as pessoas envolvidas possam responder pela atitude que elas cometeram”.
A advogada afirmou que entrou com um processo cautelar de antecipação de provas contra a Lojas Americanas, uma outra loja do estabelecimento e o Shopping Litoral Plaza, com objetivo de obter imagens das câmeras onde registraram a situação.
“A ação de indenização de danos morais está sendo inscrita e irei entrar com processo cível de indenização por danos morais e no criminal, pois é nítido que houve um caso de racismo e é necessário ampla divulgação para que casos como esse não se repitam nunca mais”, disse a advogada Ana Paula.
Em nota, a Americanas informou que repudia qualquer abordagem que não esteja de acordo com seu Código de Ética e Conduta, disse que está apurando o ocorrido para tomar as devidas providências, e que realiza constantemente treinamentos com foco na capacitação de seus associados e prestadores de serviço, de forma a reforçar as melhores práticas e comportamentos adequados para todos os tipos de situações.
O g1 entrou em contato com a Polícia Militar sobre a conduta do policial durante o atendimento da ocorrência, com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) sobre a natureza da ocorrência registrada ter sido não criminal ao invés de racismo ou calúnia, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
A reportagem também tentou contato com o Shopping Litoral Plaza, mas não recebeu retorno.