Adversários neste sábado pelo Campeonato Brasileiro, Flamengo e América-MG estão em lados opostos nos bastidores quando o assunto é a criação de uma liga de clubes. Enquanto os cariocas são um dos principais expoentes da Libra, os mineiros integram a Liga Forte Futebol (LFF).
Em entrevista ao ESPN.com.br, Marcus Salum, presidente do América SAF, falou das divergências que ainda impedem um acordo entre as partes. A principal delas é referente à distribuição do dinheiro de direitos de transmissão e, segundo dirigente, o Flamengo tem papel importante no impasse.
“A Forte surgiu no ‘baixo clero’ do qual liderei a vida toda, que são os clubes da Série B. O Campeonato Brasileiro vem de um contrato viciado de distribuição de recursos. Qual é o objetivo de uma liga? É melhorar o futebol brasileiro e equalizar para que todos os clubes tenham mais oportunidades de melhorar o nível do campeonato. Como é que o Inglaterra melhorou o campeonato? Distribuindo melhor o dinheiro porque você terá competitividade e vai ter melhores jogos”, iniciou o dirigente.
“Nós começamos a criar uma comissão para negociar com as pessoas do lado de lá. E a gente passou a perceber que a interlocução não chegava no Flamengo. O Flamengo era rigidamente ‘Eu só aceito isso’. Até que um dia, eles criaram uma situação, e o Flamengo aceitou uma pequena melhora. E eles se deram por satisfeitos com essa melhora. Mas ela era insuficiente e tentaram acertar com a gente. Estava perto, mas o Flamengo falou: ‘Se não for do meu jeito, não tem entendimento’. Isso se estabilizou”.
A aproximação a que Salum se refere tem a ver com a diferença máxima que poderia existir entre o clube que mais arrecada ao que menos fatura no Campeonato Brasileiro. A Libra adaptou seus cálculos para que essa distância não possa ser maior que 3,4 vezes – na conta do Forte, esse valor é de 3,5.
A questão é que a LFF defende que essa política seja implementada já no primeiro ano da liga, enquanto a Libra tem um plano gradativo de cinco anos até chegar na meta.
“Nós queremos é dividir melhor o dinheiro e tirar um pouco o privilégio do Flamengo e do Corinthians. Um pouco, porque eles merecem o privilégio, porque são os maiores do Brasil e têm que ser respeitados. Eles precisam ganhar mais porque têm as maiores torcidas. Dentro disso, nós tentamos várias interlocuções”, reconhece Salum.
O dirigente do América-MG manifestou insatisfação com a forma com que a Libra apresentou sua proposta inicialmente, o que motivou a busca de outros incomodados para a criação do Forte.
“Vem uma coisa pronta da parte de alguns clubes do Brasil dizendo que tinha que manter os mesmos privilégios. ‘Assina, se você quiser; se não quiser, você faz o que você quiser’. Então, vamos organizar para dividir melhor o dinheiro. E aí começou o movimento de vários outros clubes”, disse sobre a LFF.
Diante da resistência de clubes como o Flamengo na aproximação, Salum chegou até a defender uma liga sem a presença dos cariocas, embora saiba da importância em ter, de fato, todos os clubes sob um mesmo projeto para que o campeonato mude de patamar.
“Nós nunca perdemos uma fé na montagem de uma liga de 40 clubes. O farol que nos dirigia era a Liga dos 40. Eu mudo a divisão de direito, mas não mudo o futebol de vendê-lo melhor. Não vai melhorar. Nós vamos continuar com futebol capenga que nós temos no Brasil”.
“Já falei para o pessoal da Federação Paulista para fazer uma liga com 39 ou 38 clubes e deixar o Flamengo de fora. Você acha que alguém que quer faz um acordo não está disposto a ceder? Lógico que está, para o bem do futebol brasileiro. Então, nós estamos em pleno trabalho.”
A Liga Forte Futebol sofreu um forte golpe na última semana, com a saída do Atlético-MG, um dos principais clubes e fundador do bloco, que se aliou à Libra. Por outro lado, equipes como Vasco, Cruzeiro, Botafogo e Coritiba se afastaram da Libra para criar um terceiro grupo, o União, que optou por assinar com os mesmos investidores que estão com a LFF.
“Não tem bloco independente, eles estão assinando igualzinho a gente. Nós temos que autorizar porque os critérios são os mesmos. Não podemos deixar essa guerra continuar a ser uma bobagem. Eu sou amigo demais do presidente do Corinthians, não tem sentido a gente estar em lados diferentes. Ainda temos tempo para descer o bom senso na cabeça de alguns”, encerrou Salum.
Com os clubes do Forte, o América-MG já assinou acordo com os investidores Life Capital Partners e Serengeti Asset Management. O grupo receberá R$ 2,3 bilhões por 20% de todas as receitas comerciais que forem geradas pelos clubes do bloco pelos próximos 50 anos – a equipe de Minas terá direito a R$ 116 milhões.
As equipes da Libra, por sua vez, têm o apoio do grupo Mudabala, que quer comprar 12,5% da participação de cada clube pelos mesmos 50 anos por R$ 1,3 bilhão.