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Fila por leitos de UTI: ‘É desesperador’, diz mãe de bebê prematuro que esperou cinco dias por vaga

“É desesperador ver seu filho precisando de UTI, morrendo e você não ter recurso”. A fala é da confeiteira Élida Regiane, mãe de Mateus, que, com 46 dias de vida, desenvolveu problemas respiratórios após contrair gripe e precisou ser levado ao hospital.

Até conseguir uma vaga na UTI, o que só aconteceu na segunda-feira (26), ele passou cinco dias internado na enfermaria do Hospital Estadual Jaboatão Prazeres, no bairro de Cajueiro Seco, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife.

Mateus foi um dos mais de 60 bebês e crianças que, na segunda, estavam na fila por uma vaga em alguma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag). Nesta terça-feira (27) são 70, sendo nove recém-nascidos e 61 crianças esperando atendimento.

Por causa da crise de superlotação, no dia 21 de junho, o governo do estado decretou emergência em saúde.

Mateus conseguiu vaga na UTI após cinco dias internado. — Foto: Reprodução/TV Globo

Segundo a confeiteira Élida Regiane, mesmo com a tentativa dos médicos da unidade de saúde, ninguém conseguia uma vaga para a criança, e Mateus não apresentava melhoras.

“Ele só tem piora, nada está dando um jeito porque ele realmente precisa de um cuidado mais especial”, afirmou.

Apesar de estar internado no Grande Recife, o governo só conseguiu vaga para o menino a mais de 400 quilômetros de distância, no Hospital de Serra Talhada, no Sertão.

A família também conta que a medicação necessária para o tratamento de Mateus estava em falta na unidade de saúde.

“Uma medicação para nebulizar, que a médica queria, não tinha. Outra medicação também não tinha. Como é que pode meu neto ficar bom desse jeito?”, disse a técnica de enfermagem Olinda da Silva Santos, avó de Mateus.

“Tem várias mães e avós na minha situação, uma criança querendo respirar e não pode. E a gente está aqui vendo Mateus indo embora”, disse Olinda.

Crise nas UTIs em PE

 

De acordo com a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES), 106 crianças e bebês esperam por uma vaga nas UTIs do estado. Desse total, 70 estão com Síndrome Respiratória Aguda Grave e outras 36 apresentam outros problemas de saúde.

A crise fez com que a governadora Raquel Lyra (PSDB) decretasse emergência em saúde pública por 90 dias devido ao aumento da Srag, causada por vírus.

Neste ano, mais de 2 mil casos foram registrados em menores de 2 anos. Desses, 40 morreram. A fila chegou a ultrapassar de 80 crianças e bebês com Srag esperando por um leito de UTI.

Segundo a secretária de saúde do estado, Zilda do Rêgo Cavalcanti, a tendência é a diminuição dos casos. “Eu diria que a gente tem vivido dias de preocupação com a sazonalidade, principalmente na pediatria. Mas a curva aparenta estar em decréscimo, mas ainda com muitos casos, claro”, disse.

Ainda de acordo com a secretária, o tempo médio de espera por uma vaga na UTI é de dois dias. “Já abrimos 106 leitos, mas uma das maiores dificuldades são recursos humanos especializados, principalmente na área médica. É um grande limitador”, afirmou Zilda.