A equipe médica que socorreu Francisco Nycolas Silva Soares, criança que chegou morta a hospital no interior do Ceará, percebeu que o garoto apresentava marcas e lesões no corpo, conforme apurado pela TV Verdes Mares, afiliada da Globo no Ceará.
Nycolas completou quatro anos no último dia 1º. Ele morreu na tarde desta sexta-feira (14). Conforme informações da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), apenas após o laudo da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) a causa da morte será confirmada. A mãe e o padrasto da criança foram ouvidos pela polícia e liberados em seguida.
Em relato, testemunhas que acompanharam o momento em que Nycolas estava sendo socorrido, apontaram que tudo aconteceu por volta das 14 horas. “Corri, peguei ele e pedo socorro à população. Fui para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) com ele. Os médicos tentaram reanimar, mas não deu”, disse a fonte em condição de anonimato.
A testemunha disse que não viu nenhuma marca na criança e que até tentou ajudar a socorrer Nycolas com uma massagem nas costas, mas sem resultado.
Outra fonte, também anônima, disse que também foi chamada para ajudar o menino. “Ele não falava mais nada, ficava só ‘espumando'”, comentou.
Quando os policiais chegaram na UPA, o padrasto do menino ficou assustado e afirmou a essa fonte que iriam “levar ele”. A testemunha respondeu: “Vai não, fica calma. Se ‘tu’ deu só um tapa, não vão te levar não. Ele rezava pedindo a Deus para o menino voltar e chorava”, acrescentou.
A avó materna de Nycolas disse que não teve mais contato com a mãe do menino desde que ela foi liberada na delegacia. A mulher ainda relatou que a criança a visitava de 15 em 15 dias e que já apareceu com hematomas no corpo em algumas dessas visitas. Ainda conforme a familiar, o Conselho Tutelar da cidade acompanhava o caso.
A creche onde Francisco Nycolas Silva Soares, a criança de quatro anos que chegou sem vida em uma unidade hospitalar de Pentecoste, interior do Ceará, lamentou a morte do menino nas redes sociais.
Na nota, a Creche Proinfancia Maria do Carmo Luz e Silva manifestou condolências aos familiares e amigos. O caso está sendo investigado pela Delegacia Municipal de Pentecoste, que já ouviu os pais da criança.
Ainda não há mais detalhes sobre o caso, mas a prefeitura municipal da cidade emitiu nota de pesar onde fala da “violência que levou à morte da criança”.
“A Prefeitura de Pentecoste manifesta o mais profundo sentimento de pesar e repúdio a violenta morte do pequeno F.N.S.S, ocorrida nesta sexta-feira, 14.07. Que Deus conforte o coração de todos que sofrem neste momento de dor e que a Justiça atue de forma célere e firme”.
Uma das professoras do pequeno Nycolas revelou ao g1 que ainda não sabe informações sobre a circunstância da morte do menino. Ela disse, no entanto, que a creche havia recebido, há cerca de dois meses, um laudo mostrando que a criança havia Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Nycolas não falava e fazia pouca comunicação. Ele também faltava muito às aulas, segundo a professora, e nunca demonstrou comportamento diferente em relação aos pais.
O padrasto, no entanto, era mais distante e não costumava levar ou pegar a criança na instituição.
“Ele não falavada nada, mas era muito esperto e agitado, subia e descia das cadeiras. Às vezes se machucava na frente da gente na escola. E às vezes chegava com algum machucado, mas a gente nunca desconfiou que poderia ser maus tratos. Nunca vi o pai. O padrasto foi deixar pouquíssimas vezes na escola e ele (Nycolas) faltava muito”, explicou ao g1.
Ainda segundo a profissional, o menino demonstrava viver uma vida simples, mas sempre chegava limpo e arrumado na escola. Por um período de tempo, ficou sem nenhum tipo de contato com a mãe da criança, que dizia estar sem telefone.
“Eu perguntei o motivo dele faltar muito e ela disse que às vezes ele estava muito agitado”, acrescentou.
A professora acredita que, por causa do transtorno, o comportamento de Nycolas variava bastante e em alguns momentos ele estava mais agitado.
“Era uma criança extremamente carinhosa, adorava me abraçar. Não tinha nada que demonstrasse um alerta. Foi uma surpresa (a morte). Hoje que estou conseguindo falar sem chorar, mas estou querendo chorar de novo”, disse.
Além dele, outras três crianças da turma também têm TEA e há uma cuidadora direcionada a esses alunos.