Brasil

Caso Jeff Machado: Justiça mantém prisão de principal suspeito do crime

Produtor de TV foi preso na última quinta-feira, dia 15 de junho, por agentes da UPP da Rocinha. Bruno estava escondido em um hostel na comunidade do Vidigal, Zona Sul do Rio

Reprodução/TV Globo

Polícia prende o produtor Bruno de Souza Rodrigues, suspeito de matar ator Jeff Machado no Morro do Vidigal.

O juiz Rafael Rezende decidiu manter a prisão temporária do produtor de TV Bruno de Souza Rodrigues, 37, um dos principais suspeitos do assassinato do ator Jeff Machado — morto em 23 de janeiro dentro da própria casa em Guaratiba, Zona Oeste do Rio. A decisão foi tomada em audiência de custódia neste sábado. A informação foi confirmada pelo advogado da família de Jeff Machado, Jairo Magalhães. Bruno Rodrigues ficará em temporária por pelo menos 30 dias, até que ocorra ou não uma decisão da Justiça pela prorrogação ou conversão em preventiva. Outro acusado do crime, o garoto de programa Jeander Vínicius da Silva Braga também está preso desde o dia 2 de junho.

– O Ministério Público e o juiz da audiência de custódia entenderam que não poderiam rever os fundamentos da prisão temporária de modo que foi mantida apenas formalmente (a prisão temporária) – explicou o advogado de Bruno Rodrigues, João Maia.

Durante esse período, o produtor de TV permanecerá na cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio. Bruno, preso desde quinta-feira, está com aspecto triste e preocupado. O suspeito não prestou depoimento e afirmou que só irá falar sobre o caso em juízo.

Sobre a decisão do juiz, o advogado Jairo Magalhães disse que a família de Jeff Machado recebeu a notícia da manutenção da prisão do principal suspeito da morte do ator com o sentimento de justiça. E que espera que após o término das investigações, Bruno seja mantido na cadeia.

– Nós, a defesa da família, recebemos essa notícia com a certeza de que está se fazendo Justiça. É necessária a prisão temporária dele como entendemos, também, ser necessária a prisão preventiva após o término das investigações –

O segundo suspeito de participação no crime, Jeander Vinícius da Silva Braga, também está preso, em Benfica, desde o dia 2 de junho. Bruno e Jeander, apesar de estarem no mesmo presídio, estão em celas separadas e sem contato pelos corredores.

Bruno Rodrigues foi encontrado por agentes da UPP do Vidigal escondido numa suíte de um hostel na comunidade da Zona Sul do Rio, na última quinta-feira. A polícia chegou até o local do esconderijo a partir do rastreamento do celular do acusado e também de denúncias de moradores. O produtor passou 13 dias foragido da polícia, desde que sua prisão foi decretada em 2 de junho pela Delegacia de Descobertas de Paradeiros (DDPA).

Para a investigação, ele foi responsável por arquitetar e executar o ator Jeff Machado com a ajuda de um garoto de programa no dia 23 de janeiro, em Guaratiba, Zona Oeste do Rio, na casa do ator. Em seguida, Bruno Rodrigues alugou uma quitinete em Campo Grande, também na Zona Oeste, e com a ajuda do comparsa colocou o corpo do ator dentro de um baú, que pertencia a vítima, que foi enterrado e concretado no quintal do imóvel. Desde então, segundo a delelegada Elen Souto, o produtor de TV passou a inventar personagens para sustentar a ideia de não foi o executor do assassinato. Argumento que já foi descartado pela investigação, mas segue sendo sustentada pela defesa do acusado.

Segundo Bruno Rodrugues, Jeff Machado teria sido morto por um homem chamado Marcelo, contratado pelo produtor para participar da gravação de um vídeo sexual. Na casa, segundo a polícia, estavam Bruno, Jeander e a vítima que foi dopada, asfixiado com um fio de telefone, teve os pés e mãos amarrados por fios de metal e colocado em posição fetal dentro do baú. Além disso, o ator que era “pai” de oito cachorros da raça setter, que foram jogados na rua pelos suspeitos, segundo as investigações, também foi vítima de estelionato.

Veja o passo a passo do suspeito até ser preso pela polícia
Saindo do prédio de amigo em Campo Grande
Segundo as investigações, na primeira vez que Bruno foi monitorado pela polícia, ele estava saindo de um apartamento na Estrada do Monteiro, em Campo Grande, no dia 27 de maio, cinco dias antes de ser considerado foragido. Imagens de câmeras de segurança, obtidas pela Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), mostram o produtor de TV saindo de uma residência, usando camisa branca, boné, segurando uma bolsa com um cachorro da raça yorkshire e entrando em um carro branco.

De acordo com os investigadores, o apartamento seria de um amigo de Bruno, e há indícios de que ele esteve escondido no imóvel pelo menos até a véspera de a DDPA pedir sua prisão, no dia 31 de maio (só em 2 de junho o mandado foi expedido pela Justiça). Já o cachorro carregado pelo suspeito, segundo a polícia, se chama Chanel e é sempre visto com o suspeito.

Circulando pela cidade
Segundo a delegada responsável pelas investigações, Elen Souto, a polícia vinha monitorando há cerca de duas semanas a antena do celular de Bruno Rodrigues. O produtor chegou a circular por Leblon, Ipanema, Copacabana, na Zona Sul, e Mesquita, na Baixada Fluminense. Todos os locais por onde Bruno passou foram rastreados pela polícia no período de 3 a 14 de junho. No entanto, ainda de acordo com a delegada, faziam cinco dias que Bruno não se movida pela cidade. Desde o dia 10 de junho, ele estaria circulando apenas dentro da comunidade do Vidigal, o que facilitou sua localização.

No dia 12 de junho, o Disque Denúncia divulgou um cartaz de “procurado”, com foto do produtor, oferecendo uma recompensa de R$ 1 mil por informações que levassem a seu paradeiro. Foram recebidas 27 denúncias.

Segundo a delegada Elen Souto, Bruno não estaria agindo sozinho. A polícia acredita que o suspeito recebeu ajuda para escapar e usou parte do dinheiro doado pela venda de um imóvel do ex-namorado (R$ 100 mil) para custear as despesas da fuga. Além disso, Bruno teria uma forte rede de contatos no Vidigal por atuar durante muito tempo no meio artístico — a informação será checada no decorrer do inquérito.

Chegada ao hostel no Vidigal

Em 24 de maio, dias antes de ser flagrado sainda da casa em Campo Grande, o produtor fez uma reserva no hostel Laje do Neguinho, na comunidade do Vidigal, Zona Sul do Rio. Bruno teria chegado ao local de mototáxi, carregando uma mochila e uma mala. Ele se apresentou com um nome falso ao dono do imóvel, dizendo que se chamava Natan Silva. Afirmou ainda que atuava com produção de eventos e ofereceu ajuda para trabalhar no estabelecimento com a promessa de alavancar os negócios, já que o lugar é conhecido por promover samba ao vivo, shows e festas de aniversário.

Bruno Rodrigues pagou adiantado R$ 1.200 pelo aluguel de uma suíte no segundo andar do hostel por um mês. E mais R$ 100 pela chave (para que não precisasse deixar na recepção cada vez que saísse). Ainda de acordo com o dono do estabelecimento, José Silva, o suspeito não teria apresentado documentos ao chegar no local, alegando tê-los perdido. Ele teria dito que faria um boletim de ocorrência.

No valor do aluguel, estavam imbutidos 10% de comissão ao mototáxi que levou Bruno até o hostel. Ele pagou e ficou no estabelecimento, sem muita burocracia.

— Chegou aqui, pagou e pronto. Ele entrou no mesmo dia. Aqui não tem muita burocracia, não. A pessoa chega aqui, paga, entra. Não quero saber quem é a pessoa. Não vou ficar pedindo referências. Ele disse que perdeu o documento — afirmou o dono do hostel.— Não está tendo eventos aqui. Ele disse que era produtor e que fazia eventos grandes e se ofereceu para trabalhar aqui comigo.

Bruno teria chegado sozinho e, segundo José Silva, não recebia visitas. O proprietário confirmou que no local há câmeras de segurança, no entanto, elas não funcionam. O produtor de TV não estava com roupas de marcas ou pertences de valor.

Dia da prisão
O comandante da UPP do Vidigal, André Ponteiro, afirma que, na manhã desta quinta-feira, a PM recebeu informações de moradores indicando que Bruno estaria hospedado do hostel. Ainda segundo o capitão, agentes da Polícia Militar foram até o endereço e encontraram Bruno no apartamento. Ele não teria apresentado resistência à prisão, mas estaria de malas prontas. Para a polícia, o produtor estaria tentando calcular mais uma rota de fuga. Plano que não deu certo com a chegada dos policiais.

Entenda o caso e a participal de Bruno Rodrigues no crime
Bruno de Souza Rodrigues, preso na manhã desta quinta-feira, é o principal suspeito da morte de Jeff Machado. No dia 23 de janeiro, o ator foi morto estrangulado com um fio telefônico em seu quarto. Segundo a polícia, Bruno, na companhia do garoto de programa Jeander Vinícius da Silva Braga — preso temporariamente —, matou o ator, amarrou pés e mãos com fita adesiva e o colocou em posição fetal em um dos baús usados na decoração da própria casa da vítima.

De acordo com as investigações, Bruno planejava o crime desde dezembro. Para colocá-lo em prática, o produtor protagonizou um “teatro” com amigos e conhecidos de Jeff: além de propostas falsas de emprego, inventou personagens, se passou pelo ator e ainda montou uma farsa para a família da vítima.

Propostas falsas de emprego

A esteticista Cintia Hilsendeger, amiga de infância de Jeff, revelou em entrevista ao GLOBO que o artista pagou cerca de R$ 20 mil a Bruno para ter oportunidade de atuar em uma novela na televisão. Segundo a amiga, ele se aproximou de Jeff dizendo ser assistente de produção.

— O suspeito explicou que Jeff teria que dar R$ 20 mil para ter acesso a um papel na novela e não ficar só no elenco de apoio. Acontece que toda hora uma novela nova ia ao ar e nada de o Jeff ser chamado — contou Cintia.

Segundo Cintia, Bruno inventava desculpas quando questionado sobre a demora para Jeff conseguir um papel. Ele, inclusive, sugeria mudanças físicas para o ator.

— Ele falava que o Jeff tinha que emagrecer ou engordar. Toda vez ele pedia para o Jeff ter paciência, que o momento dele ia chegar. Falava para ele ficar calmo que tudo ia dar certo, que na próxima novela ele conseguiria. Eu falava para ele não acreditar nele — relatou a amiga.

Mãe de Jeff, Maria das Dores, de 73 anos, contou que o filho a avisou que daria R$ 20 mil a Bruno. Ela estranhou a quantia, mas deu força para que o ator seguisse com os pagamentos, já que ele explicara que o valor era um investimento na carreira. O dinheiro era parte da herança que recebeu do avô.

Personagens fictícios, registro de ocorrência e pai de santo

Bruno criou, pelo menos, dois personagens para atrapalhar as investigações da polícia, além de se passar pelo próprio Jeff para amigos do ator. Tudo começou quando, em 1º de fevereiro, Patricia Triacca, veterinária e amiga de Jeff, recebeu a notícia do abandono dos cachorros do ator. Ela, então, entrou em contato com ele perguntando o que estava acontecendo. Naquele momento, quem respondia às mensagens pelo celular de Jeff era Bruno. Fingindo ser o ator, ele disse estar em São Paulo a trabalho e que havia pedido a uma amiga de Jacarepaguá para cuidar dos cães, mas eles acabaram fugindo.

Na conversa, o suposto Jeff deu o telefone de quem seria o “namorado” da amiga de Jacarepaguá. Ele afirmou que Giovani explicaria a situação dos setters para Patrícia. Nesta quarta-feira, a perícia de um áudio enviado a Patrícia revelou que Giovani, suposto namorado de uma amiga do ator, era, na verdade, Bruno. Ele forneceu informações falsas sobre os cachorros do artista, abandonados após seu desaparecimento.

Ainda em janeiro, Bruno foi até uma delegacia registrar o sumiço do ator. Dias depois, o produtor de TV apareceu no terreiro do pai de santo Jorge Augusto Barbosa Pereira, em Santíssimo, também na Zona Oeste. Queria um “trabalho” para ajudar a encontrar Jeff porque estava “angustiado com o sumiço do amigo”. Jorge Augusto foi quem ficou, a pedido de Jeander e Bruno, com os oito setters do ator — Jeff era louco pelos cães e os exibia com orgulho nas redes sociais, usando um perfil exclusivo para as fotos dos animais.

Depois que o corpo de Jeff foi encontrado e Bruno e Jeander se tornaram suspeitos do crime, a dupla tentou, em depoimento à polícia, inserir uma terceira pessoa na cena do crime. Eles alegaram que um homem chamado Marcelo foi o responsável por matar o ator. Segundo relato de Jeander, Marcelo, conhecido como “Ben 10” ou “Pablo”, era matador da milícia da Zona Oeste.

A polícia nunca acreditou nessa versão e cravou, desde o início das investigações, que o suposto assassino é um dos personagens fictício criado pelos suspeitos “em uma tentativa desesperada de excluir suas responsabilidades penais”. Posteriormente, Jeander confessou à polícia ter recebido dinheiro de Bruno para mentir sobre a existência de Marcelo. Na realidade, disse o garoto de programa, o assassino seria mesmo Bruno, e Marcelo era uma invenção.

“Cena” com a família da vítima

Em 6 de fevereiro, dois dias após o registro de desaparecimento, a família de Jeff descobriu que as chaves da casa e do carro do ator estavam com Bruno. Eles combinaram de buscar os bens na residência do artista, quando o produtor também iria mostrar o imóvel para eles. Diego Machado, irmão de Jeff, decidiu gravar a visitação. Logo no início do vídeo, ele sentiu mau cheiro na sala e na cozinha da casa, que ficam no primeiro andar. Na suíte do ator, revirada e bagunçada, notou que todas as roupas estavam penduradas em cabides, e que itens de higiene pessoal, como shampoo, condicionador e escova de dentes, estavam no banheiro — o que não fazia sentido já que Jeff, a princípio, estava em São Paulo.

As imagens revelam Bruno atordoado e preocupado com o sumiço de Jeff. Em dado momento, ele leva a mão ao rosto, como se estivesse sofrendo ou emocionado. E anda pelo quarto falando dos itens que Jeff gostava.