Usuários de Fortaleza de aplicativo de transporte denunciaram neste domingo (2) um motorista que tentou cobrar taxas extras do cliente e, ao receber a recusa, xingou e até ameaçou os passageiros. Os casos ocorreram na madrugada de sábado para domingo no Bairro Meireles.
Conforme os relatos dos passageiros e prints das conversas, o motorista, identificado como Valdenor, dirigia um veículo modelo Volkswagen Gol e, após aceitar as corridas, cobrava um valor até três vezes superior ao que aparecia no aplicativo.
O g1 não conseguiu localizar o motorista de aplicativo para comentar sobre o caso.
O g1 conversou com dois passageiros que solicitaram a corrida com Valdenor e, ao recusarem pagar o valor extra, foram xingados pelo condutor. Para uma cliente, ele disse que não trabalha “para liso”, gíria usada para pessoas com pouco dinheiro. O outro passageiro chegou a ser ameaçado, com o motorista chamando o usuário para “cair pra dentro” – gíria para brigar – e afirmando que ia até onde ele estava para “ver se tu não aprende”.
Em nota, a Uber afirmou que “considera inaceitável qualquer tipo de violência” e que o comportamento do motorista “configura uma violação aos termos de uso da plataforma”. A empresa também afirmou que o motorista teve sua conta desativada e que está à disposição das autoridades para colaborar se houver investigações.
Um dos usuários que teve uma corrida com Valdenor foi o estudante Ian Victor, de 22 anos. Ele estava com a namorada e um amigo em um bar quando solicitaram a viagem para casa, um percurso de cerca de 15 minutos que, no aplicativo, saiu pelo valor de R$ 16. Valdenor, porém, quis cobrar R$ 40. Ian e os amigos não aceitaram.
“Ele já começou a xingar totalmente de graça porque a gente respondeu ele de boa”, relembra Ian. Após os xingamentos, Valdenor afirmou que ia até o local onde estava o passageiro para brigar. “Eu fiquei nervoso na hora. Se fosse o endereço da minha casa, por exemplo, se eu estivesse saindo da minha casa pra ir pra qualquer outro canto, eu ficaria assustado”, comenta.
Após a confusão, Ian cancelou a corrida e chamou outro motorista. No dia seguinte, quando parou para ler a conversa, veio a indignação.
“Um tipo de pessoa como essa estar na Uber. Porque se já é ruim, perigoso, para nós homens, imagina para mulheres, imagina o que um cara desse não pode fazer, se a pessoa não aceita (a cobrança), né? […] Me preocupa muito que um cara como esse esteja rodando por aí no aplicativo, o que ele não pode fazer dentro do carro com uma pessoa”, afirma.
A preocupação de Ian é a mesma da estudante Larissa Barbosa, que presenciou uma situação parecida com Valdenor. Larissa estava na casa de amigos na madrugada de sábado para domingo quando sua amiga, Luiza, solicitou um carro por aplicativo para ir embora. O motorista era Valdenor.
“Ela pegou o celular e pediu o Uber dela, quando ela olhou, ela disse assim ‘Pessoal, o Uber tá me xingando muito’, aí a gente não entendeu, pegou celular pra ver e ele estava dizendo que iria cobrar vinte e quatro reais em uma corrida que estava dando sete, oito reais”, conta Larissa.
A corrida da amiga de Larissa era curta, de cerca de cinco quadras dentro do mesmo bairro, o Meireles, onde Ian também estava quando solicitou o carro por app. Quando a amiga de Larissa se recusou a pagar o valor extra, o motorista começou os xingamentos e disse que “tinha mais dinheiro” que a passageira. Depois, ele cancelou a corrida.
“O que mais assustou foi porque se ele não tivesse falado antes, ela tinha entrado no carro. Tinha iniciado a corrida normalmente e ela tinha ido e sabe Deus o que um cara que está naquele estado não faz né? Depois ela chega no destino, ele cobra o valor a mais, ela diz que não vai dar e a gente não sabe né?”, desabafa Larissa.
Após o ocorrido, os amigos foram de carro deixar Luiza em seu endereço. A situação, porém, deixou o grupo assustado. “É questão de segurança mesmo, não tem de jeito nenhum. A gente pensa que tem suporte, recebe até as informações do motorista ali, mas não é mais suficiente quando a gente para para pensar. Tem que estar atenta o tempo todo, tem que estar tomando cuidado até com aplicativos que deveriam ser seguros”, lamenta.
A cobrança de taxas extras em corridas por aplicativo é uma prática ilegal, segundo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A prática é vedada pelo Código de Defesa do Consumidor, lei 8.078. Em maio de 2022, uma passageira levou socos, puxões de cabelo e teve o pescoço apertado por um motorista de aplicativo em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, após se recusar a pagar uma taxa extra cobrada pelo condutor.
“Ao acionar o aplicativo, o consumidor firma um contrato com a empresa do aplicativo, que estabelece naquele momento pelo aplicativo o valor da corrida, o tempo de espera até o motorista chegar, estabelece o roteiro da viagem. Enfim, ali já está firmado o compromisso e o contrato de relação civil e, sobretudo, protegido pelo Código de Defesa do Consumidor e não pode cobrar taxa extra”, explicou, à época, o presidente da OAB em Juazeiro do Norte, Vavá Lemos.